São muitas as mudanças com que os produtores têm convivido nos últimos anos, dentre elas podemos citar: preços de mão-de-obra crescentes, necessidade de maior capital de giro, maior investimento nas lavouras e menor preço do produto. Neste artigo buscaremos mostrar o que o produtor pode fazer "dentro da porteira" para sobreviver às crises de preço, mantendo boa rentabilidade e lavouras produtivas.
No geral percebemos que a falta de gestão é um dos principais problemas dos produtores, tendo em vista, que a grande maioria preocupa-se somente em produzir e desconhecem quanto custa o seu produto, para daí saber até que preço de venda seu negócio será viável. Diante deste fato quando o preço baixa, produtores que podem estar sendo competitivos naquele preço, diminuem os tratos culturais e sua produção baixa.
O custo de produção é um instrumento importante para que o empresário da atividade cafeeira saiba auferir lucro e tenham claro quais são seus gastos. Entretanto, apesar de seu cálculo envolver algumas questões simples, outras são um pouco complexas, razão pela qual seu uso é pouco disseminado entre os produtores rurais. Sendo assim, explicaremos abaixo como é composto o custo de produção, para facilitar o entendimento do leitor.
Renda Bruta: O item renda bruta é composto pelo valor da produção, que é a quantidade de sacas beneficiadas multiplicado pelo preço do café comercializado.
C.O.E - Custo Operacional Efetivo: O custo operacional efetivo pode ser definido como o custo de todos os recursos de produção que exigem desembolso por parte da empresa para sua recomposição. Corresponde apenas aos gastos efetivamente incorridos na condução da atividade, ou seja, apenas aos itens de custo considerados diretos (mão-de-obra, fertilizantes, defensivos, energia, combustível, manutenção, reparos, impostos e taxas, assistência técnica).
C.O.T - Custo Operacional Total: O custo operacional total envolve a soma do C.O.E, o valor da mão-de-obra familiar que, mesmo não sendo remunerada, é imprescindível à condução do empreendimento, e as depreciações, que equivalem a apenas uma parcela dos custos fixos. Do ponto de vista teórico, o custo operacional total define o custo incorrido pelo produtor no curto prazo para produzir e para repor a sua maquinaria e benfeitorias, bem como a própria lavoura, e continuar produzindo.
- O que é a depreciação? A depreciação corresponde a um custo indireto requerido para acumular fundos para substituição do capital investido em bens produtivos de longa duração, inutilizados pela idade, uso e obsolescência. Pode-se dizer que ela: i) representa a perda em valor do capital pelo desgaste físico ocorrido durante o processo produtivo; ii) é um procedimento contábil para distribuir o valor inicial do capital durante sua vida útil produtiva.
- Quais itens são depreciados? Para o caso da atividade "café" são depreciados todos os itens que são utilizados pela atividade, tais como: benfeitorias envolvidas no processo produtivo, máquinas, irrigação, além da própria lavoura, que em determinado momento deverá ser substituída, quando terminar sua vida útil de 10 safras.
C.T - Custo Total: O custo total nada mais é que a soma do C.O.T. com o valor da remuneração do capital imobilizado com a atividade.
- O que é a remuneração do capital? Todo o capital investido na empresa tem um custo de oportunidade, uma vez que seu uso na empresa implica deixar de empregá-lo noutra atividade alternativa. Por definição, o retorno potencial desse capital na melhor alternativa possível de utilização forneceria uma medida desse custo de oportunidade. Como essa estimativa nem sempre é fácil, é expediente comum estimar o custo de oportunidade a partir do retorno que o capital teria se, em vez de aplicado na empresa, fosse investido no mercado financeiro como, por exemplo, na caderneta de poupança.
Tendo explicado como é calculado o custo de produção. Mostraremos no quadro abaixo o custo de produção nas faixas de produtividades de 25, 40, 60, 80 e 100 sc/ha.
Quadro 1: Custo de produção, safra 2008/2009, com faixas de produtividades de 25, 40, 60, 80 e 100 sc/ha
Fonte: Educampo
Para que tenhamos uma analise correta, devemos nos basear pelo custo total, sendo assim, observamos um custo total decrescente à medida que a produtividade se eleva, ou seja com 20 sc/ha temos um C.T. de R$ 210,00/SC, com 40 sc/ha de R$ 165,40/sc, com 60 sc/ha de R$, 138,10/sc, com 80 sc/ha de R$, 117,20/sc, com 100 sc/ha de R$, 104,00/sc.
Observamos então pelo quadro acima, que para se ter altas produtividades o produtor necessita de maior capital de giro por ha, os principais itens onde os investimentos aumentam são a adubação, colheita e pós-colheita, porém por saca o custo diminui consideravelmente. Portanto é ilusório achar que produzir menos é a solução na crise, pois se terá diminuição de renda e maior custo por saca, piorando ainda a situação.
Nas condições de campo, verificamos que 60 sc/ha é uma produtividade possível de ser mantida ao longo dos anos e considerando uma idade média de lavouras. Neste patamar de produtividade estaríamos hoje com lucro nulo ou lucro normal, e implica que a atividade esta cobrindo todos os seus custos, sendo capaz de refazer seu capital fixo no longo prazo e remunerando o capital empatado do produtor.
Podemos dizer que a solução individual de cada produtor é buscar gerenciar sua atividade e buscar melhorar a produtividade para aumentar a renda. Sabemos também que "alguém" terá que produzir menos para que o preço se recupere.
A possível solução coletiva para melhoria dos preços aos produtores, sem essas distorções do capitalismo é a organização da cadeia produtiva, que é um tanto mais complexa, devido ao grande número de produtores e a dispersão geográfica dos mesmos.
Concluimos que a atividade cafeeira está passando por uma readequação, onde produtores com baixa produtividade e custos elevados, fatalmente terão que sair da atividade, como já aconteceu e vem acontecendo.