A primeira previsão da safra cafeeira a ser colhida em 2018 foi divulgada recentemente, gerando algumas criticas sobre a metodologia do levantamento, bem como sobre os números estimados. É oportuno, assim, verificar como se forma a safra, quais os fatores importantes na composição do volume produzido.
Em primeiro lugar, é preciso entender que a lavoura cafeeira - cultura perene – tem sua área pouco alterada a cada ano, diferentemente das culturas anuais, onde as áreas cultivadas podem ser reduzidas ou ampliadas no curto prazo. Nessa condição, as variações da safra de café dependem da variação anual da produtividade dos cafezais.
Por sua vez, esta produtividade depende de fatores ligados a: 1) Planta – variedade, espaçamento, condução; 2) Ambiente – condições do clima e solo; e 3) do Manejo, ou tratos culturais dispensados às lavouras.
Nas lavouras, a produtividade está relacionada ao crescimento dos ramos, seu enfolhamento e sua floração/frutificação. O crescimento dos ramos laterais, estruturando a área produtiva, que resulta no numero de nós para a produção. O enfolhamento da ramagem, de forma simultânea, garante a produção de reservas e o florescimento/frutificação se estabelece nos ramos, com processos de diferenciação das gemas, abotoamento e pegamento dos frutos, os quais resultarão na safra.
Nos cafeeiros, todo esse processo de vegetação e produção ocorre simultaneamente, as plantas crescendo e produzindo ao mesmo tempo, com a preparação da ramagem nova para a produção do ano seguinte acontecendo juntamente com a frutificação daquele ano. Por isso se diz que dois ciclos produtivos se combinam num mesmo ano.
Na cafeicultura brasileira, cultivada a pleno sol, acontece o ciclo bienal de produção bem acentuado. Ao produzir muito, pela boa insolação, as plantas se esgotam, e, assim, crescem pouco, diminuindo muito a produtividade no ano seguinte. Em experimentos onde se controla ciclo de 6-8 safras, é comum uma safra baixa corresponder a apenas 20% da anterior, alta. Desta forma, se estabelece a característica de safras altas alternadas com baixas, as quais na cafeicultura, como um todo, essa bienalidade não se expressa tão fortemente, como em determinada lavoura, já que entre lavouras de uma propriedade, entre propriedades diferentes e entre regiões, existem ciclos desencontrados.
Observando as safras de café estimadas nos últimos 18 anos (ver gráfico abaixo), verifica-se que as safras baixas no Brasil ocorreram entre 29,8 e 49,1 milhões, e as altas entre 39,3 e 56,4 milhões, com diferencial médio de 20% entre elas.
A bienalidade produtiva de nossos cafezais, afetando as safras, influi na oferta, exige estocagem, dificulta politica cafeeira e afeta a renda do produtor. Ao nível do produtor, a bienalidade deve ser observada também na adequação do manejo da lavoura. Até pouco tempo se desejava minimizar o ciclo, mas ultimamente existe tendência de manejar por podas, visando acentuar o ciclo com safra zerada a cada 2 anos, não atenua-lo.
Além do ciclo bienal em que se encontram as lavouras de café, em sua maioria, a formação das safras no Brasil é influenciada pelas condições climáticas, como já citado anteriormente, fator importante na potencialização da produtividade dos cafeeiros. Nesse aspecto, no passado havia forte influência das geadas. Hoje em dia, as deficiências hídricas, associadas a períodos de temperaturas altas, têm sido as principais causadoras de quebras de safras, em determinados anos e regiões. Soma-se a essa condição macro o nível de trato dispensado às lavouras, função do balanço preço do café/custo de produção do produto.