As fêmeas adultas desse inseto apresentam o corpo ovalado, coloração rosada e revestido por uma camada cerosa branca. Possuem 34 apêndices filamentosos ao redor do corpo (17 de cada lado), sendo os dois posteriores mais longos.
Sua reprodução é feita por partenogênese, ou seja, as fêmeas adultas colocam ovos férteis sem serem copuladas. Após 60 minutos, eclodem as formas jovens denominadas de ninfas, que aumentam de tamanho, à medida que se alimentam da seiva na raiz do cafeeiro. Após 40 dias da fase de ninfa, transformam-se em cochonilhas adultas, de tamanho maior, podendo viver por aproximadamente mais 60 dias. Assim, o seu ciclo completo é de cerca de 100 dias e em uma mesma colônia são encontradas ninfas e adultos. As temperaturas médias favoráveis ao desenvolvimento deste inseto são de 20 a 25º C, sendo observado cinco gerações por ano.
Figura 1: Fêmeas de duas espécies de cochonilhas associadas a raiz do cafeeiro.
Os sintomas aparecem em reboleiras, no período seco do ano. No início da infestação pequenas colônias desta cochonilha podem ser observadas na raiz principal do cafeeiro, logo abaixo do colo da planta. Com o passar do tempo, o inseto vai multiplicando, invadindo outras raízes do cafeeiro. As plantas atacadas ficam com o seu sistema radicular comprometido, amarelecem e morrem com o passar do tempo.
Durante a sucção da seiva, um líquido açucarado é excretado pelo inseto e escorre pelas raízes propiciando um substrato para o desenvolvimento de um fungo do gênero Bornetina que vai envolvendo as raízes com o seu micélio, num envoltório coriáceo, a princípio amarelado, e depois pardo-escuro. O envoltório forma uma cripta ou "pipoca" ou nodosidade sobre a colônia. A sucessão de criptas nas raízes serve para alojar as formas jovens (ninfas) e adultas deste inseto.
Figura 2:Criptas (ou pipocas) produzidas por Dysmicoccus cryptus na raiz do cafeeiro
O líquido açucarado também serve de atrativo para colônias de formigas, que entram em simbiose com as cochonilhas, muitas vezes protegendo-as com terra, e carregando-as de um lado para outro, facilitando sua disseminação para outras plantas na lavoura.
Os maiores prejuízos são observados em cafeeiros com idade inferior a cinco anos, pois as plantas adultas, embora infestadas, resistem bem ao ataque desta praga. Isto é de grande importância no manejo, uma vez que plantas adultas infestada nas lavouras servem de "foco de infestação" para disseminação da praga para as novas áreas de plantio, talhões adjacentes ou em plantios "com dobra" (plantio de uma nova linha no meio de duas com cafeeiros adultos).
Além do cafeeiro, a cochonilha-da-raiz pode infestar plantas frutíferas, entre elas a bananeira. A utilização de plantios de bananeira consorciados com cafeeiros ou como quebra-ventos em linhas em lavouras de café, pode servir de foco de infestação na cultura do cafeeiro. Embora em lavouras de café infestadas a cochonilha possa ser observada em algumas espécies de plantas daninhas nas ruas dos cafeeiros, a cochonilha-da-raiz não as tem como hospedeiros preferidos.
Outra espécie de cochonilha que ataca as raízes do cafeeiro é a Dysmicoccus brevipes (também conhecida como cochonilha do abacaxi). Sua ocorrência é menos freqüente nas lavouras e pode ser encontrada nas rosetas de ramos baixeiros que estão em contato com o chão. Ao contrário da espécie anterior, não causa queda de frutos ou destruição das raízes. Também não causa "pipocas" nas raízes, devendo o cafeicultor ficar atento para diagnosticar sua ocorrência.
Monitoramento
A partir dos três meses após o plantio, inspeções periódicas devem ser realizadas nas lavouras para que os focos sejam identificados no início de sua infestação, ocasião em que devem ser adotadas medidas de controle.
Para tanto deve-se identificar as reboleiras no campo e examinar a presença de colônias de cochonilhas na raiz principal, logo abaixo do colo, das plantas que apresentam sintomas de amarelecimento das folhas. A presença de formigas nas plantas pode ser um indicativo de ocorrência da cochonilha.
Escavando-se junto e um pouco abaixo do colo da planta, com uma faca, canivete ou facão, pode-se observar a(s) colônia(s) formada(s) por insetos de coloração rosada (ninfas e adultos), revestidos por uma camada de secreção cerosa branca, que lhes dá o aspecto de haverem sido envolvidos em farinha. Uma vez constatada sua presença, deve-se proceder o seu controle químico.
Controle químico da cochonilha-da-raiz
O controle dessa cochonilha é realizado por meio da aplicação de inseticidas sistêmicos, em formulações líquidas ou granulados, aplicados por via solo na projeção da copa do cafeeiro. Apenas dois inseticidas estão registrados especificamente para o controle da cochonilha da raiz no cafeeiro. Ambos os produtos a base de dissulfoton na formulação granulada. Esses produtos devem ser aplicados em sulcos, na projeção da copa da planta, em ambos os lados da cova.
Entretanto resultados de pesquisa científica vem mostrando que outros princípios ativos (registrados para o controle de outras pragas do cafeeiro), apresentam efeito sobre a cochonilha da raiz. Entre eles destacam-se o imidacloprid 700 GrDA e thiamethoxam 250 WG aplicados em jato dirigido ao colo das plantas atacadas, com 100% de controle, matando tanto as ninfas quanto os adultos.
Nas lavouras, se detectar a ocorrência de cochonilha-da-raiz nas reboleiras o inseticida pode ser aplicado somente nestas plantas. As plantas em volta também podem receber aplicações de inseticidas. O ideal seria aplicá-los em todas as plantas da lavoura. A primeira aplicação deve-se iniciar em outubro ou novembro (início das chuvas), e em alguns casos, dependendo do inseticida, outra aplicação poderá ser necessária em janeiro.
Bibliografia consultada
SOUZA, J.C.; REIS, P.R; SANTA-CECÍLIA, L.V.C.; DAUN, S.C.; SOUZA, M.A. Cochonilha-da-raiz do cafeeiro: aspectos biológicos, dano e controle. EPAMIG: Circular Técnica nº 136, mês 8, ano 2001.
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MOREIRA, M.D.; FERNANDES, F.L.; PICANÇO, M.P.; FERNANDES, M.E.S.; BACCI, L.; MARTINS, J.C.; COUTINHO, D.C. Características rastreáveis do manejo integrado de pragas do cafeeiro. In: ZAMBOLIM, L. (Ed.) Rastreabilidade para a Cadeia Produtiva do Café. Viçosa: Departamento de Fitopatologia, UFV. 2007. pp.173-219.