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Café orgânico ou modelo sustentável de produção de café?

VÁRIOS AUTORES

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 11/12/2006

7 MIN DE LEITURA

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A produção de alimentos orgânicos está se tornando uma alternativa tecnológica e econômica concreta para os agricultores, em função das demandas dos mercados nacional e internacional, resultantes da conscientização mundial sobre a importância da preservação do meio ambiente.

É importante destacar que a agricultura orgânica não é apenas uma agricultura sem utilização de produtos químicos, mas sim o resultado de um sistema de produção agrícola que busca o manejo equilibrado do solo e demais recursos naturais, visando sua conservação no longo prazo e harmonização desses recursos entre si e com os seres humanos. Para alguns autores, a verdadeira agricultura orgânica é marcada pelo uso de práticas inovadoras e complexas, voltadas à maior integração interna dos sistemas de produção da propriedade, que passa a ser compreendida como um organismo, e não simplesmente pela rejeição de técnicas químico-mecânicas.

O mercado brasileiro de agricultura orgânica tem crescido de 30 a 50% ao ano, movimentando hoje em torno de US$ 300 milhões. Na Europa, Estados Unidos e Japão este mercado tem crescido cerca de 25% ao ano e estima-se que hoje tenha alcançado cerca de 15% do consumo total de alimentos.

A cafeicultura orgânica tem sido impulsionada por consumidores conscientes, não só quanto a questões relacionadas à saúde, mas também preocupados com questões de caráter social e ambiental, associados à imagem de um mercado ético, solidário e justo (Fairtrade) para o café orgânico.

Os principais países produtores de café orgânico são México, Peru, Costa Rica, Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Brasil e Colômbia. O México foi o primeiro país a apresentar ao mercado um café certificado como orgânico e destaca-se como maior produtor mundial, com produção média anual em torno de 450 mil sacas de 60kg de café orgânico beneficiado.

Não há estatísticas precisas sobre a produção brasileira de café orgânico. Para alguns representantes do setor ela se encontra entre 200 e 250 mil sacas, embora esse valor possa estar superestimado. Desse volume estima-se que cerca de 20% sejam destinados ao mercado interno e 80% ao mercado internacional, principalmente para os Estados Unidos, Alemanha e Japão.

O Centro Internacional do Comércio estimou o consumo de café orgânico nos principais países consumidores em 720.000 sacas (43.200 toneladas), em 2002/03, fazendo desse sistema de certificação de café o mais significante em termos de venda. Ele estima que a produção mundial de café orgânico em 2001/02 tenha sido de 800.000 sacas (48.000 toneladas), indicando uma super oferta.

Alguns produtores têm recebido prêmios, os quais mais do que compensam o custo adicional envolvido na certificação e, em alguns casos, baixa produtividade, mas há uma tendência dos preços declinarem com a expansão da oferta.

No Brasil, o café orgânico tem sido considerado uma alternativa para viabilizar principalmente a pequena propriedade, incentivando o desenvolvimento da agricultura familiar. No entanto, há muitas informações contraditórias sobre o desempenho técnico-econômico real dessa atividade.

Enquanto alguns estudos mostram redução nos custos de produção, alta rentabilidade e preços bastante atraentes, outros estudos, alguns produtores e engenheiros agrônomos especialistas em cafeicultura têm apontado grande dificuldade na colocação do café orgânico no mercado a preço diferenciado, além dos custos elevados da certificação e menor produtividade quando comparado ao sistema de produção convencional.

Paralelamente à cafeicultura orgânica, os produtores têm como alternativa a adoção de um modelo sustentável de produção de café, quanto aos aspectos ambiental, social e econômico, porém sem os preceitos dogmáticos do café orgânico.

Em função desse cenário, o Centro de Café do Instituto Agronômico analisou a viabilidade da produção do café orgânico como alternativa para geração de renda ao cafeicultor. Para isso utilizou-se a Técnica Delphi, que consiste na circulação repetida de questionários entre um conjunto de especialistas anônimos entre si.

Foram analisados três tópicos relacionados à produção do café orgânico no Estado:

(1) A produção de café orgânico como alternativa para geração de renda ao cafeicultor;

(2) Os principais entraves à produção do café orgânico; e

(3) A priorização das atividades de pesquisa das Instituições de P&D entre o estudo da produção de café orgânico e a definição de um modelo sustentável de produção de café, quanto aos aspectos ambiental, social e econômico, sem os preceitos dogmáticos do café orgânico.

Dos 81 especialistas que participaram do estudo, 70,4% indicaram que a produção de café orgânico é uma alternativa importante para a geração de renda ao cafeicultor.

Dentre os principais fatores considerados como entraves à produção do café orgânico, os mais relevantes foram:

(1) Custo elevado da certificação (22,4%);

(2) Menor produtividade da lavoura (19,4%); e

(3) Sistema de manejo viável apenas para pequenas propriedades (15,2%).

Considerando-se alguns aspectos da cafeicultura orgânica no Brasil, ressalta-se que esses principais entraves à sua produção já podem ser, ao menos em parte, minimizados:

(1) Quanto ao custo elevado da certificação, será possível diluí-lo ao longo da cadeia produtiva ou então reduzi-lo, mediante certificação coletiva, através de associações de produtores;

(2) Quanto à menor produtividade, esta pode ser compensada pela maior rentabilidade e maior valor agregado do café orgânico, que pode receber um preço diferenciado, com prêmios ou ágios que variam de 30 a 100% acima do preço do café convencional, dependendo do comprador e da qualidade do produto; além disso, o uso de técnicas agronômicas pode, no longo prazo, proporcionar aumento gradativo de produtividade, possibilitando o retorno aos patamares iniciais de produtividade; e

(3) Quanto à viabilidade apenas para pequenas propriedades, há exemplos de produtores que exportam até 1.800 sacas de café orgânico beneficiado por ano, explorando áreas de 80 a 100 ha.

Com relação à priorização de atividades de pesquisa, 75,3 % dos especialistas consideram que as instituições de pesquisa deverão concentrar suas atividades na definição de um modelo sustentável de produção de café, quanto aos aspectos ambiental, social e econômico, sem os preceitos dogmáticos do café orgânico.

Os resultados do estudo reforçam a preocupação dos envolvidos na cadeia produtiva do café quanto às questões relacionadas com a sustentabilidade da produção.

A maioria dos especialistas concorda que o modelo adotado para o desenvolvimento da cafeicultura e, em especial no Estado de São Paulo, está desgastado, sugerindo que deverão ocorrer mudanças, visando a obtenção de um modelo sustentável para produção de café, que priorize aspectos ambientais, sociais e econômicos, tendo em vista o aumento da competitividade da cafeicultura brasileira frente à de outros países, principalmente latino-americanos, os quais já adotam modelos sustentáveis de produção.

Em síntese, percebe-se que:

(1) Há carência de pesquisa científica e tecnológica e de informações técnicas apropriadas para sistemas agroecológicos de produção de café, que contribuam para o aumento da competitividade da cafeicultura (menor custo de produção, maior produtividade e melhor qualidade);

(2) Os sistemas orgânicos de produção são ainda pouco conhecidos e compreendidos pela maioria das pessoas envolvidas na cadeia produtiva do café e as avaliações quanto ao potencial produtivo e custo de produção de café orgânico são incipientes, levando a abordagens equivocadas sobre o conceito de orgânico;

(3) Paralelamente à cafeicultura orgânica, há espaço para o desenvolvimento de uma cafeicultura mais racional e sustentável do ponto de vista ambiental, social e econômico, que possa nortear a cafeicultura como um todo;

(4) Independentemente do sistema de produção, a obtenção de cafés de boa qualidade constitui-se numa alternativa importante para a agregação de valor e geração de renda para o cafeicultor, sendo requisito fundamental para a conquista de mercados de produtos diferenciados;

(5) É importante que as Instituições de Pesquisa concentrem parte de suas atividades na definição de um modelo sustentável de produção de café, atendendo às necessidades de diferentes sistemas de produção que revelem aspectos ligados às questões ambiental, social e econômica, qualquer que seja a sua denominação: orgânico, ecológico, racional, integrado.

Bibliografia consultada:

CAIXETA, I; PEDINI, S. Comercialização de café orgânico. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, n.214/215, p.149-152, 2002a.

CAIXETA, I; PEDINI, S. Cafeicultura orgânica: conceitos e princípios. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, n.214/215, p.15-20, 2002b.

Consumers International; International Institute for Environment and Development. (Org.). From bean to cup: how consumer choice impacts upon coffee producers and the environment. Consumers International, London, 2005.

CUNHA, R. L. C.; ALVARENGA, M. I. N. Desenvolvimento e produtividade do cafeeiro orgânico. In III Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil. ANAIS ... Porto Seguro, maio de 2003, p.406.

DAROLT, M. R. Café: o futuro passa pela produção orgânica. www.planetaorganico.com.br/cafespdar.htm, 18/08/2004

FRANCO, L. Gazeta Mercantil. Notícia: produção de café orgânico quadruplica. 02/12/2003.https://www.megaagro.com.br/noticias

HARKALY, A. H.; CARMO, M. S.; MAGALHÃES, M. M.; PIMENTA, S. Os contornos econômicos do café orgânico brasileiro. Agricultura Biodinâmica, Ano 14, n.79, p.6-14, 1997.

Informe Agropecuário. Análise agroeconômica do café cultivado organicamente. Adaptação da Organização Intenacional do Café, Londres, 1997. 19p. IA, Belo Horizonte, n.214/215, p.7-13, 2002.

KISS, J. Terra em transe. Globo Rural, São Paulo, n.223, maio de 2004, p.34-41.

ORMOND, J. G. P.; PAULA, S. R. L.; FAVERET FILHO, P.; ROCHA, L. T. M. Agricultura orgânica: quando o passado é futuro. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n.15, março de 2002. 32p.

PLANETA ORGÂNICO. Saiba Mais Sobre Orgânico: O que é um produto orgânico? https://www.planetaorganico.com.br 24/01/2005.

SARCINELLI, O.; ORTEGA, E. Análise energética e contábil da produção de café agroquímico e agroecológico no nordeste do Estado de São Paulo. In: IV Biennal International Workshop Advances in Energy Studies, Ecology-Energy Issues in Latin-America. Campinas, UNICAMP, 16-19 de junho de 2004. https://www.fea.unicamp.br/energy

Artigo resultante de estudo realizado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP

SERGIO PARREIRAS PEREIRA

Agrônomo - Mestre em Fitotecnia - Pesquisador Cientifico do IAC - Centro de Café - Mediador da Comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira no PEABIRUS - Doutorando da Universidade Federal de Lavras - UFLA - Coordenador do Núcleo de Manejo do CBP&D/Café

ARTUR BATISTA DE OLIVEIRA ROCHA

FLÁVIA MARIA DE MELLO BLISKA

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FERNANDO SORDI TAVEIRA

FRANCA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 30/07/2007

Caros colegas,

Fico muito feliz em verificar que é cada dia maior o debate em torno da cafeicultura sustentável, sendo ela orgânica ou não.

Ainda me lembro que há poucos anos atrás os produtores de café orgânicos eram considerados loucos e ideológicos, e hoje, são profissionais que merecem respeito, visto que vários centros agronômicos de pesquisa estão se interessando pelo tema, começando já a mostrar resultados, como a efetivação do programa de Produção Integrada de Café (PIC), entre outros.

Sei que a caminhada ainda é grande para alcançarmos o sucesso, mas sem os primeiros passos nunca chegaremos lá e, estes, já foram dados!

Parabéns à todos.

Fernando Sordi Taveira
Engenheiro Agrônomo e produtor de café agroecológico.
Franca-SP
FLÁVIA M.V.T.CLEMENTE

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - PESQUISA/ENSINO

EM 12/12/2006

Embora haja uma grande deficiência por parte da pesquisa em café orgânico, gostaria de comentar que, mesmo sob muitas dificuldades, a cafeicultura orgânica vem conquistando espaços estratégicos tanto na produtividade como também sob o ponto de vista comercial, inclusive em regiões que não possuem tradição na produção de café no Brasil, como é o caso do Distrito Federal.

São propriedades tecnificadas em que o café orgânico mostra sua expressividade na geração de renda, diversificação de cultivo e cordão de isolamento. Preenchendo de forma técnica e econômica seu espaço. Este é um dos trabalhos realizados pelo CDTorg (Centro de Desenvolvimento de Tecnologia em Agricultura Orgânica), que tem por objetivo o apoio técnico a produtores orgânicos no DF.

Flávia Clemente
Fitotecnista, M.Sc.
Embrapa

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