A broca-do-café Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera:Scolytidae) é a segunda praga em importância na cafeicultura brasileira (Fig.1). A primeira é o bicho-mineiro Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrot, 1842 (Lepidoptera:Lyonetiidae). A broca só ataca os frutos do cafeeiro. O inseto foi constatado pela primeira vez no Brasil em 1913, na região de Campinas. Sua origem é o Continente Africano. A partir de Campinas, a broca dispersou-se por toda a cafeicultura brasileira. Jamais será erradicada de nossas lavouras de café.
Figura 1 - Adulto fêmea da broca-do-café
A broca H. Hampei causa prejuízos quantitativos e qualitativos ao café produzido. Os prejuízos quantitativos são a perda de peso de 20% do café beneficiado anteriormente atacado na lavoura, por suas larvas (Fig. 2). Assim, 100% de infestação (máxima), as perdas são de 12 Kg em cada saca de café beneficiado (60 Kg).
Figura 2 - Larva da broca-do-café
Outro prejuízo é no tipo de café produzido, já que 2 a 5 sementes broqueadas constituem um defeito. Assim, quanto mais broca ocorrer no café beneficiado atacado anteriormente na lavoura, maior será o número de defeitos e menor será sua cotação (Fig.3).
Figura 3 - Café beneficiado broqueado pelas larvas da praga
Monitoramento e controle químico
O correto controle do inseto resulta de seu monitoramento talhão por talhão, com a utilização de uma planilha específica, como a da Epamig, que é preenchida na lavoura, sendo uma para cada talhão, em sua "época de trânsito", que inicia-se anualmente no período de novembro a janeiro, 90 dias após a maior florada. O monitoramento da broca deve ser mensal, até março. Os dados da planilha através da observação nos cafeeiros de frutos broqueados e frutos sadios, permitem calcular a porcentagem de frutos broqueados, talhão por talhão. Se o resultado for de 3 a 5% de frutos broqueados, o cafeicultor fará uma única pulverização em cobertura total dos cafeeiros com pulverizador tratorizado, na dosagem de 2,0 L de endosulfan 350 CE /ha para lavouras com estandes de até 3500 plantas/ha.
Para estandes maiores, como por exemplo, 4000 a 5500 plantas/ha, aumentar a dosagem para 2,5 L p.c./ha, numa só pulverização. Em lavouras implantadas em topografia acidentada, pode-se usar o atomizador tipo canhão, que não apresenta muita eficiência já que deposita as gotas por gravidade, porém é o único recurso que o cafeicultor dispõe já que a aplicação de endosulfan com pulverizador costal manual e atomizador costal motorizado está proibida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Ainda, o inseticida endosulfan poderá ser utilizado na cafeicultura e em outras culturas para as quais está registrado até julho de 2013. Até lá, um novo inseticida, do grupo das Diamidas Antranílicas, de classe toxicológica III - tarja azul, de baixa toxicidade, ainda em pesquisa será registrado no Brasil para substituir o padrão endosulfan.
Importância do monitoramento da broca
O monitoramento da broca, a cada ano, é muito importante já que sua infestação varia a cada safra. Ex.: Na safra de café de 2010, as infestações da broca nas lavouras, em nível de controle químico, foram maiores, devido a ocorrência de chuvas atípicas na safra de 2009 que a favoreceram em sobrevivência e multiplicação, pela maior umidade dos frutos secos remanescentes (não colhidos). Já na safra de café a ser colhido em 2011, devido a entressafra de 2010 ter sido muito seca, sem chuvas, o que normalmente acontece, a broca pouco sobreviveu e se multiplicou nos frutos secos remanescentes, resultando em insignificantes infestações dela em toda cafeicultura brasileira, praticamente dispensando-se no seu controle químico com endosulfan. Para a safra de 2012, se a entressafra de 2011 for seca, sua infestação nas lavouras será novamente baixa, sendo uma ótima notícia para os cafeicultores brasileiros.
Sintomas do ataque e época de controle da broca nas lavouras
Através da constatação de frutos perfurados por esse inseto na região da coroa, no período de novembro a janeiro (Fig.4).
O correto controle da broca é em sua "época de trânsito", ou seja, quando seus adultos fêmeas abandonam os frutos secos não colhidos, nos cafeeiros e no chão, onde se criaram e se multiplicaram na entressafra, e procuram frutos chumbões verdes para perfurá-los na região da coroa (Fig.5).
Nesses frutos, que apresentam 86,0% de umidade, inclusive suas sementes, a broca fêmea adulta apenas os perfura, sem colocar ovos, portanto, sem causar prejuízos, já que sementes aquosas não são alimento ideal para as suas larvas, só o fazendo posteriormente, quando os frutos apresentam menor umidade, de 70 a 80%, e sementes já com certa consistência, aí sim, alimento ideal para as suas larvas. Assim, os prejuízos são causados pelas larvas da broca, que comem as sementes, danificando-as. Os adultos, não se alimentam, já que dispõem de energia acumulada em seu corpo. Sua única função é reprodutiva.
Após a sua "época de trânsito", a partir do mês de março, as fêmeas adultas da broca perfuram frutos verdes chumbões, verdes cana, cerejas, passas e secos, logo ovipositando neles. Assim, o controle químico da broca deve ser realizado em sua "época de trânsito", visando matá-la nos frutos verdes chumbões aquosos, por ela perfurados, para evitar que ovipositem posteriormente e causem prejuízos pela ocorrência de seus ciclos evolutivos (Fig.6).
Figura 6 - Ciclo evolutivo da broca-do-café com suas fases
Aplicação racional do inseticida endosulfan
O maior erro dos cafeicultores é aplicar o inseticida endosulfan indiscriminadamente, sem nenhum monitoramento, no controle da broca, em toda a lavoura, já que eles tem muito medo dela, sem razão, por não conhecê-la em detalhes. Ainda, aplicam em todas as lavouras já que o preço do endosulfan, atualmente, é muito baixo. Assim, devem os cafeicultores monitorarem a broca todos os anos, até março, a fim de aplicar racionalmente o endosulfan em suas lavouras, onde realmente for preciso, em nível de talhões, para evitar poluição ambiental.
O controle da broca na cafeicultura brasileira é simples e eficiente através do monitoramento. Assim, torna-se importante o produtor conhecê-la em detalhes para controlá-la com eficiência e racionalmente, já que o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, sendo que os nossos compradores rejeitam cafés broqueados. Ainda, nas lavouras certificadas, o inseticida endosulfan tem restrições de uso, pela sua toxicidade, daí a importância do monitoramento, para aplicá-lo, excepcionalmente, somente onde for necessário.