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Até breve!

POR ORLANDO CARLOS EDITORE

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 31/01/2007

6 MIN DE LEITURA

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Infelizmente tenho que deixar este espaço, ainda que seja por algum tempo. Outras obrigações têm demandado minha atenção. Espero, em algum momento, poder voltar, ainda que seja com uma contribuição esporádica.

Quando fui convidado a escrever sobre Gestão de Cooperativas, não pensei em finanças, marketing, comercialização, produção, recursos humanos, etc. São preocupações importantes e temos grandes colaboradores nestes temas. Desde o início me dediquei às questões que distinguem e/ou caracterizam as cooperativas, ou seja, as questões próprias do sistema.

Se assim comecei, assim vou terminar.

Neste artigo quero, portanto, colocar alguns temas para reflexão, algumas opiniões e ao final, destacar um tema que eu julgo como o mais importante para o fortalecimento do sistema, que é a questão da capitalização.

Quero começar partindo do quadro associativo. Os produtores, cooperados, na sua maioria, não conhecem o modelo, suas responsabilidades, suas obrigações e seus direitos. A culpa é das cooperativas que, para comodismo de seus dirigentes, não investem na formação dos cooperados.

Como conseqüência, as assembléias gerais contam com participação inexpressiva dos associados, não discutem os temas com profundidade, aprovam contas sem saber o que estão fazendo e finalmente, não estão preparados para exercer sua atribuição mais importante, que é a eleição dos membros dos conselhos de administração e fiscal. Fica uma sugestão. Além do investimento em educação cooperativista, será que as assembléias não deveriam exigir um quorum mínimo para deliberar sobre assuntos específicos? Por exemplo, 50% mais um no caso das eleições e aprovação de contas? Outra sugestão muito importante é que todas as votações das assembléias deveriam ter o voto secreto.

Em seguida vem o conselho de administração. Como conseqüência das observações anteriores, os conselhos são, muitas vezes, pouco capacitados para a gestão das cooperativas. Outro ponto polêmico é a perpetuação de membros nos conselhos. Alguns a defendem. Eu também já defendi. Hoje eu acho que a renovação é mais saudável, pois vai induzir, obrigatoriamente, à profissionalização. A lei exige a renovação de 1/3 dos membros. Será que não deveria exigir também, que o máximo fosse de 2 mandatos?

Na mesma seqüência, temos o conselho fiscal. A importância deste órgão de administração é muito grande, entretanto, a maioria das cooperativas forma estes conselhos visando atender interesses políticos do presidente do conselho de administração, com pessoas despreparadas para o cargo. Uma mudança importante seria a obrigatoriedade dos conselhos fiscais serem apoiados por auditores independentes e o parecer do conselho fiscal ser feito juntamente com estes auditores que passariam a ter a mesma responsabilidade deste conselho. Na prática, seria atribuir ao conselho fiscal a responsabilidade de contratar os auditores externos, cuja atribuição hoje é do conselho de administração.

Aproveitando que toquei no tema da auditoria, deveríamos adotar nas cooperativas a mesma prática das sociedades anônimas, trocando os auditores a cada 5 anos. Não quero entrar no mérito da qualificação destes auditores, mas alguns que conheci eram totalmente incompetentes e muitos coniventes com más administrações.

Antes de prosseguir, quero voltar ao tema do conselho de administração. Por que não permitir e/ou exigir, que 1/3 do conselho seja composto de não cooperados, escolhidos pelos 2/3 do conselho, entre pessoas de ilibada reputação e competência? Hoje a lei não permite, mas porque as cooperativas não formam conselhos consultivos com este perfil para auxiliar na administração?

Correndo na mesma direção, mais uma vez devo comentar a questão da profissionalização da gestão. Não vou me estender, mas ou profissionalizamos as cooperativas ou continuamos sendo este sistema frágil.

Ética e transparência na gestão

Não conheço nenhuma cooperativa que tenha um código de ética. Já comentei sobre este tema nesta coluna e insisto, pois é essencial. A gestão muitas vezes não é clara, não é transparente e freqüentemente pode ser questionada quanto aos padrões éticos. Vou citar alguns pontos polêmicos - uso do estoque de produto dos associados, livremente, o que não é ilegal, mas na maioria das vezes, é o buraco que leva a cooperativa à falência; salários e benefícios de diretores e funcionários, uso de bens e serviços da cooperativa, relações muitas vezes conflitantes com bancos, corretores, clientes, fornecedores e governo, as operações do cooperado/diretor e do cooperado/funcionário, concessão de crédito, cobrança, preços pagos aos produtores, contratações, etc.

Distribuição de sobras

Mais um ponto essencial. Primeiro a apuração dos lucros por atividade que deve ser clara. Cabe aos membros do conselho fiscal e aos auditores examinar. Em seguida a repartição proporcional e finalmente a distribuição. Neste ponto gostaria de sugerir que se adote a distribuição mínima obrigatória, em dinheiro, de 25% das sobras a exemplo das sociedades anônimas. Outra medida seria a obrigatoriedade de pagamento pelo associado da sua parcela nas perdas, por atividade. Esta obrigatoriedade está prevista na lei, mas não funciona. O dia em que o cooperado pagar pela perda, ou ele deixa de ser cooperado ou passa a fiscalizar a cooperativa com maior rigor.

Foco/desvios

É impressionante a capacidade que têm as cooperativas de fazer coisas que não tem nada a ver com sua existência. Um bom exemplo é o dinheiro que gastam sem avaliar o retorno, por exemplo, em operar posto de gasolina, supermercado, vendendo roupas, viagens para participar de eventos sem nenhum objetivo, etc. A resposta para isto e também para muitos outros problemas do sistema é que as cooperativas não têm dono, os cooperados não participam, a maioria não distribui lucros e nenhuma cobra perdas.

Sem me alongar em outros temas já que estes que apontei são aqueles que reputo como os mais importantes, quero finalizar tratando da questão da capitalização.

Capitalização

Desde o primeiro artigo eu trago este tema à discussão. Como já disse, meu foco sempre foi as cooperativas de produção. Muitas das minhas observações e inquietudes, podem servir para as demais formas de cooperativismo. Esta, da capitalização, sem dúvida é vital para as cooperativas de produção e, em muitas medidas, para as de crédito também.

A capacidade de capitalização, seja com recursos dos sócios (capital), seja com recursos de terceiros (dívida) é um dos principais fatores que reduzem a capacidade de competição de uma cooperativa.

Por definição a cooperativa é uma sociedade de pessoas e não de capital. Isto impede a distribuição de benefícios ao capital dos associados. Assim, não há nenhum incentivo a que o cooperado coloque capital na sua cooperativa.

Assim, as cooperativas não têm acesso ao capital dos sócios, não lançam títulos de dívida no mercado interno ou externo, não recebem recursos de fundos de investimento, pensão e outros, não podem abrir seu capital em bolsas, não se associam entre si, não se associam a outras empresas, não têm nenhum acesso aos instrumentos financeiros a que podem recorrer todas as outras empresas.

A conseqüência disto é que as cooperativas são, na sua maioria, descapitalizadas, dependem apenas de financiamentos, pagando juros extorsivos, já que a maioria delas não tem qualquer poder de gestão ou barganha. Excetuando aquelas poucas cooperativas que contam com recursos subsidiados pela sociedade, a maioria está fadada ao fracasso, insolvência ou, na melhor das hipóteses, à mesmice.

Sobra dinheiro no mundo e as cooperativas permanecem de pires na mão atrás do governo, pedindo subsídios, linhas de crédito específicas, benefícios tributários, etc.

Existem alternativas. As melhores cooperativas estão agindo e encontrando soluções para todos estes problemas. O mundo inteiro se debruça sobre estas questões. Temos que agir e depende de nós, dirigentes de cooperativas, insatisfeitos com a situação atual e que querem mudar, membros da academia, políticos, agentes financeiros e principalmente os agropecuaristas que devem ser os maiores interessados na evolução do sistema.

A revolução do cooperativismo está no capital. Olhem ao redor. Inquietem-se, se desejam construir um futuro promissor.

Meus amigos. Alguns de vocês tiveram a paciência de me ler e eu agradeço. Espero ter contribuído um pouco para o desenvolvimento do cooperativismo, modelo em que tanto acredito. Aos jovens empreendedores do CaféPoint, meu muito obrigado, esperando deixar a porta aberta para, um dia, poder voltar.

A todos, minhas cordiais saudações cooperativistas e, até breve.

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PAULO V VECCHI

RIBEIRÃO PRETO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 06/02/2007

Orlando,

Parabéns pela excelente abordagem de temas tão relevantes.

Abraços,

Paulo V Vecchi
ANTONIO DE PADUA NACIF

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 05/02/2007

Caro Amigo,

As suas contribuições para o setor cooperativista sempre foram da mais alta qualidade e esta não destoa em nada de sua enorme competência. Já armazenei, para ter sempre às maõs, as suas indicaçoes.

Lamento seu afastamento do seio do cooperativismo, especialmente do café, e espero seu retorno, por certo mais enriquecido com as experiências desse seu novo desafio empresarial.

Obrigado por todas as demais lições que me passou e meus melhores votos de grande sucesso.

Um abraço,

Nacif
MARCELO MARTINS

VARGINHA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/02/2007

Orlando,

Vamos sentir sua falta.

Você esteve aqui na cooperativa de Varginha e não consegimos criar a Global, uma pena.

Concordo com tudo que você pensa e diz sobre cooperativismo. Ficou apenas uma dúvida: por que não transformarmos o capital dos cooperados em uma previdencia privada?

Assim, após 60 anos, o cooperado poderia tirar uma % do seu capital todo mês, de uma maneira tal, que não comprometesse a saude da cooperativa.Seria muito educativo e o cooperado entenderia o que é fidelidade, pelo bolso.

Muito pelo contrário, acho que a cooperativa se capitalizaria tal o interesse do cooperado em ter sua aposentadoria. Não vejo outra forma do cooperativismo sobreviver. Sei que não é função da cooperativa distribuir sobras, mas ,mas ...

Hoje estou descrente do cooperativismo. Se alguma coisa não for feita, pra mim morreu.

Não sei pra onde você vai, mas te desejo boa sorte.

Um abraço, e voce fica me devendo explicações sobre o que te perguntei acima.
WANDERLEY CINTRA FERREIRA

FRANCA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/02/2007

Caro Orlando,

Acredito que os cooperados sabem quais são os seus direitos e obrigações, porém, já está embutido na sua cultura aquele ditado " A Cooperativa tem que vender os insumos pelo menor preço, adquirir a sua produção pelo maior preço do mercado e distribuir lucro na Assembléia."

Os cooperados não discutem temas prioritários e aprovam as contas sem saber, pois, na maioria das vezes, recebem estas contas e relatórios na hora da Assembléia, portanto, sem condições de analisá-las.

A obrigatoriedadedo do voto secreto seria muito importante, para que o cooperado pudesse expressar a sua vontade, sem constrangimentos.

A perpetuação de membros nos Conselhos e até mesmo de diretores, impedindo a renovação, faz parte da herança sindical rural, onde os Presidentes se perpetuam no cargo, a exemplo do Presidente da FAESP, que já ocupa a Presidencia há mais de 30 anos.

Quanto aos Auditores Independentes seria importante a sua contratação pelo Conselho Fiscal e pareceres em conjunto, mostrando a realidade da empresa e perspectivas para o futuro, não apresentando aquela "chapinha irritante" dos Auditores Independentes: - " em nossa opinião as demonstrações contabeis, apresentam, adequadamente, a posição patrimonial e financeira, de acordo com a praticas contabeis legais."

A implementação da maioria de suas sugestões , facilitaria, em muito, a capitalização das cooperativas, pois, a sua Administração teria a confiança e credibilidade necessárias para convencimento do cooperados numa chamada de capital.

Receba um forte abraço e que o seu "Até breve" seja realmente, um "Até breve".

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