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Análise dos custos de produção de café arábica e robusta no Estado da Bahia

POR FLÁVIA MARIA DE MELLO BLISKA

E CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 15/12/2009

2 MIN DE LEITURA

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A análise dos custos de produção da cafeicultura do Estado da Bahia indicou que, nesse Estado, os custos médios de produção de café arábica por saca são de R$202,64 no Oeste e R$225,31 no Planalto (quadro 1). Intra-regionalmente observou-se heterogeneidade quanto às informações dos diferentes informantes, principalmente em decorrência dos diferentes sistemas de produção utilizados nessas regiões, especialmente quanto aos níveis de utilização de insumos e de mecanização. Com relação ao café robusta, cultivado na região Sul do Estado, o preço médio da saca beneficiada foi de R$116,51.

Quadro 1. Custos operacionais totais de produção do café arábica e café robusta nas principais regiões produtoras do Estado da Bahia (R$/ha e R$/saca de 60kg), safra 2006.

Clique na imagem para ampliá-la.
* Médias aritméticas por região.
Fonte: Centro de Café ´Alcides Carvalho´ - Instituto Agronômico / IAC.

Para análise mais detalhada dos custos de produção de café, o quadro 2 mostra uma síntese das estruturas dos custos de produção de C. arábica e C. canephora (operações + insumos), em R$/sc e R$/ha, nas principais regiões produtoras do Estado, safra 2006.

Quadro 2. Estrutura de custo de produção de café arábica e café robusta (operações + insumos), em R$/sc e R$/ha*, nas principais regiões cafeeiras do Estado da Bahia, safra 2006.

Clique na imagem para ampliá-la.
Fonte: Centro de Café ´Alcides Carvalho´ - Instituto Agronômico / IAC.

Com relação ao café arábica, os resultados indicaram gastos mais elevados com a colheita na região de Vitória da Conquista (22%) do que na região Oeste (11%) e gastos fitossanitários proporcionalmente mais elevados no Oeste (15%) em relação ao Planalto da Conquista (9%).

Quanto aos demais gastos, inclusive com a utilização de fertilizantes (formulados, elementos simples, micronutrientes e adubos orgânicos), em relação aos respectivos custos totais de produção, por saca beneficiada de 60kg, não foram observadas diferenças significativas entre o cultivo do arábica naquelas duas regiões.

O item "Outros custos" inclui podas (recepa, esqueletamento, decote, condução, limpeza), transporte (produtos, insumos, terreiro, mão-de-obra), irrigação, energia, arruação, conservação de carreadores, análises de solo e utensílios (custeio e colheita). Os maiores percentuais desse item, em toda a cafeicultura brasileira de arábica, foram observados no café Oeste da Bahia (39%), valor próximo ao obtido na região de Conquista (32%) que reflete principalmente os gastos com irrigação, energia e transporte para o terreiro. No entanto, o maior valor observado nesse item foi obtido no Sul deste Estado (51%), o qual, além dos gastos com irrigação, energia e transporte para o terreiro, reflete os gastos com podas de condução da lavoura.

Os resultados obtidos indicam que, de modo geral, os custos médios de produção de café arábica no Estado da Bahia, por saca beneficiada de 60kg, são superiores aos de outras importantes regiões cafeeiras do País, como a Mogiana, no Estado de São Paulo, e especialmente em relação do café adensado no Estado do Paraná.

FLÁVIA MARIA DE MELLO BLISKA

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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FLÁVIA MARIA DE MELLO BLISKA

CAMPINAS - SÃO PAULO - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 24/12/2009

Prezado Luiz Augusto,

Agradecemos muito a disponibilidade de seu escritório. Vamos enviar a vocês o mesmo questionário que utilizamos para o levantamento de dados em 2006. Podemos conversar sobre a amostragem e, se vocês estiverem de acordo, apresentar os resultados no CaféPoint.

Um abraço, Flávia Bliska
LUIZ AUGUSTO POLLO

ALPINÓPOLIS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/12/2009

Caros Flavia, Celso e ao recente amigo Roberto Ticoulat
Lendo os seus argumentos de custo de café no Oeste da bahia acredito que podemos dirimir algumas dúvidas
Nosso escritório trabalha com consultoria em café no oeste da Bahia e sul de minas
E o trabalho prestado envolve planejamento técnico e gestão de custos. Temos disponibilidades de dados de Planejado e Realizado da safra 2008/2009. Nos propomos a prepara-los e presenta-los

abraços

Luiz Pollo
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 17/12/2009

Amigo Ticoulat,

Agradecemos seus comentários, os quais sem dúvida tomamos como construtivos. Poderíamos, inclusive, tornar essas trocas de ideias mais frequentes.

Primeiramente, gostaríamos de reforçar a informação de que o levantamento se refe especificamente ao ano agrícola 2005/2006 (safra 2006). Apesar disso, sua publicação é interessante por permitir a comparação dos custos de produção entre as regiões cafeeiras, em uma mesma safra, utilizando-se da mesma metodologia, uma oportunidade excelente para avaliação de algumas das vantagens comparativas entre regiões cafeeiras, como explicamos no primeiro artigo dessa série sobre custos de produção que publicamos no CafePoint.

Em segundo lugar, gostaríamos de descrever de forma sintética a metodologia utilizada no levantamento de dados, para que outros leitores possam entender a questão da amostragem utilizada no estudo (motivo pelo qual colocamos por extenso os nomes referentes a algumas siglas que certamente são de seu conhecimento), o que contribui para as diferenças de produtividade observadas em seus comentários.

O levantamento via aplicação de um questionário estruturado, desenvolvido em parceria com técnicos do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e da Embrapa Café (Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café - CBP&D/Café). Procurou-se compatibilizar os diferentes modelos de levantamento de custos de produção utilizados pelas cooperativas de café, universidades, consultores do setor, Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e, principalmente, os tradicionais levantamentos de custo de produção desenvolvidos pelo Instituto de Economia Agrícola.

O questionário foi estruturado em duas partes principais. A primeira parte procurou identificar as principais características da região de atuação de cada um dos informantes entrevistados: cooperativa, associação e outros agentes da cadeia produtiva, além de extensionistas rurais, pesquisadores e consultores. Tais informações foram importantes na interpretação dos resultados, ao indicarem as possíveis razões para as discrepâncias observadas entre os custos de produção de café nas diferentes regiões produtoras (publicado em BLISKA et al. Informações econômicas, SP, v.39, n.9, set.2009).

A segunda parte do questionário avaliou as operações de produção realizadas em cada região (insumos e materiais consumidos, máquinas e implementos agrícolas utilizados no ano agrícola, preços dos insumos, máquinas, implementos e salários praticados nas respectivas regiões).

Os levantamentos contaram com a colaboração de diversas Instituições de Pesquisa e/ou de Assistência Técnica e Extensão Rural dos estados analisados, além de Cooperativas, Associações de Produtores e consultores do setor. A aplicação dos questionários foi realizada com o auxílio da Embrapa (Rondônia, Cerrado e Zona da Mata de Minas Gerais, Oeste da Bahia e Espírito Santo), do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER) (Espírito Santo) e do Departamento de Economia Rural (DERAL), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná. Em algumas regiões, como no vale do Jequitinhonha e Oeste da Bahia, recorreu-se a especialistas e consultores que fornecem assistência técnica às propriedades da região ou técnicos dos órgãos estaduais de assistência técnica e extensão rural. Também, contou-se com o auxílio de Associações de produtores, como em Rondônia e com produtores individuais ou empresas, como no Vale do Jequitinhonha, Oeste da Bahia e Zona da Mata.

Os questionários foram aplicados in loco, e na maioria dos casos em reuniões com a participação de mais de um representante local ou regional. Como os entrevistados selecionados para a realização das entrevistas são tidos como informantes-chave em suas respectivas regiões, os custos médios de produção, assim como os coeficientes técnicos médios de produção, para cada uma das regiões produtoras e tipo de café (arábica ou robusta) foram calculados utilizando-se a média aritmética dos dados obtidos por meio dos questionários aplicados em cada região produtora.

No Oeste da Bahia os seis questionários que compuseram a amostra foram preenchidos com base em informações obtidas in loco, com os seguintes informantes (não necessariamente na mesma ordem dos dados apresentados no artigo publicado, pois temos o compromisso de não divulgar os nomes de pessoas e empresas entrevistadas): 1) Representantes da EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S. A.); 2) Representantes da AIBA (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia); 3) Empresa de grande porte; 4) Produtor de grande porte; 5) Consultor com grande atuação na região que também é produtor (médio porte); 6) Consultor com grande atuação na região. Com relação ao porte das propriedades, consideramos em função dos resultados da primeira parte do questionário, que o pequeno produtor nessa região tem em média 100ha (área irrigável com utilização de um pivot).

Na região do Planalto da Conquista a amostra foi formada da seguinte forma: 1) Produtor e representante da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia); 2) Representantes da EBDA; 3) Consultor atuante na região, que também é produtor (médio porte); 4) Média de quatro questionários aplicados na região de Barra do Choça, representando os pequenos produtores da região.

Para a região Sul (café robusta) foi aplicado apenas um questionário, respondido por um consultor de grande atuação tanto nessa região como no Estado do Espírito Santo.

Recentemente disponibilizamos a alguns produtores o formulário utilizado para o levantamento de custos e outros detalhes metodológicos. Em janeiro próximo esse material será publicado, o que permitirá que cada produtor obtenha seu próprio custo, utilizando a mesma metodologia, porém adequando os coeficientes à realidade de sua propriedade.

Por fim, ressaltamos que o estudo não pretende esgotar o assunto, mas ao contrário induzir que um maior número de cafeicultores tenha no cálculo da estimativa do custo de produção uma ferramenta de gerenciamento que os permitam alcançar maior eficiência econômica e competitividade para seu negócio.
ROBERTO TICOULAT

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 15/12/2009

Meus caros Flávia e Celso,

Os estudos de custo de produção que tenho acompanhado não parecem representar a realidade da cafeicultura brasileira.

Onde e como pode existir uma produtividade média de produção de arábica de 59,17 sc/he? Estive há poucos dias atrás no Cerrado Baiano e realmente fiquei impressionado com o profissionalismo dos agricultores que lá se encontram, dentro e fora da porteira, porém infelizmente pude notar que o crescimento da produção agr[icola naquela área se dá em outras culturas, que não o café. As culturas de café naquela região se encontram estagnadas em termos de área de produção e porque não, trocando de donos com alguma frequência.

Todos sabemos que isto ocorre não pela grande competência dos produtores que lá se encontram, muito menos pelas grandes vantagens em produzir naquela região, mas sim pelo problema conjuntural que estamos vivenciando, há anos, de politicas de câmbio, custos onerados por impostos despropocionais e infra-estrutura deficitária, entre outros, que a agricultura é obrigada a conviver.

A produção deste ano, segundo a Conab foi de 40,9 sc/he e para o próximo ano, espera-se uma produtividade de 43 sc/he, porém sem considerar a parte dos cafés que estão em renovação (mais de 20%). A previsão de safre daquela região é mais fidedigna que em outras regiões, devido ao grau de profissionalismo e a existência de 49 propriedades rurais produzindo café.

Logicamente, produtividade deve ser considerada a área em produção e a área em formação,tendo em vista que a área em formação não são áreas novas mas, sim áreas que estão sendo recuperadas devido ao stress que as plantas são submetidas naquela região, devido à irrigação, e ao ciclo natural de produção do café. Assim sendo, teríamos uma produtividade média de 35 sc/he,

Vocês sabem o grande respeito que tenho pelo trabalho que vocês realizam mas, a realidade da cafeicultura brasileira é muito diferente dos custos que vêem sido descritos em artigos recentes.

Minha crítica lógicamente é construtiva e gostaria de estimular a participação de outros produtores com relação a realidade dos custos de produção no Brasil.

Abraço,

Roberto Ticoulat
Vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira

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