Dentro do processo produtivo de qualquer cultura, uma etapa de extrema relevância é a recomendação de corretivos e fertilizantes.
Para que as recomendações atinjam seu objetivo, ou seja, aumento da produção com adequado aproveitamento de insumos, deve-se conhecer a fertilidade do solo no qual será ou está implantada a cultura, visando o suprimento de nutrientes na quantidade certa para cada estádio de desenvolvimento das plantas.
A análise química é um dos métodos mais rápidos e mais baratos para se avaliar a fertilidade dos solos, sendo seu primeiro e um dos principais componentes a amostragem. Vale ressaltar que as análises laboratoriais expressam os teores contidos na amostra de solo, sendo esta representativa ou não.
Uma amostragem mal feita pode gerar prejuízos econômicos e ambientais, uma vez que as doses de corretivos e fertilizantes são calculadas com base nos resultados laboratoriais.
1) COLETA DE AMOSTRAS REPRESENTATIVAS
A uniformidade da área é de extrema importância para a amostragem do solo. Por isso, a área de cultivo deve ser subdividida em glebas ou talhões homogêneos.
Para que esta subdivisão seja bem feita, cada gleba deve apresentar a mesma posição topográfica (topo de morro, meia encosta, baixada, etc.), a mesma vegetação, as mesmas características perceptíveis do solo (cor, textura, condição de drenagem, etc.) e o mesmo histórico de cultivo (cultura atual e anterior, uso de corretivos e fertilizantes, etc.).
Um exemplo de subdivisão em glebas é mostrado na Figura 1. A gleba 1 representa uma área plana de pastagem; a gleba dois é constituída por uma depressão no terreno, onde há maior acúmulo de água; a três representa a mesma pastagem em maior declive; a quatro representa café plantado numa encosta; a cinco é composta pelo mesmo café, mas no topo de morro; a gleba seis representa o plantio de eucalipto no topa de morro. Para a caracterização adequada da fertilidade do solo dessa pequena área, é necessária sua subdivisão em seis glebas ou talhões homogêneos.
Figura 1 - Subdivisão da área em glebas ou talhões homogêneos
Fonte: De Muner et al., 2002
Na amostragem de área com a cultura do café já instalada, cada gleba deve apresentar, além das características já mencionadas, plantas de mesma idade e cultivar e o mesmo sistema de manejo ou de produção. Dessa forma, as glebas receberão manejos diferentes, especialmente em relação à correção e a adubação do solo, visando maior aproveitamento de insumos, ou seja, maior economia.
2) SISTEMA DE AMOSTRAGEM
Para que a amostragem seja eficiente e econômica, deve-se trabalhar com amostras simples e amostras compostas de solo. As amostras simples são aquelas coletadas de forma individual, em pontos escolhidos ao acaso dentro da gleba.
Já as amostras compostas são aquelas formadas pela mistura homogênea das amostras simples coletadas em uma gleba. Portanto, para cada gleba será formada apenas uma amostra composta, sendo esta a amostra enviada ao laboratório de análises de solo. Para a caracterização adequada da fertilidade do solo da área apresentada na Figura 1, seriam necessárias seis amostras compostas, uma representativa de cada gleba.
3) CUIDADOS NA COLETA
3.1)O local onde será coletada a amostra de solo deve ser limpo, retirando-se a cobertura vegetal. Porém, deve-se evitar que a camada superficial do solo seja removida.
Deve-se, ainda, evitar a coleta de amostras em locais próximos a cupinzeiros, queimadas de restos culturais, formigueiros, cochos de animais, etc.
3.2)Para que o volume de cada amostra simples seja sempre o mesmo, deve-se utilizar o mesmo equipamento de coleta (trado, pá de corte ou enxadão). Além disso, a profundidade de amostragem, que geralmente é de 0 - 20 cm, deve ser a mesma para cada grupo de amostras simples que irá formar uma amostra composta.
3.3)O número de amostras simples a ser coletado por gleba irá depender do diâmetro do trado ou da largura da fatia retirada com enxadão. Isso é necessário para que a amostra composta formada represente fielmente a fertilidade média da gleba, gerando um resultado extremamente confiável.
Essa é uma informação bem discutida na literatura especializada, a qual preconiza que: quanto menor o volume das amostras simples, maior o número de amostras a ser coletado.
3.4)Para que o conjunto de amostras simples, referente a cada gleba, seja bem misturado, deve-se reunir todas as amostras simples em um recipiente limpo, de preferência de plástico. Posteriormente, em uma lona plástica, fazer boa mistura de todo o conjunto de amostras simples, destorroando o solo. Deixar secar à sombra. Retirar, aproximadamente, 300 gramas dessa mistura, colocar em um saco plástico limpo, fazer a identificação e enviar para o laboratório.
4) EQUIPAMENTOS PARA COLETA DE SOLO
Existem vários equipamentos utilizados para se realizar a coleta de solo. São utilizados desde enxadões até trados motorizados. Não existe um equipamento que possa ser considerado mais adequado. No entanto, alguns equipamentos permitem a coleta de amostras de solo com menor esforço físico e em menor tempo.
Pode-se citar os trados como equipamentos que alcançam esse objetivo, além de permitirem a coleta de amostras de mesmo volume, o que é de fundamental importância para uma amostragem de solo bem feita.
O trado holandês (Figura 2) é um equipamento adequado para coleta de amostras em solo que apresente textura média a argilosa. No entanto, o solo deve estar úmido, para que as partículas fiquem aderidas.
O trado de caneca (Figura 3) presta-se à coleta de amostras em qualquer tipo de solo e em qualquer umidade. Porém, sua utilização é mais adequada para solos de textura leve ou solos argilosos mais secos, uma vez que as partículas de solo não são perdidas nessa situação.
Figura 2 - Trado Holandês, mostrando no detalhe lâmina de corte
Figura 3 - Trado de caneca, mostrando em detalhe o recipiente de armazenamento
5) IMPLANTAÇÃO DO CAFEZAL
Coletar o número de amostras simples necessário, de acordo com o diâmetro do trado ou com a largura da fatia retirada com enxadão (Quadro 1), para cada uma das glebas selecionadas, em zig-zag (Figura 1 - gleba 2), nas profundidades de 0 - 20 e 20 - 40 cm, de forma a cobrir toda a área da gleba.
As amostras de 20 - 40 cm devem ser retiradas no mesmo orifício ou trincheira aberto para a coleta das amostras de 0 - 20 cm. Neste caso, serão obtidas apenas duas amostras compostas por gleba, cada uma formada pela mistura do número de amostras simples definido no Quadro 1.
Quadro 1 - Número de amostras de solo a serem coletadas, por gleba, na implantação de lavoura de café, de acordo com o diâmetro do trado ou com a largura da fatia retirada com enxadão.
6) CAFEZAL EM PRODUÇÃO
Coletar o número de amostras simples necessário, de acordo com o diâmetro do trado ou com a largura da fatia retirada com enxadão (Quadro 2), para cada uma das glebas selecionadas, sob a projeção da copa dos cafeeiros (uma amostra por planta), de forma a cobrir toda a área da gleba. Porém, apenas na profundidade de 0 - 20 cm. Será formada uma amostra composta por gleba.
Esta amostragem deve ser realizada todos os anos, normalmente, entre junho e agosto. No entanto, de acordo com o nível tecnológico e com as particularidades de cada região, pode-se realizar a amostragem em outra época ou, ainda, mais de uma amostragem por ano.
Quadro 2 - Número de amostras de solo a serem coletadas, por gleba, em lavoura de café já implantada, de acordo com o diâmetro do trado ou com a largura da fatia retirada com enxadão.
A cada três anos, utilizando-se os mesmos princípios descritos acima, deve-se coletar, também, amostras simples na profundidade de 20 - 40 cm.
Estas amostras são retiradas nos mesmos orifícios ou trincheiras utilizados para a coleta de amostras de 0 - 20 cm de profundidade, ou seja, após a retirada de uma amostra simples de 0 - 20 cm, deve-se retirar, no mesmo local, uma amostra simples de 20 - 40 cm.
Dessa forma, são enviadas ao laboratório uma amostra composta de 0 - 20 e uma de 20 - 40 cm de profundidade, por gleba selecionada.