O nitrogênio (N) é o nutriente requerido em maior quantidade pelo cafeeiro e tem relação direta com a produtividade, pela função estrutural, crescimento celular e dos órgãos como os frutos.
Nas regiões cafeeiras tradicionais, a recomendação de nitrogênio varia entre 150 e 450 kg/ha, de acordo com as condições da lavoura e expectativa de produção. No Oeste baiano são aplicadas doses de até 600 a 800 kg/ha/ano de N. O suprimento adequado de N acelera o desenvolvimento da planta, especialmente pelo aumento do número de pares de folhas e ramos plagiotrópicos por planta, número de nós por ramos e flores por nós, relacionados diretamente com a produtividade do cafeeiro. O nitrogênio é considerado, depois da deficiência hídrica, o principal fator que regula o crescimento das plantas.
Embora o nitrogênio esteja presente em grande quantidade no solo, somente 2 a 3% está disponível às plantas. Além disso, parte pode ser perdida por lixiviação, volatilização, desnitrificação e exportação pela colheita dos frutos. Dos aspectos que podem afetar o aproveitamento do N pelas plantas cabe mencionar a disponibilidade de água, pH, fertilidade e tipo de solo, bem como a presença de alumínio e organismos do solo, entre outros fatores.
Várias fontes de N são utilizadas para suprir a necessidade do cafeeiro, entretanto a mais comum é a ureia, em razão do seu baixo custo. No entanto, sua utilização implica, quase sempre, em perdas por volatilização na forma de N amoniacal, processo intenso quando aplicada na superfície, como se faz rotineiramente nas adubações dos cafezais. Quando aplicada em ambiente úmido e em superfície, a uréia reage com a água e forma gás amônia que se perde por volatilização, como indicado a seguir:
Quando incorporado ou aplicado sobre superfície seca e molhado posteriormente pela chuva ou irrigação, ou ainda em fertirrigação, há formação de NH4+, esquematizado a seguir:
O NH4+ formado pode ser absorvido pelas plantas ou convertido para NO2- (nitrito) e NO3- (nitrato) por meio da nitrificação.
A maioria das plantas absorve o N, preferencialmente, na forma de nitrato (NO3-), comumente disponível às plantas em solos com pH superior a 5,5. Qualquer forma química de N presentes ou adicionadas pela adubação em solos com pH próximo da neutralidade é transformada em nitrato pela ação das bactérias nitrificadoras. A absorção da forma amoniacal reduz o pH da rizosfera, devido à liberação de H+, fato que pode influenciar a disponibilidade e a absorção de alguns nutrientes, principalmente os micronutrientes. É importante enfatizar que, por se tratar de um processo oxidativo, a nitrificação requer oxigênio (O2) no solo, por isso é mais intensa em solos aerados.
Ao ser absorvido pelas raízes o N (nitrato - NO3-; amônio - NH4+) precisa ser assimilado pela planta em compostos orgânicos. Essa assimilação se dá através de processos enzimáticos que convertem o nitrato em amônio e este em aminoácidos e proteínas que compõem as células e participam de diversas reações nas plantas. Além disso, são requeridos para o crescimento dos órgãos, como folhas e frutos. Estes processos dependem da disponibilidade de N, da luminosidade, da temperatura atmosférica e umidade do solo, entre outros fatores.
O ciclo anual de reprodução do cafeeiro é constituído de 5 fases fenológicas: (i) florescimento ou antese, (ii) frutos chumbinho, (iii) frutos em expansão rápida, (iv) granação e (v) maturação. Nestas fases, há grande variação na absorção e na capacidade de assimilação do N pela planta.
Em experimento realizado no Oeste baiano, no município de Luis Eduardo Magalhães em cafeeiro fertirrigado, com fornecimento quinzenal de N, verificou-se variação na concentração de nitrogênio foliar nas diferentes fases fenológicas do cafeeiro, com resposta a adubação de, aproximadamente, 600 kg/ha de N (Neto, 2009).
Neste experimento, no início das aplicações de N (agosto de 2008), a planta apresentava a menor concentração de N (Figura 1). Tal fato pode ocorrer devido a remobilização de compostos nitrogenados para os frutos colhidos na safra anterior e indica a necessidade do nitrogênio ser fornecido no período anterior a antese para o desenvolvimento das flores. Durante a antese a concentração foliar desse nutriente aumentou, o que se deu pela adubação e pela ocorrência de elevadas temperaturas e disponibilidade de água (irrigação e início das chuvas), processos que propiciam a mineralização do N. A aceitação de que parte do N presente na planta nesta fase (antese) seja proveniente da mineralização de compostos presentes no solo pode ser comprovada pelo aumento da concentração de N, mesmo quando não foi aplicado o nutriente (N). Outra explicação para a quantidade de N na antese pode ser conseqüência da redistribuição de compostos nitrogenados de outros órgãos, como raízes, caule e ramos para os órgãos que estão em crescimento. Nesta fase observou a máxima concentração de N foliar, independentemente da dose de N aplicada.
Após a aplicação de N, pode-se verificar um aumento na concentração foliar de nitrato e um pico da atividade da enzima redutase do nitrato, que metaboliza o nitrato absorvido pela planta, aos 20 dias após a aplicação. Posteriormente há redução na concentração de nitrato e aumento na concentração de amônio, o que indica que o nitrato está sendo convertido em amônio e será transformado em compostos orgânicos utilizados pelas plantas.
A partir da fase de fruto chumbinho reduziu a concentração foliar de N, em conseqüência da translocação do nutriente para os frutos nos estádios seguintes até o início da granação, devido à intensa demanda por nutrientes para o desenvolvimento dos frutos. O maior requerimento de N por ocasião da formação dos grãos é explicado pela sua função como constituinte de aminoácidos e proteínas. Essa redução na concentração foliar de N, mesmo com a aplicação quinzenal do nutriente, se deve a elevada produtividade, a qual variou entre 40 (sem N) e 70 sacas/ha (600 kg/ha de N). A partir do período final da granação até a maturação houve aumento da concentração foliar de N devido à redução da demanda por compostos nitrogenados pelos frutos, que na maturação não é mais dreno intenso de N (Neto, 2009).
Conclui-se que o início do fornecimento de nitrogênio às plantas deve ser realizado no período anterior a floração, já que a maior demanda por N acontece entre a floração e o início da granação.