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Adubação: importância do cronograma de execução

POR ANDRÉ GUARÇONI M.

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 08/04/2009

4 MIN DE LEITURA

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Muito temos discutido em nossos artigos publicados no CaféPoint. Abordamos temas até bem teóricos, mas que tiveram boa receptividade, pois foi possível demonstrar sua aplicabilidade prática. Isso nos mostra que os cafeicultores estão buscado alternativas mais econômicas. Entretanto, tenho notado completa despreocupação dos cafeicultores em relação a um fator de grande relevância: o "cronograma de execução de atividades" do programa de correção e adubação.

O cronograma ordena os períodos do ano nos quais devemos executar determinada ação, dentro do programa de correção e adubação. Como veremos, o cronograma de execução é de fácil elaboração e pode proporcionar maior renda líquida, caso seja bem executado. Deve ficar claro que o cronograma trata de períodos, não de dias pré-estabelecidos, uma vez que a agricultura é extremamente dependente das variações climáticas regionais.

Primeiramente vamos explicitar as ações a serem desenvolvidas em um programa de correção e adubação.

a) Coleta e análise de solo - O tempo gasto é variável de acordo com o laboratório; em épocas de pico pode levar mais de um mês para se obter o resultado - a época mais adequada para coleta de amostras de solo é final de abril a meados de maio - mas o tempo de duração estimado é de 4 semanas.

b) Recomendação de corretivos e fertilizantes - Esta etapa é realizada por profissional especializado; não é comum que demore muito tempo, mas isso irá depender de outros fatores. Tempo de duração estimado = 2 semanas.

c) Compra de corretivos e fertilizantes - Esta etapa pode demandar tempo, uma vez que uma pesquisa de mercado é fundamental. Tempo de duração estimado = 2 semanas.

d) Aplicação de corretivos - calcário - A aplicação em si não demanda muito tempo, mas o calcário deve reagir no solo durante um período de, no mínimo, um mês, desde que ocorram chuvas, antes de se aplicarem os fertilizantes - sua aplicação deve ser realizada o mais cedo possível, para que não ocorram perdas. Tempo de duração estimado = 4 semanas (após o início das chuvas).

e) Aplicação de fertilizante fosfatado - Aplicado de uma só vez, um mês após a aplicação de calcário. Tempo de duração estimado = irrelevante.

f) Parcelamentos de fertilizantes contendo N e K - Devem começar um mês após a aplicação de calcário, nunca antes, pois sua eficiência será reduzida. Para o café, geralmente são realizados no mínimo três: na florada, na época do chumbinho e na época do enchimento de grão. Obviamente, se não houver irrigação na área, e não chover no período, o parcelamento deve se aproximar o máximo possível dessas fases fenológicas. Tempo de duração estimado = 14 semanas.

Caso o cronograma de execução atrase em qualquer das etapas, fica claro que a etapa posterior será comprometida, e o programa de correção e adubação irá se transformar em algo sem fundamento, com ações realizadas fora de sintonia com a realidade. Por exemplo: ano passado um cafeicultor me procurou, em novembro, com resultado de análise de solo em mãos, para que recomendasse calagem e adubação para sua lavoura. Obviamente tive que recusar o trabalho, pois, por mais que eu me esforçasse para fazer uma boa recomendação, todo o programa estaria comprometido, e os resultados propostos não seriam alcançados.

Supondo que eu gastasse uma semana para realizar a recomendação, o produtor levasse uma semana para adquirir o corretivo e que este demorasse quatro semanas para reagir com o solo, a primeira aplicação de P, N e K seria realizada em meados ou final de janeiro. Todos nós sabemos que isso seria um descalabro. Se anteciparmos a aplicação de P, N e K, em relação à aplicação de calcário, também estaríamos cometendo um equívoco.

Para que fique claro o acontecido, vamos seguir um raciocínio lógico que irá ajudar a melhor entender o processo:

1) Não existe recomendação de adubação sem análise de solo

Se a quantidade de fertilizante a ser aplicada é igual à quantidade de nutriente requerida pela cultura menos a quantidade de nutriente fornecida pelo solo versus o fator relativo ao aproveitamento do fertilizante, então não podemos recomendar determinada quantidade sem saber quanto o solo fornece: isso é básico.

2) Não existe compra de corretivos e fertilizantes sem a recomendação

Ora, como comprar determinadas quantidades de corretivos e fertilizantes sem saber se serão necessários, ou não, e em quais quantidades? O "achismo" não pode fazer parte da cafeicultura empresarial.

3) Não existe aplicação de fertilizantes sem que transcorra um mês após a aplicação de calcário

Se não transcorreram 30 dias, no mínimo, após a aplicação de calcário, e esta for necessária, de que adianta aplicar fertilizantes, se não houve tempo hábil para a reação do calcário com o solo? Se não esperarmos os 30 dias, terá sido este um recurso mal utilizado e aproveitado.


Como as fases fenológicas do café irão variar de acordo com a altitude e a temperatura da região, cada produtor deve preparar seu próprio cronograma de execução de atividades. Sugiro, apenas, que a coleta e análise das amostras de solo sejam realizadas, no máximo, em meados de maio. Assim, haverá segurança e tranqüilidade para a realização de todas as ações a serem executadas de acordo com o cronograma.

Alguns dirão que estou sendo muito detalhista, e que na "prática" as coisas não funcionam assim. Respondo dizendo que tenho visto alguns retornos econômicos muito interessantes, sem a aplicação de tecnologias extremamente avançadas, bastando, para isso, que os cafeicultores utilizem tecnologias baratas e eficientes, como o simples e fácil cronograma de execução de atividades.

Infelizmente, alguém deve ter elaborado a recomendação para o cafeicultor que me consultou, mesmo antes de tentar conscientizá-lo da importância de se seguir um cronograma de execução. Afinal, dinheiro é dinheiro, certo?

ANDRÉ GUARÇONI M.

D.Sc. em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa-MG. Pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper)

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ODIRLEI GUERRA

CAMACAN - BAHIA - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 12/02/2015

Ola tenho duvida .Tenho a primeira colheita de cafe em uma pequena area gostaria de saber se antes o depois ja posso adubar ja que tenho o analise de solo em mao
MARCIO

NOVA VENÉCIA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 08/02/2015

Olá André posso fazer adubação de npk No mês fevereiro no café robusta
CLAYTON RIBEIRO ALEGRE

SÃO JERÔNIMO DA SERRA - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 02/09/2013

Olá André.

Gostaria de sanar uma dúvida, sobre o uso do calcário + super simples.

Como citado em outros artigos, doses altas de calcario, que vai transformar em excesso de cálcio, e + e se aplicar super simples, com excesso de cálcio, pode ocorrer a reação que vai transformar o super simples em fosfato de cálcio..ai minha dúvida qual serua a melhor maneira de aplicação de calcario + super simples, no suco..Como evitar essa reação..
RONALD JEFFERSON

FRANCA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 09/01/2013

Boa tarde André,



Você tem algum artigo sobre nutrição após o plantio?

O 1º ano e o 2º ano após o plantio.



Grato,

Ronald
ADRIANO XIMENES

RIO BANANAL - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 30/06/2010

caro andre, novamente tenho um questionamento. qual a importancia do calcio na formação do fruto do cafe bem com o peso? obrigado pala atenção
ANDRÉ GUARÇONI M.

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 30/07/2009

Prezado Adriano Ximenes,

Além de não poder tecer comentários sobre produtos que têm marca registrada, desconheço o produto por você mencionado. Entretanto, para mim, o preço do kg de N nas diversas fontes é o fator determinante. É raro que um produto apresente benefícios capazes de superar seu mais alto custo. Mas, no caso desse produto, pode ser que isso aconteça, como deve informar o fabricante.

André Guarçoni M.
ADRIANO XIMENES

RIO BANANAL - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 30/07/2009

Bom dia.

Obrigado pela atenção dada ao meu questionamento. Gostaria de fazer outra pergunta: Tem uma empresa que produz fertilizantes de liberação lenta, importado da Alemanha, com o objetivo de fornecer nitrogênio para o conilon no plantio por nove meses.

Você conhece este produto e suas vantagens?
ANDRÉ GUARÇONI M.

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 29/07/2009

Prezado Adriano Ximenes,

O nitrato de cálcio é um dos fertilizantes com a menor concentração de nitrogênio entre os atualmente comercializados (14 % de N). A forma do nutriente neste fertilizante é o nitrato (NO3-). Por isso, o nitrato de cálcio não perde nitrogênio por volatilização, nem acidifica o solo. No entanto, podem ocorrer elevadas perdas de nitrogênio por lixiviação, caso a adição desse fertilizante não seja parcelada em diversas aplicações. O nitrato de cálcio é também fonte de cálcio para as plantas, mas utilizá-lo com esse objetivo pode ser um desperdício de recursos, uma vez que o calcário é a fonte de cálcio mais barata que existe.

O nitrato de amônio é um fertilizante nitrogenado que apresenta, em média, 50 % de N na forma amoniacal (NH4+) e 50 % na forma nítrica (NO3-), sendo a concentração total de N igual a 32 %. Dessa forma, pode perder nitrogênio tanto por volatilização (NH4+), se aplicado sobre folhas caídas no chão, quanto por lixiviação (NO3-), se a ocorrência de chuvas for elevada e as aplicações não forem parceladas.

Ambos os fertilizantes são adequados ao fornecimento de N para o café, tanto o arábica quanto o robusta. Entretanto, o que irá definir qual fertilizante a ser utilizado, considerando essas e outras fontes de nitrogênio, será o preço do kg de N no fertilizante. A gama de fertilizantes nitrogenados no mercado é grande, e uma acurada pesquisa de preços é fundamental para que o custo de produção seja mantido no menor nível possível.

Agradeço o questionamento.

André Guarçoni M.
ADRIANO XIMENES

RIO BANANAL - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/07/2009

O que você acha da aplicação de adubos a base de nitrato de amônia e nitrato de cálcio no café robusta?
ANDRÉ GUARÇONI M.

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 22/06/2009

Prezado Guilherme Meirelles Sigaud,

A aplicação de fontes de Mg, via solo, para equilibrar a relação Ca:Mg, é eficiente. Basta que a fonte de Mg seja a mais barata, o que irá conferir maior eficiência econômica.

O "Sulfato de Mg" é uma fonte viável, especialmente por ser solúvel em água. Entretanto, é uma fonte que geralmente apresenta um custo mais elevado. Sua substituição por "Óxido de Mg", ou mesmo "Calcário Dolomítico; > 12 % de Mg", pode ser mais vantajosa economicamente.

Agradeço o questionamento.

André Guarçoni M.
GUILHERME MEIRELLES SIGAUD

TAMBAÚ - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 01/06/2009

Oi Andrá, gostaria de aproveitar este espaço para lhe perguntar da viabilidade técnica da aplicação de sulfato de magnesio via solo a fim de se equilibrar a proporção Ca/Mg. Obrigado
ANDRÉ GUARÇONI M.

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 24/04/2009

Prezado Frederico Luiz Pereira,

A reação que poderia provocar perdas de nitrogênio, nesse caso, não tem ligação com a maior ou menor solubilidade dos fertilizantes nitrogenados, mas sim com a volatilização do nitrogênio (perda de N para o ar na forma de amônia).

O primeiro composto formado, ou liberado, quando adicionamos fertilizantes nitrogenados ao solo, exceto os fertilizantes nítricos, é o amônio (NH4+). O amônio, na presença de elevada concentração de OH-, transforma-se em amônia (NH3), que é um gás e se perde para a atmosfera.

Portanto, o condicionante para perdas de N por volatilização é uma elevada concentração de OH- no meio, salvo no caso do nitrogênio estar na forma nítrica (NO3-). Esta elevada concentração de OH- pode ocorrer por duas razões: hidrólise da uréia (a concentração de OH- se torna elevada em torno do grânulo) ou aplicação de corretivo. Assim, mesmo que o calcário leve "maior período de tempo para reagir completamente" (corrigindo o pH do solo), é muito provável que reações localizadas ocorram bem superficialmente no solo, elevando a concentração de OH-.

Se aplicarmos uréia nesse caso, as perdas serão muito elevadas, caso não chova ou façamos irrigação logo após a aplicação (lembre-se que a maioria das formulações NPK é formulada com uréia). Se for o sulfato de amônio, por exemplo, as perdas serão menores do que com uréia, mas mesmo assim podem ocorrer.

Além das perdas, temos o problema do balanço de nutrientes. Não adianta aplicar nitrogênio se a planta não absorve cálcio ou magnésio adequadamente.

Portanto, Frederico, considero que a aplicação de fertilizante nitrogenado logo após a aplicação de calcário não seja a prática mais correta. Seguir o cronograma, para mim, continua sendo a prática mais adequada.

Agradeço o questionamento.

André Guarçoni M.
FREDERICO LUIZ PEREIRA

MUZAMBINHO - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE CAFÉ

EM 17/04/2009

Olá André,

Com relação ao assunto do artigo, gostaria de dizer o seguinte: já ouvi dizer que não há problema em se aplicar o nitrogênio em cobertura nas adubações logo após a calagem, pois o nitrogênio é um nutriente altamente solúvel, e é absorvido pelo cafeeiro em poucas horas. Como o calcário vai reagir no solo a longo prazo, não haveria problemas em se aplicar o nitrogênio logo após a calagem, pois esses produtos são de solubilidades diferentes, e que poderia haver algum problema se fosse uma fonte de calcário calcinado, que reagiria mais rapidamente no solo.

O que vc acha dessas afirmações?
LUCAS LOUZADA PEREIRA

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO

EM 08/04/2009

Caro professor André, boa explanação sobre o assunto, parabéns!

De fato a realidade observada no campo é exatamente essa, pois muitas vezes o nível de conhecimento fica a quem, dando muito mais importância às novidades tecnológicas (máquinas e equipamentos), do que propriamente a base que é a nutrição das plantas. Falando em cafeicultura, cabe ainda ressaltar que nossos solos não dispõem de fertilidade como há 80 anos atrás, e ainda assim os cafeicultores insistem em não praticar o cronograma.

Em nossos debates em sala de aula, observamos que como difusores do conhecimento, precisamos propagar essas informações, até mesmo para a sobrevivência da cafeicultura de forma sustentável e equilibrada. Como no encerramento do artigo, dinheiro é dinheiro, portanto é preciso fechar a torneira para contar os desperdícios.

ATT,

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