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A certificação pode ser considerada uma via crescente para minimizar o efeito da volatilidade do preço do café?

VÁRIOS AUTORES

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 29/05/2007

9 MIN DE LEITURA

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Contextualização

A instabilidade no mercado de café gera incerteza com relação ao comportamento futuro dos preços. Desse modo, a produção cafeeira necessita cada vez mais de instrumentos que minimizem o risco e auxiliem no processo de tomada de decisão visando aumento da informação mercadológica na hora de consolidar a comercialização.

Atualmente, umas das alternativas apontadas pelo setor cafeeiro para reduzir a instabilidade do mercado, de forma a envolver grande parte de pequenos produtores, é a certificação do café. No entanto, há divergência de opiniões sobre a viabilidade da produção certificada. Na esfera financeira, alguns produtores alegam que os custos operacionais da implantação e consolidação da produção de cafés certificados são mais elevados que os da produção convencional.

Os investimentos em máquinas e estruturas de preparo e beneficiamento também seriam grandes e não seriam cobertos pelo ágio pago normalmente pelo mercado. Além disso, há o temor que a certificação se constitua em requerimento adicional para entrada no mercado, tornando-se mais um obstáculo do que uma oportunidade aos produtores familiares.

Para outros, a certificação de cafés mostra-se como uma alternativa para minimizar a crise do preço do produto, pois alegam que o acesso ao mercado de cafés especiais tem retornos financeiros em geral mais elevados. Adicionalmente, de modo geral, a certificação de café resulta em produtos de melhor qualidade, possibilitando acesso a um crescente e competitivo nicho de mercado, em função da produção com a utilização de técnicas mais racionais.

Este artigo pretende apresentar um panorama da volatilidade dos preços do café commodity e a influência da certificação sobre preços de cafés especiais. Por último, são propostos itens para debate e esclarecimento, via leitor, envolvendo o tema.

Volatilidade dos preços do café

Ao analisar a volatilidade do café, Beczkowski (1998) apresenta as principais causas das flutuações de preço, a saber:

• Instabilidade da oferta;
• Estoques: os níveis de estoques contribuem em um mercado de demanda regular e oferta instável. Funcionam como importantes instrumentos de proteção e de influência sobre o preço;
• Liberalização: as empresas comerciais tendem a reduzir estoques, passando a operar no sistema just in time, a fim de reduzirem os riscos, bem como os custos de estocagem e financeiros.
• Especulação no mercado futuro: os agentes conferem maior liquidez ao mercado, no entanto, podem suscitar oscilações significativas nos preços, afetando, com isso, fornecedores e compradores do produto.
• Demanda: a demanda por café nos países industrializados vem se estabilizando e até mesmo recuando. Com isso, o foco desloca-se da demanda de grandes quantidades de café para a demanda de cafés especiais.

Na área de contratos futuros, o café é o produto agropecuário brasileiro que mais se destaca, via BM&F, tanto em termos de número de contratos negociados, como em termos do volume financeiro envolvido nessas transações. Os contratos futuros de café conillon e arábica correspondem juntos a 69% do total de contratos agropecuários comercializados na bolsa de futuros brasileira (BM&F, 2005).

No âmbito internacional, a Coffee, Sugar & Cocoa Exchange (CSCE) e a London International Financial Futures Exchange (LIFFE) são as principais bolsas negociadoras dos contratos futuros de café. Como a volatilidade tem se mostrado nos últimos anos?

Segundo MORICHOCCI (2006) os preços do café em 2005 e 2006 estiveram bem acima dos preços de 2002, ano que apresentou as mais baixas cotações no período recente. Baseando-se nos dados da Organização Internacional do Café (OIC), a libra peso do café caiu para 48 centavos de dólar em 2002 e, a partir de então, teve início um processo de recuperação, atingindo 90 centavos de dólar em 2005 e 95 centavos de dólar em 2006. Ou seja, um aumento de quase 140% no período, como esclarece o consultor.

Vale ressaltar, ainda, que no segmento de café, via mercado de futuro, a informação é capaz de minimizar as incertezas quanto aos preços futuros do café e é fundamental para os agentes envolvidos no mercado futuro, sejam eles hedgers ou especuladores (FONTES-MARTINS, 2005). Neste sentido, é fundamental que os agentes envolvidos na comercialização, principalmente os produtores, aumentem sua percepção em analisar as propostas de comercialização do café, seja ela direta ou através de mercado futuro.

Para exemplificar esta crescente necessidade, um fato ocorrido recentemente no mercado de negociação, suscitou discussão. Segundo opinião de Carlos Eduardo de Andrade , Eng. Agrônomo, Ms.C., e extensionista da Universidade Federal de Viçosa e Cafeicultor, é de senso comum que a divulgação das últimas estimativas de safra do Brasil pela CONAB levou a uma elevação das cotações de café no mercado internacional, em um momento bom sinalizava alta significativa no preço do café.

No entanto, a alta não se concretizou. Por quê? Segundo Carlos Eduardo, em função da ingenuidade, ou talvez a desinformação de parte significativa dos produtores brasileiros. Isto é, muitos produtores firmaram um contrato com as empresas exportadoras, em que entregavam o café e tinham o direito de receber o preço da BM&F, menos um percentual para os meses de março ou outro mês qualquer, e recebiam um adiantamento no ato do contrato.

Os produtores provavelmente julgaram que o adiantamento resolveria seus respectivos problemas imediatos de fluxo de caixa e que, posteriormente, com mais folga, acertariam o restante. No entanto, eles se esqueceram de que, ao entregaram o café às empresas, não haveria mais falta do produto no mercado para cumprirem seus contratos de exportação. Com isso, os produtores perderam a sua moeda de troca.

Segundo Carlos Eduardo, foram comercializados mais ou menos dez milhões de sacas de café dessa forma, entre dezembro e janeiro de 2007, a um custo de armazenagem muito pequeno, em relação ao preço que as empresas poderiam pagar atualmente pela saca de café. O autor reforça sua tese, destacando que o estoque de café nos Estados Unidos subiu em plena época de maior consumo e menor oferta de exportação.

Um exemplo de iniciativa para fortalecimento da capacidade comercial e financeira foi o desenvolvimento de um projeto na Nicarágua e no México, de janeiro de 2002 a 30 de junho de 2005, envolvendo pequenos cafeicultores que operavam no mercado internacional de café. O grupo central era formado por sete organizações de produtores, com quase 11.000 membros, e prestando serviços a um total de 35 organizações periféricas (ICO, 2006).

Durante a evolução deste projeto, deu-se maior ênfase à ampliação do acesso aos mercados em que o café é vendido com prêmio (Fairtrade, orgânico, gourmet) e à ajuda para alcançar padrões, melhorar os controles internos, melhorar a qualidade e a comercialização. As exportações cresceram 52%, embora tenham caído durante o ano de 2004, passando de 70% para 83-84% do total de vendas, enquanto a porcentagem de café com defeito caiu de 20% para 12-13%. A melhoria da qualidade ficou evidente nos bons resultados obtidos no concurso Cup of Excellence na Nicarágua (ICO, 2006).

Comercialização e custo na certificação: cafés especiais

Além da venda do café via mercado de futuro, tem aumentado a comercialização direta da produção de café. Para exemplificar, a empresa mineira Minas Coffee Export, de Caratinga, zona da mata de Minas Gerais, em 2006, aumentou sua venda de café especiais por esta via. "Cerca de 25% da nossa produção é exportada de forma direta, sendo 15% para a Itália, 5% para os Estados Unidos e 5% para o Leste Europeu. O restante é vendido no mercado externo e para empresas exportadoras" (CNC,2006).

Segundo dados fornecidos à imprensa, houve um ágio de US$ 30 a US$ 40 dólares/saca, sobre o preço praticado no mercado, com exportações diretas de cafés especiais. Atualmente, o café orgânico é de longe o único tipo de café certificado que tem alguma relevância no mercado doméstico. Em época de preço baixo de café, a certificação orgânica resulta em maior diferencial de preço para os produtores. Quando os preços do café convencional foram a US$ 60 por saca, o café orgânico foi negociado a US$ 160-180 a saca.

À medida que o preço do café convencional cresce, o diferencial de preço entre o café convencional e o café orgânico se reduz. Isto tem levado produtores de café orgânico a reverter suas lavouras à produção convencional. Para os produtores orgânicos certificados no Brasil, pode haver considerável variação nos custos, dependendo das circunstâncias, das atividades da fazenda e do tempo de transição para produção orgânica (BLISKA, PEREIRA e GIOMO, 2007).

No entanto, deve ser levado em conta o tipo de programa de certificação adotado, o qual o custo da certificação pode vir a ser elevado para produtores familiares, salvo no caso da certificação em grupo. A certificação Rainforest Alliance é mais onerosa que a Utz Kapeh, mais dispendiosa, pois envolve requisitos ambientais e sociais mais rigorosos, particularmente com relação à restauração dos ecossistemas naturais. Vale lembrar que estes requisitos também compõem as exigências das certificações Orgânicas e Fairtrade (BLISKA, PEREIRA e GIOMO, 2007).

Segundo os autores, duas empresas especializadas em certificação envolvendo requisitos ambientais, esclareceram que os custos podem vir a ser elevados para manter reservas ecológicas, dependendo do grau de degradação do ecossistema natural. Os custos podem variar de US$ 10 mil a US$ 50 mil por propriedade, para cobrir custos de consultoria, mudas, plantio, gerenciamento e custo de oportunidade da terra, dentre outros.

Outro exemplo de custo de certificação é apresentado pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), que propiciam aos produtores o certificado através do Instituto Gênesis no Paraná. Esta certificação visa um conjunto de normas e protocolos, das boas práticas agrícolas para o café, desenvolvido na Europa (EUREPGAP e UTZ KAPEH).

Segundo o Instituto, o custo médio de implantação com rastreabilidade, inspeção/auditoria, e concessão de certificado tem um custo médio de R$4.500,00/ano para um produtor individual, mas que se pode reduzir para R$1.500,00/ano/produtor nos casos de grupos com mais de 10 produtores. A possibilidade de certificação em grupo também é possível via Imaflora, representante da Rainforest Alliance no Brasil.

Além desse custo, no primeiro ano, a FAEP indica que se faça uma pré-auditoria com custo de R$1.200,00 na fazenda, que informa ao produtor quais os itens que já estão enquadrados nas normas e quais devem se adequar. Os produtores mostraram-se interessados pelo tema e será encaminhada pelo Gênesis para a FAEP a norma do EUREPGAP já traduzida para o português para ser repassada aos membros da Comissão.

Questionamentos

Gostaríamos de contar com a valiosa colaboração dos leitores, mediante suas opiniões sobre seguintes questões:

1. Como aliar produção cafeeira sustentável e aumentar o valor econômico do café para cobrir os custos de produção? Tanto em relação ao café commodity como certificado.

2. Como aliar a grande capacidade de inovação e competência da maior parte das instituições públicas e privadas de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), e de muitos produtores, para produzir mais café, à necessidade de habilidade de negociação para minimizar a volatilidade dos preços?

3. Quais as ações e informações que as instituições de PD&I, entidades de classe (como as cooperativas e associações de produtores) e governos poderiam disponibilizar aos produtores, para orientá-los quanto à comercialização de seus lotes de café? Quais as informações mercadológicas mais significativas na hora da tomada de decisão quanto à venda do produto?

Referências

BECZKOWSKI, S. Volatilidade no café. Resenha BM&F, n.125, p.1-4, 1998.

BLISKA, M. M. M.; PEREIRA, S. P.; GIOMO, G. S. Do grão à xícara: como a escolha do consumidor afeta cafeicultores e meio ambiente. Campinas: Instituto Agronômico, 2007. 60p.

BM&F 2005. Várias informações. Disponível em: www.bmf.com.br,10/05/2007.

CONSELHO NACIONAL DO CAFÉ - CNC. Minas Coffee lucra com venda direta a europeus. 22 jun. 2006. https://www.cncafe.com.br/noticias_ler.asp?id=139,10/05/2007.

INTERNATIONAL COFFEE ORGANIZATION - ICO. Strengthening the commercial, financial, management and business capacity of small coffee producers/exporters in Mexico and Nicaragua: Final Report - Executive Summary. London, 2006.

Federação da Agricultura do Estado do PARANÁ - FAEP. Relatório de reunião. 07/04/2006. , 10/05/2007.

FONTES-MARTINS, C. M. A volatilidade nos preços futuro do café brasileiro e seus principais elementos causadores. 2005. 154 p. Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.

MORICOCHI, L. Tendências dos preços de café. Revista Cafeicultura, 01/03/2007. , 10/05/2007.

SERGIO PARREIRAS PEREIRA

Agrônomo - Mestre em Fitotecnia - Pesquisador Cientifico do IAC - Centro de Café - Mediador da Comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira no PEABIRUS - Doutorando da Universidade Federal de Lavras - UFLA - Coordenador do Núcleo de Manejo do CBP&D/Café

FLÁVIA MARIA DE MELLO BLISKA

CLEIDE HELENA SANTOS CARDOSO

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EDUARDO TREVISAN GONÇALVES

PIRACICABA - SÃO PAULO

EM 04/06/2007

Penso que os autores do texto foram muito felizes na escolha deste tema.

Eu acredito que o exemplo dos cafés certificados orgânicos onde o diferencial de preço aumenta de acordo a variação da cotação do café, pode ser extrapolado para outros sistemas, especialmente o Rainforest Alliance já que o foco tem sido cafés especiais.

Da mesma maneira, acredito que para os produtores de pequena escala, é importante que antes de ter uma certificação, tenha organização da produção e de um grupo e foco na qualidade. Esta é a única maneira do produtor pequeno competir.

A renda gerada pelo fortalecimento do grupo em prol da qualidade, é fácil de verificar empiricamente: se o grupo produz 1000 sacas de café sem controle de qualidade (mistura de café verde com maduro, de café bóia com cereja, por exemplo) ele pode ter um deságio em todos os seus 1000 sacos. Vamos imaginar em uma renda total de 200 mil reais para o grupo (R$ 200,00 por saca).

Por outro lado, se ele consegue produzir 600 sacos de café com qualidade e outros 400 de qualidade inferior e vende estes 600 sacos por R$ 250,00 e os inferiores pelos mesmos R$ 200,00 sua renda será de 230 mil reais.

Este é um exemplo fácil de demonstrar o valor que um processo de qualidade pode agregar ao café.

Após esta etapa, o grupo poderia buscar se adequar para uma certificação. Um fato ao meu ver muito importante para o caso de produtores individuais e grupos é que ainda faltam estudos para saber a relação quantidade de sacas produzidas versus viabilidade de certificação.

As certificações apresentam custos diretos e indiretos:

Os custos diretos seriam o da auditoria - Quanto maior o grupo, mais baixo será o custo individual. Para o caso de grupos, este custo na maioria dos casos é facilmente incorporado pelos produtores de um grupo.

Os custos indiretos são os da implementação das exigências das certificações, que vão desde as condições de trabalho dos funcionários até a recomposição de nascentes. Neste caso, quanto maior o produtor ou o grupo, maiores serão os investimentos.

Cabe aos produtores calcularem os potenciais benefícios dos investimentos, o custo do processo de certificação e a renda esperada no final da safra certificada para saber em quanto tempo estes investimentos poderiam ter retorno.

Saudações!


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