No Estado do Espírito Santo, onde capixabas relatam que seca é uma das piores dos últimos anos, os municípios de Nova Venécia e São Gabriel da Palha estão completando 40 dias sem chuvas significativas. Apenas no último dia 18 de agosto São Gabriel da Palha registrou 7mm e Nova Venécia 6,6mm. “É preciso enfatizar que é apenas nesse nível que a chuva começa a ser significativa para a agricultura”, relata o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Maior produtor da espécie conilon, o Estado restringiu no dia 6 de outubro o uso da água na agricultura e na indústria local, priorizando o abastecimento humano e animal em todas as bacias hidrográficas de domínio estadual. Na região de atuação da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), os produtores já restringiram a irrigação apenas para o período noturno (entre 18h e 5h).
Na propriedade de Giovani Drago a frequência e o tempo da irrigação caíram pela metade. Se em 2014 as plantas eram ‘molhadas’ duas vezes na semana por pelo menos uma hora, hoje é apenas em um dia e por meia hora que os cafeeiros recebem a irrigação. “Continuamos irrigando, mas diminuímos porque a gente tem medo de acabar”, conta Giovani enquanto mostra o atual nível da água na represa que construiu em sua propriedade.
“Na realidade, estas são pessoas que se prepararam para a seca. Eles fizeram reservação de água, mas ainda assim neste momento podem perder parte de suas lavouras”, afirma o engenheiro agrônomo e gerente da Assistência Técnica da Cooabriel, Wander Ramos Gomes. Segundo ele, a grande maioria dos cooperados utiliza irrigação em suas lavouras e boa parte deles já investiu em meios de armazenar água da chuva.
Giovani possui cafés de 1 a 6 anos espalhados em 7 hectares e o desenvolvimento dos cafeeiros já é afetado pela falta d’água. “É possível ver o crescimento mínimo da planta, que utiliza toda energia que ainda tem para manter outras atividades, como a floração e a formação dos frutos”, aponta o gerente Wander, que observa que os cafeeiros também não estão com folhas novas.
As dificuldades com a cultura vêm fazendo com que outros cultivos ganhem espaço da região e instiguem produtores. Ainda assim, Giovani pensa em uma opção que vem ganhando espaço do Estado. “Ano que vem vou arrancar um talhão velho e já estou na dúvida se eu coloco café ou pimenta. Hoje, aqui na região quem tem pimenta é outra coisa”.
Vizinho da propriedade de Giovani, o produtor Rogério Calegari já divide seu espaço entre cafeicultura e produção de pimenta do reino, ambas irrigadas. “Tive pimenta uma época e agora todos estão dizendo que compensa e vai continuar sendo bom por um tempo, decidi voltar”, relata ele, que tem a propriedade há 20 anos.
Mesmo com a nova aposta, Rogério mantém cerca de 14 hectares de cafeeiros plantados e para manter a irrigação dos 20 mil pés, o produtor construiu dois reservatórios. “A topografia aqui ajudou muito então gastei pouco com a construção. Porém, quem utiliza irrigação tem que fazer investimentos constantes”, conta ele que iniciou sua produção com financiamento de R$75 mil reais e, em 2014, depois de seis anos pôde ter o retorno total da colheita.
Entre extremos
“A última vez que choveu de encher represa foi em 2013”. Esse é um relato recorrente entre os moradores da região Noroeste do Estado. Em dezembro de 2013 a cidade de Nova Venécia sofreu com enchentes, mas o campo também viu encher suas reservas. “Construí minha represa em 2012 e esperei por 13 meses para que a chuva do final de 2013 a enchesse. O que eu tenho até agora ainda é a reserva daquela chuva”, relembra Giovani.
Além da reservação de água, a necessidade de preservar vem sendo discutida entre os produtores e um dos trabalhos da equipe técnica da Cooperativa tem sido a orientação dos cafeicultores. “Construir cercas para não deixar que o gado invada das áreas próximas às nascentes é uma iniciativa boa e não é muito difícil de fazer”, explica Wander em uma de suas visitas.
O problema, no caso de Rogério, é que as colheitas de 2014 e 2015 foram prejudicadas pelo clima e, agora, a de 2016 parece seguir o mesmo caminho. “Vou esperar mais 15 dias, se não chover vou deixar de molhar metade dos cafés”. A escolha implica em abandonar parte dos talhões para conseguir manter o restante deles. “É difícil administrar, na agricultura você trabalha muito com a incerteza”, comenta. Até agora o cafeicultor vem mantendo cerca de 30% da irrigação que costumava fazer e, de acordo com o gerente da Cooabriel, a grande preocupação dos produtores agora já não é apenas com a quebra da safra, mas sim em manter sua lavoura para os próximos anos.