Frente à expectativa pela decisão do Governo Federal sobre o aval ou o veto à importação de café conilon no Brasil, o Espírito Santo tem se movimentado para fortalecer a resistência do setor produtor. O estado é o principal produtor da espécie robusta no país e divulgou nesta sexta-feira (3/1), estudo realizado pela Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por meio do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Sintomas causados pela infeçcão do fungo Colletotrichumem frutos de café folhas e ramos de plantas de cafeeiro no Vietnã
O trabalho apontou o risco de pragas ausentes no País serem contraídas em caso de importação de café da África, da Ásia e até mesmo da América do Sul. O estudo, realizado pelos pesquisadores do Incaper Romário Gava Ferrão e José Aires Ventura, foi elaborado devido à possibilidade de o Ministério da Agricultura autorizar a importação de café conilon do Vietnã e de outros países, como da Etiópia e do Peru. Foram identificadas ao menos quatro pragas de café existentes nessas regiões.
O CaféPoint apurou que o estudo será entregue na próxima terça-feira (7/1) ao ministro. Na ocasião está previsto que participem secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, o presidente o diretor-presidente do Incaper, Marcelo Suzart, o governador Paulo Hartung, a bancada federal capixaba e alguns dos principais produtores do Estado. A demanda foi levantada pelas indústrias brasileiras de café torrado e moído e também de solúvel, grande compradora da variedade conilon. As associações alegam que devido a seca que assolou o estado capixaba e o sul da Bahia, não haveria café suficiente para abastecer mercado interno e exportações.
“Se for autorizada a importação de café conilon da Ásia, da África ou do Peru, onde existem pragas que ainda não foram encontradas no Brasil, sem uma rigorosa análise de risco, é colocar o País em uma situação vulnerável e extremamente crítica que poderá comprometer o importante agronegócio brasileiro que é a produção cafeeira”, destacou o diretor-presidente do Incaper.
Os estudos apontaram o risco das seguintes pragas quarentenárias:
COFFEE BERRY DISEASE (CBD)
A doença conhecida como Coffee Berry Disease (CBD), causada pelo fungo Colletotrichum kahawae J. M. Waller & P. D. Bridge, é endêmica na África onde causa consideráveis perdas na produtividade superiores a 75%, quando não adequadamente manejada.
COFFEE WILT DISEASE (CWD)
A doença Coffee Wilt Disease (CWD), também conhecida por traqueomicose ou murcha de Fusarium do cafeeiro, afeta as espécies Coffea arabica e Coffea canephora bem como outras espécies do gênero Coffea na África. Foi notificada em 1927, na República Centro-Africana em Coffea excelsa e, posteriormente, entre 1937 e 1939, disseminou-se em C. canephora e C. liberica, nas plantações de Camarões, Guiné, Costa do Marfim e República Democrática do Congo, onde mais de 40% das plantações foram infectadas, e causando a morte das plantas.
BROCAS DOS RAMOS E TRONCO DO CAFEEIRO
Várias espécies de besouros dos gêneros Monochamus, Xylosandrus e Xylotrechus têm sido relatados em vários países da África e Ásia causando elevadas perdas nas plantas e consequente redução da produtividade que pode chegar em média a 20-30%, quando não existem estratégias de manejo ou o uso de fungicidas.
COCHONILHAS
São insetos pequenos (Coccoidea) considerados como pragas importantes para o cafeeiro na África e Asia, conhecidas como scales and mealybugs, que sugam a seiva e onde se destacam espécies de alguns gêneros como o Planococcus.
STRIGA
São plantas pertencentes à família Orobanchaceae, que apresentam várias espécies das quais se destaca a Striga gesnerioides, planta exclusivamente parasita, que produz folhas amareladas ou verde-pálidas.
Ainda foi apontada no estudo a necessidade de se realizar uma Análise de Riscos de Pragas (ARP), que tem como objetivo identificar os ricos de pragas, avaliar os riscos fitossanitários e estabelecer as medidas para impedir o risco no caso de importação. Em 2015, quando a importação de arábica era o tema de debate, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) enviou estudo técnico elaborado pela à Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sobre riscos sanitários.
Secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto // Foto: Seag ES/ Divulgação
O secretário de Estado da Agricultura, Octaciano Neto, reforçou o posicionamento do Governo do Estado contrário à importação do conilon. Além dos riscos fitossanitários, ele destacou que os cafeicultores do Espírito Santo atravessam há três anos a pior seca da história. “Os produtores de café, que é a principal atividade econômica do agronegócio capixaba, tiveram o custo da produção aumentado pela falta de chuva. Não faz sentido importar café para prejudicar quem sofreu nos últimos três anos. E também há estoque suficiente para a indústria. Temos mais de 4 milhões de sacas. Não há risco de desabastecimento”, destacou Neto.
Além das pragas que podem afetar a cafeicultura, o Incaper afirma que há risco de que outras pragas que afetam a plantação de diversas variedades virem para o País em decorrência da importação do grão verde. Ao todo, oito pragas foram identificadas como risco para o País e para o Estado. Entre elas, estão a moniliase do cacaueiro, doença que pode reduzir em até 80% a produção de cacau; o mal-do-panamá raça tr4 e a chamada ‘murcha de xanthomonas de bananeira’, que poderia impactar a produção brasileira de bananas.