A seca que castiga o Estado do Espírito Santo e teve seu ápice em 2015, quando o estado decretou restrição do uso da água na agricultura, segue impactando o setor do café conilon. A quebra na safra deste ano criou um ambiente inédito para o grão em seus diversos setores.
Vindo em uma escalada de preços há, pelo menos, três meses, quando passou a se manter acima de R$400, o café conilon atingiu essa semana um novo recorde ao bater os R$500 por saca no mercado interno. Ultrapassar esse último valor é considerado inédito pelo Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV). “Em reais, é recorde histórico”, afirma Jorge Luiz Nicchio, presidente da entidade.
Foto: Guilherme Gomes/ Café Editora
Mas, o preço da variedade do café robusta, reflete também um movimento anterior. Em 2015, o CCCV registrou recorde de exportações do grão, com 4,02 milhões de sacas de 60 kg. O número representou o maior embarque do grão feito pelo Estado do Espírito Santo na história do Centro.
Já em 2016, os embarques totais, somando arábica e conilon, do Estado até agora estão em apenas 2,4 milhões de sacas. “É o pior volume desde 1986. Isso se deve, também, a ineficiência do Porto de Vitória, que não comporta grandes navios. Então, perdemos em exportação por falta de café no Espírito Santo e também por cafés que passaram a ser embarcados nos portos do Rio de Janeiro e Santos”, revela Nicchio.
Ainda assim, considerando apenas o café conilon, a quebra na produção se mostra como maior responsável. Os embarques devem despencar, com queda de 85%, comparado ao que foi exportado em 2015. “Para o conilon, nós projetamos exportar 600 mil sacas até o final do ano. Isso é apenas 15% do café do ano passado”, afirma.
O fator mercado externo não explica sozinho a constante alta nos preços da saca. “A quantidade produzida aqui foi muito pequena! E, em segundo lugar, a necessidade da indústria em utilizar conilon como blend”, analisa Jorge Luiz Nicchio. Para ele, a indústria já reduziu em boa parte a utilização do grão, mas não deve atingir uma redução mais brusca para não impactar a percepção do consumidor final.
“Há alguns anos, esse blend era estimado em torno de 40% de conilon. Então o consumo brasileiro estava nessa margem, até 2014. O valor do conilon começou a subir já em 2015, então a indústria passou a utilizar entre 30 ou 25%”, conta.
Diferencial entre arábica e conilon
“O conilon atingiu o preço de cafés trabalhados em nível de Sul de Minas, Cerrado Mineiro. E, ao mesmo tempo, com a maior procura do mercado interno”, destaca Nicchio. Segundo ele, nas cotações acompanhadas pelo CCCV já tinha se visto o conilon e o café arábica tipo rio em valores tão próximos, mas para café arábica fino é a primeira vez.
Para o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP, o diferencial de preço do robusta frente ao arábica é o menor já visto, considerando-se toda a série histórica. No último dia 18, a diferença entre os valores das variedades foi de apenas 8,07 reais/saca, com o Indicador Cepea/Esalq do tipo 6 bebida dura para melhor, posto na capital paulista, fechando a R$ 515,16/sc de 60 kg.
Perspectivas para 2017
Para a próxima safra, produtores e técnicos informam diariamente que a quebra deve se repetir, em função dos efeitos da seca nos cafeeiros. “A perspectiva para 2017 também é muito ruim. Mesmo que chova agora a safra do ano que vem vai ficar altamente comprometida. A produtividade vai ser prejudicada”.
Os problemas na produção devem, portanto, seguir pautando o mercado interno, que recorreu a suas reservas nas últimas safras. “A expectativa é de preços bons, pelo menos nos próximos dois anos. No início da colheita deste ano, o Brasil passou com os estoques praticamente zerados. Esse ano a produção brasileira de arábica foi muito boa, mas a conta que se fez é que na chegada da safra 2017 a produção mineira do ano que vem não supera esse ano, então vamos chegar com o estoque zerado”.
Contudo, o presidente o CCCV lembra que a preocupação de produtores não se limita aos valores de suas sacas. “O preço está muito bom, mas o produtor precisa de uma conjuntura em que tenha preço e café bom. Mesmo em 2014 os cafeicultores já tiveram quebra superior a 50% no Espírito Santo”, finaliza Jorge Luiz Nicchio.