Em meados da década de 90, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) iniciava estudos para obter uma poda mais prática para os cafeeiros conilon do Estado. “Em 2007 conseguimos lançar a poda programada para o conilon e, hoje, até 98% das propriedades que cultivam a variedade no Espírito Santo a utilizam”, revela Abraão Carlos Verdin Filho, um dos pesquisadores à época.
Quase uma década após o lançamento para o conilon, o Incaper iniciou conseguem resultados na técnica voltada, agora, para o cafeeiro arábica: a Poda Programada de Ciclo em Café Arábica (PPCA). Entre os benefícios previstos pelo Incaper, a PPCA proporciona redução média de 50% nos custos com mão de obra, aumento superior a 28% na produtividade média da lavoura e facilidade de execução, dentre outras.
A técnica foi lançada recentemente, no último mês de agosto, na Escola Família Agrícola de Brejetuba. Alguns produtores rurais que se disponibilizaram a adotar a técnica ainda na fase experimental compartilharam suas experiências. “Esta tecnologia vai revolucionar a nossa cafeicultura. Eu confiei na experiência do Incaper e foi a melhor colheita que eu já fiz. Para mim, essa é a melhor tecnologia dos últimos anos dentro da lavoura”, disse Pedro Carnielli, cafeicultor de Venda Nova do Imigrante.
Desenvolvimento da técnica
O estudo começou em 2008, com testes na região Alto Mutum Claro, municio de Baixo Gandu e teve à o pesquisador Verdin também à frente da equipe na nova empreitada. O experimento inicial contou com a parceria do produtor Ademar Luiz Fransskoviak e a região foi escolhida por uma característica específica: a altitude. “O experimento está nessa área propícia para o arábica, a 648 metros do nível do mar”.
A área de Ademar que recebeu o estudo foi de apenas 0,6 há, mas o proprietário que cedeu o espaço já estendeu a prática para todos os seus 33 ha. “Em um raio de 1 km todos os vizinhos também aderiram, tendo iniciado há cerca de 3 anos e, gradativamente, optando pela técnica”, conta Verdin.
Outra propriedade que iniciou a técnica fica em Santa Teresa, com 700 metros de altitude. “Lá, existem 800 pés de café e o produtor aderiu em toda propriedade. Alguns outros proprietários se programam para começar a implantar nos próximos três a quatro anos nas regiões de montanhas”.
São essas áreas, onde a mecanização de tratos e colheita não consegue chegar, que o Incaper quer focar a utilização na nova técnica. “No morro precisamos melhorar os tratos culturais na colheita. Aumentar produtividade”, pontua Verdin.
A novidade gerou curiosidade de produtores, quando ainda em 2014, o CaféPoint divulgou reportagem sobre a pesquisa. Separamos algumas dúvidas dos produtores à época e pedimos que o pesquisador explicasse. Confira os itens:
-Existe restrição quando a cultivar?
Verdin: “Dá pra fazer em diversas condições. Medimos em vários locais. Já sabemos que de 500 a 800 m de altitude dá certo. Começo o trabalho agora em altitudes superiores a 800m, e climas diferenças. Desenvolvendo com outras variedades, para verificar como se desenvolve”.
- É possível implantar a técnica para diferentes adensamentos? (Exemplo 1,7m x 0,7m)
Verdin: “Nesse exemplo, é um superadensamento, que resulta em cerca de 8.400 pés/ha. Em geral, o espaçamento não impede o uso da técnica, mas como nesse caso ele já tem um sistema superadensado, então recomenda-se um estudo ou seguir o manejo já adotado”.
- Como foi seu comportamento em ano de bienalidade alta?
Verdin: “Como tiramos o baixeiro, também conhecido como saia, as plantas mudam o comportamento fisiológico. Elas começam a crescer mais na copa e se desenvolver. Isso muda a bienalidade. O próprio cafeeiro vai ter uma produção mais uniforme. Tivemos nos testes, produtividade máxima de 79 sacas/ha, no ano de alta e mínima de 29 sacas/há em ano de baixa. Então a produção se estabiliza e isso está diretamente ligado ao fato de tirar os ramos velhos na saia. Ela se refaz e joga essa produção para os galhos novos na copa.
Com o objetivo é oferecer ao produtor rural uma alternativa mais sustentável de manejo das lavouras de café arábica, que proporcione maior longevidade, com manutenção de seu potencial produtivo, o Incaper disponibilizou o informativo com o passo a passo da técnica, confira aqui.