O debate acerca de princípios ativos que possam controlar uma das pragas mais conhecidas da cafeicultura continua em destaque neste ano. No setor político, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou no dia 27 de janeiro, no Diário Oficial da União, uma lista com produtos priorizados para atendimento às pragas de maior importância econômica no Brasil. Entre eles, contra a broca do café, estão o Metaflumizone, e a combinação dos princípios Bifentrina + Acetamiprido.
- "Vale ressaltar que os novos produtos são menos agressivos e nocivos ao meio ambiente, no entanto, quando se faz um maior número de aplicações, passa a ter um maior tempo de contato e exposição”, alerta Joel de Souza, da Expocaccer
Entre os critérios utilizados pelo Mapa para a identificação de produtos que atendessem as necessidades de controle das pragas descritas pela Portaria DSV nº 5 de 21 de agosto de 2015, estiveram os novos produtos apresentados para o controle das pragas listadas, além de produtos equivalentes para permitir maior competitividade no mercado, considerando o número de registrantes de cada ingrediente ativo, disponibilizados aos agricultores por meio de seus produtos formulados. Já os produtos cujos ingredientes ativos estejam em fase de reavaliação toxicológica ou ambiental, no âmbito do Governo Federal, não foram considerados para efeito de priorização.
Broca-do-café no Cerrado Mineiro
Em meio ao debate sobre os princípios ativos que combatem a broca-do-café, o setor produtivo tem participado ativamente. Em Audiência Pública da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, que ocorreu em 10 de dezembro de 2015, o trader da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado Ltda (Expocaccer), Joel de Souza Borges, foi um dos representantes da ponta produtiva da cadeia.
“Foi possível discutir o quanto a broca-do-café tem dificultado na exportação do café, na comercialização no mercado interno, na perda de peso em lotes com grandes infestações, nos desgastes dos maquinários devido ao grande volume de repasse no rebenefício, enfim, como estamos sendo afetados diretamente por esta praga no café”, informou.
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A preocupação dos produtores tem se mantido pela expectativa de que nessa safra o problema se eleve. “Na safra passada recebemos um grande número de lotes com infestação de broca. Para a safra que vamos colher agora em 2016, de acordo os técnicos de campo da Expocaccer e consultores autônomos da nossa Região do Cerrado Mineiro, teremos uma grande infestação desta praga, nas lavouras é visivelmente notável que a infestação será igual ou até maior que a da safra do ano passado”, destaca Joel de Souza Borges.
Segundo o trader, entre o final deste mês e início de março será possível confirmar se haverá o aumento da infestação. “Um dos fatores que pode contribuir para este crescimento é que houve a ocorrência em alguns talhões das lavouras de café da safra 2015/2016 que, pelo motivo de baixa produtividade, os produtores acharam por bem não colher os grãos que ficaram na árvore e também os grãos que ficaram no chão, sendo estes os grandes hospedeiros para que a infestação no período de agora fosse bem elevada”, explica.
Uso consciente
Joel lembra que a questão vai além da aprovação de produtos e que é preciso que haja monitoramento constante no uso no campo. “É muito importante, não somente os debates, mas o acompanhamento destes produtos no campo, uma vez que são relativamente caros em comparação ao que tínhamos (Endosulfan) e ainda não temos uma eficiência comprovada em todas as áreas utilizadas. Vale ressaltar que os novos produtos são menos agressivos e nocivos ao meio ambiente, no entanto, quando se faz um maior número de aplicações destes produtos, como já observamos em algumas lavouras, passa a ter um maior tempo de contato e exposição”, alerta.
Para contribuir com essa importante questão, Joel cita algumas formas de técnicos e produtores participarem. “Eles podem permitir áreas experimentais dos novos produtos em suas lavouras, ao mesmo tempo mobilizar os órgãos competentes em agilizar os novos registros, fazendo com que, tendo mais produtos no mercado, haja uma maior concorrência. Isso fará com que os preços caiam e facilitem o controle desta terrível praga. Outro fator é fazer, de maneira eficiente, os repasses na colheita deixando o mínimo de grãos na planta e no chão”, pontua.
Em 29 de janeiro, o deputado federal Silas Brasileiro (PMDB / MG), presidente executivo do Conselho Nacional do Café (CNC), noticiou que a Coordenação-Geral de Agrotóxicos e Afins do Ministério da Agricultura encaminhará a lista dos produtos priorizados para ciência e providência dos demais órgãos anuentes no registro de agrotóxicos e afins no Brasil e que o andamento dos registros referentes às prioridades elencadas será monitorado, em conjunto pelo Departamento de Sanidade Vegetal (DSV) e pelo DFIA, a cada três meses.
O CNC lembrou, ainda, que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) necessitam dar parecer favorável para que esses princípios ativos sejam registrados e os produtos à sua base possam ser comercializados.