A seca do início do ano, que afetou a produção cafeeira na safra 2014/2015, gerando, segundo a última estimativa da Conab, quebra de redução de 9,33% na produção deste ano, gera, agora, o temor de que a safra 2015/2016 também esteja comprometida.
Em visita a Fazenda Santa Mônica, em Machado (MG), o proprietário Arthur Moscofian Junior explica que o fenômeno deste ano é raro, mas não imprevisível. “Já aconteceu antes? Difícil, mas aconteceu lá em 2005. Nós estamos falando de 10 anos”. Depois desse primeiro episódio da falta de chuvas, Arthur decidiu implantar o sistema de irrigação em sua fazenda. “Meus vizinhos não entendiam, perguntavam por que eu estava investindo nisso, se por aqui quase sempre temos água”, conta.
Foto: Alexia Santi/ Agência Ophelia/ Café Editora
Neste ano, produções vizinhas chegaram a abandonar suas árvores, conforme comenta Moscofian, já que as plantas que sofreram com a estiagem rejeitaram seus galhos secos, comprometendo todo o desenvolvimento da lavoura.
Na Fazenda Santa Mônica, apesar de alguns frutos com desuniformidade de maturação nos pés, Moscofian afirma que a colheita não precisou ser adiantada. “Estamos colhendo normalmente, de junho a agosto estaremos nos trabalhos”, pontua o fazendeiro que cultiva as variedades mundo novo e catuaí amarelo e vermelho.
O fazendeiro é adepto, também, da colheita mecanizada, que reduziu o número de funcionários para 13 pessoas, e do sistema Safra Zero, que consiste na poda cíclica do cafeeiro, realizando-a com esqueletamento seguido de decote no ano de produção. “Começamos ano passado e, agora, onde tínhamos um ramo só, eu vou ter cinco. Um ano fico sem café, mas em compensação, no ano seguinte eu vou colher o dobro”. A ideia do fazendeiro é, no ano que vem, dividir a lavoura em setores e começar a fazer rodízio no sistema. “Com irrigação já produzimos 40 sacas por hectare. Vamos passar para 80 sacas com a Safra Zero”, afirma.
Apesar dos bons números das demais tecnologias, este ano Arthur explica que a irrigação foi seu trunfo. “Basta olhar nas lavouras em volta. O que faltou não foi adubo, foi água. Sem água, as outras coisas não funcionam”. Para introduzir a fertirrigação foi preciso fazer algumas mudanças na lavoura. Moscofian explica que teve de alterar as medidas da lavoura para conseguir reduzir espaçamento entre plantas e ruas, necessário para introdução da tecnologia.
Para fazer a irrigação dos 89 hectares, o fazendeiro utiliza a água do lago construído na propriedade, com 50 metros de desnível do lago até o tanque. O tanque, montado para escoar a água do lago à tubulação, é feito com materiais como bambu, que o proprietário também pesquisou para a construção.
Investimento
Para construir o equipamento que libera água para a irrigação de toda lavoura, Arthur Moscofian teve que gastar R$ 15 mil, apenas para resolver o problema de entupimento da tubulação com a terra roxa local. Ainda assim, ele enfatiza que procurou ter o mínimo possível de gastos. “Uma pessoa queria me cobrar R$ 350 mil em uma máquina, que ainda ia gastar energia. Aí eu fiz a cachoeira e agora a água bate em torno dela mesma e volatiliza o ferro 2 e o ferro 3, presentes na terra, impedindo que entupa”, explica.
Foto: Alexia Santi/ Agência Ophelia/ Café Editora
O equipamento ainda inclui duas tubulações – uma que puxa água, por gravidade, até as bombas e outra para o lavador de equipamentos –, a casa de máquinas, com as bombas, o tanque e, claro, o lago.
Uso regularizado da água
O caminho seguido pela Fazenda e, que vai de encontro aos investimentos em tecnologia da cafeicultura, tem, ainda, que ser trilhado junto a algumas exigências públicas. Arthur explica que teve que seguir diversas orientações e mostra as licenças e certificações que a Fazenda possui, entre elas o Certifica Minas Café, específica do Estado mineiro e que estimula uma gestão moderna da propriedade e incentiva a preservação ambiental.