Nos últimos meses, entidades capixabas tem se movimentado para barrar a possível importação de café robusta no Brasil. A demanda foi levantada pelas indústrias brasileiras de café torrado e moído e também de solúvel, grande compradora da variedade conilon, produzido principalmente pelo estado do Espírito Santo.
O café conilon produzido no Espírito Santo, em safras anteriores quando a seca ainda não havia afetado a produção // Foto: Guilherme Gomes/ Café Editora
O principal argumento é de que, em decorrência da seca que assolou as regiões produtoras do estado capixaba e sul da Bahia, os grãos estariam minguando no mercado interno. Ao que o setor respondeu com um levantamento independente, que reuniu entidades como a Federação da Agricultura do Espírito Santo, a OCB/ES e Centro de Comércio do Café de Vitória (CCCV) e parlamentares como o deputado federal Evair de Melo (PV/ES). O levantamento do setor aponta que entre os estados produtores de Espírito Santo, Rondônia e Sul da Bahia, ainda há pelo menos 4 milhões de sacas de conilon. Os dados, no entanto, ficaram acima do que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) entregou ao Ministério da Agricultura pouco depois, veja mais aqui.
Outra face do pedido aponta para a escalada dos preços da variedade no mercado interno, que atingiu a patamares históricos chegando a ficar acima de R$500 no mês de outubro do ano passado. Contudo, a Organização das Cooperativas Brasileira do Estado, a OCB/ES, resolveu contrapor a ideia de que a importação do café de outras origens poderia resolver o problema de altos gastos para a indústria nacional.
Segundo o levantamento de técnicos de mercado da entidade, o preço que a indústria de torrado e moído deverá pagar por saca deverá aos produtores de fora do país, pode variar entre R$525,00 com ICMS de 9%, e chegar a até R$725,00 com ICMS de 35%. Sendo que o valor da saca no Brasil é em média R$470,00. As avaliações simulam como se daria a importação de café robusta do Vietnã, avaliado pelas próprias indústrias nacionais como a melhor opção para se importar.
“Acreditamos que o alto valor da saca seja apenas um mecanismo inicial para abrir as portas para a importação e que no futuro a oferta aos nossos produtores será bem inferior à que é paga hoje, o que inviabiliza totalmente a atividade e fará com que muitos deixem o campo com destino às cidades grandes, que já estão com o mercado de trabalho esgotado”, disse o presidente do Sistema OCB/ES, Sr. Esthério Sebastião Colnago.
Os valores foram calculados tomando por base as cotações para a variedade na última quinta-feira, dia 26 de janeiro, com o custo do café FOB em R$387,85. Confira, abaixo, a tabela que apresenta os custos caso o ICMS seja de 17%:
Confira, clicando aqui, como ficaria o custo por saca importada nos outros dois cenários analisados pela OCB/ES.
Em uma conta rápida, Esthério Colnago aponta que mais de R$2 bilhões de reais deixaram de circular somente com as perdas do café no último ano e se a exportação for liberada, as perdas serão irreparáveis. “É preciso que o Governo pense não só nas perdas econômicas, mas também nas perdas sociais que essa decisão poderá trazer. Elas serão maiores que o prejuízo do Fundap, não dá para pagar para ver, é preciso agir e barrar essa decisão”, concluiu.
O mercado
A equipe do Sistema OCB/ES explica que pesquisou junto a empresas de importação o custo da saca com ICMS variando entre 9%, 17% e 35%. Já que não há uma porcentagem real até o momento, os técnicos trabalharam entre a menor (9%) e a maior (35%), havendo ainda uma intermediária (17%). “Reparem que em todas as simulações, o valor está bem acima do pago aos produtores brasileiros”, pontua a equipe.
Esthério ainda lembrou da situação do leite e do cacau, exemplos didáticos do prejuízo que a importação pode causar. De acordo com o presidente, mais de 60 municípios capixabas são dependentes da produção de café e se o recurso deixar de circular nessas cidades, a economia não desenvolve. “Isso causará desemprego não só na área rural, mas nos comércios, indústrias e serviços desses municípios”, afirmou.
Já para a indústria de café solúvel, o pedido de abertura de mercado é em regime drawback – quando a importação é isenta de impostos, mas que exige que o processo seja unicamente para fabricação e posterior exportação do produto. “Para a indústria de café solúvel brasileira, importar é a última e trabalhosa solução, no entanto inevitável diante do inusitado quadro de desabastecimento”, pontuou a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) em relatório emitido em agosto último.
“A gente pode pagar até R$1mil reais na saca de conilon, desde que lá fora esteja nesse preço também”, relativizou o diretor do SINCS (Sindicato Nacional das Indústrias de café Solúvel) e da Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel), Aguinaldo Lima, em entrevista exclusiva ao CaféPoint, em dezembro passado. Leia mais em 'Robusta: o impasse entre preço, volume e importação'.
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