Você sabe o que é uma tecnologia poupa-terra? Ela está entre os principais destaques da agricultura tropical brasileira pela capacidade de aumentar a produção de alimentos em áreas já utilizadas para cultivo, evitando desmatamento de florestas e áreas de matas nativas.
Exemplos concretos dessas tecnologias que já ocupam milhões de hectares em todo o território nacional, movimentando bilhões de reais, foram tema da palestra de abertura do terceiro dia de realização da Semana Internacional de Agricultura Tropical (AgriTrop 21), proferida pelo diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Guy de Capdeville.
O evento, promovido pela Embrapa e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), reúne mais de mil inscritos até 26 de março e está sendo transmitido nas plataformas digitais das duas instituições. Mais informações estão disponíveis na página do AgriTrop.
Uma das principais vantagens das tecnologias poupa-terra, na visão de Guy de Capdeville, é que atendem a produtores de todos os portes: pequeno, médio e grande. “Trata-se de modelos extremamente democráticos e que têm alcançado resultados impressionantes em todos os biomas brasileiros”, complementou. Em breve, a Embrapa vai lançar uma publicação sobre essas tecnologias.
O diretor apresentou exemplos de tecnologias poupa-terra já consolidadas no Brasil e que podem ser expandidas para outras regiões da faixa tropical do globo. Entre elas, destaca-se os sistemas ILPF, que integram lavoura, pecuária e floresta em uma mesma área. Esses modelos integrados podem utilizar cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de modo que haja benefício mútuo para todas as atividades. Em 2015, ocupavam uma área de aproximadamente 11 milhões de hectares no Brasil. Em 2021, esse número saltou para 17 milhões.
Os sistemas ILPF aliam produtividade e benefícios ambientais, especialmente para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa (GEE). “São modelos de produção que se adaptam com facilidade a todas as regiões brasileiras e têm sido bastante importantes para o aumento de renda e geração de empregos na região Nordeste do País, a partir do consórcio de macaúba com outras culturas”, explicou o diretor.
As tecnologias poupa-terra têm tido impacto significativo na exportação de frutas. Dados de 2018 apontam que a produção mundial de frutas é de cerca de 930 milhões de toneladas em pouco mais de 80 milhões de hectares. A contribuição brasileira é de 42,4 milhões de toneladas, ou seja, 4, 6% do total em uma área 2,5 milhões de hectares. Para cada hectare cultivado com frutas, dois empregos são criados, totalizando cinco milhões. As principais tecnologias sustentáveis utilizadas na produção de frutas são: produção integrada, gestão da cobertura do solo, manejo de água e nutrientes, controle de pragas e doenças e gestão pós-colheita.
Segundo Guy de Capdeville, a estimativa do efeito poupa-terra na produção de frutas para exportação, de acordo com dados do IBGE, aponta para um aumento de produtividade de 64% entre a década de 1990 e 2018. “O que mais salta aos olhos é a área poupada em 2018, que foi superior a 900 mil hectares”, enfatiza. O cultivo de 11 fruteiras – laranja, banana, melancia, manga, limão, uva, maçã, melão, tangerina, abacaxi e mamão – corresponde a aproximadamente 38% da área cultivada no Brasil, que é de cerca de 2,5 milhões de hectares.
Digitalização no campo
O professor da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Paulo Leme, endossou a afirmação de Guy de Capdeville de que a aplicação de tecnologias agrícolas, sociais e digitais é fundamental na construção de mercados sustentáveis no Brasil. Ele acredita que a agricultura 4.0 veio para revolucionar e democratizar a agricultura.
Prova disso é o café, cuja produção quadruplicou nas últimas cinco décadas, de forma sustentável, com redução de área plantada. No início do século XX, os cafeicultores produziam cerca de sete sacas por hectare. Hoje, esse número saltou para 30 e até 60, em casos de produtores com mais tecnologia.
Além da sustentabilidade, o diferencial no caso do café é a qualidade. “A cafeicultura familiar no Brasil é um exemplo para o mundo”, ressaltou o professor, lembrando que isso se deve à alta produtividade (tecnologia), rentabilidade (associativismo e cooperativismo) e diferenciação (cafés especiais e certificação). Ele citou o projeto “Ufla pelo comércio justo”, que certificou 18.500 famílias produtoras de café e laranja.
“A cafeicultura tem garantido à agricultura familiar qualidade de vida no campo e, acima de tudo, dignidade. As tecnologias sociais e mercadológicas perpetuam o trabalho das famílias e atraem jovens para o campo”, ponderou.
As informações são da Embrapa.