“Dar visibilidade às mulheres em toda a cadeia do negócio café” é a visão adotada como primordial pela Aliança Internacional das Mulheres do Café - IWCA Brasil, capítulo da International Women’s Coffee Alliance, em inglês. Ao longo do caminho, as armas destas mulheres tem sido a entrada em cada espaço onde havia café. Ocupar esses espaços e espalhar a mensagem de que juntas elas poderiam se ver melhor.
Agora, passados quase seis anos do primeiro encontro do capítulo brasileiro, outra missão da equipe está sendo cumprida. “Desde o nosso primeiro encontro, em São Paulo no ano de 2011, que sentimos a necessidade de saber quantas somos, onde estamos e quais a condições encontradas pelas mulheres que estão no Sistema Agroindustrial do Café- SAC”, relata Brígida Salgado, diretora presidente da IWCA Brasil.
Brígida Salgado é a atual diretora presidente da IWCA Brasil
“Desde que iniciamos nós precisávamos nos quantificar. Isso é uma orientação das Nações Unidas. Quantas são? É uma pergunta que sempre me fizeram. O que não se tem em números, não existe”, revela Josiane Cotrim, primeira presidente e também idealizadora da Aliança no Brasil. “Elas mesmas ainda não se conheciam. Mesmo as produtoras de regiões distintas de Minas Gerais. Nós não sabíamos quem eram as mulheres na Bahia, e por aí vai”, Josiane.
A ideia da pesquisa foi tomando forma no ano de 2015 durante o evento Women's Vendor. Ali, Josiane Cotrim se comprometeu publicamente a fazer esse levantamento de dados e a entidade começou a buscar parceiros. “Encontramos na Embrapa Café este apoio e apresentamos um projeto elaborado pela Sra. Cristina Arzabe e com minha colaboração no que se referia à nossa ideia sobre essa quantificação e qualificação das mulheres no SAC”, prossegue Brígida sobre a pesquisadora da Embrapa Café, que elaborou junto a ela o esboço da primeira pesquisa.
Em abril de 2016 ocorreu a primeira reunião presencial entre IWCA e mulheres envolvidas em entidades de pesquisa como universidades e empresas de pesquisa de café, que aconteceu em Brasília, nas dependências da Embrapa. Do planejamento à prática aconteceu neste mesmo mês, quando os questionários começaram a ser aplicados.
Essa conexão com as instituições de pesquisa foi muito importante para mostrar que não é só máquina no Brasil, acredita Josiane. “Essa é uma imagem que se tem lá fora. Então começamos a levantar esses dados desde as mulheres menos visíveis, das que colhem, trabalham no campo até as produtoras maiores”, conclui.
Reconheça-se
Todas as mulheres ligadas de alguma forma ao café podem participar acessando a pesquisa on-line, clicando aqui, até o fim deste mês de março. “Além da versão on-line, o questionário vem sendo aplicado em diversos eventos de café, tanto nacionais quanto regionais, como por exemplo, a Semana Internacional de Café, na Expocafé, na Semana do Fazendeiro, em Viçosa”, afirma Brígida.
As pesquisadoras se espalharam por onde pudessem estar as mulheres, inclusive em regiões de lavouras de café durante a colheita. “Estamos indo muito bem! Com questionários feitos na base da cadeia, até a ponta. Mais de 400 questionários a mão, com apanhadoras de café. É um trabalho colaborativo, horizontal”, conta Josiane.
Foto: IWCA Mantiqueira
Se o alicerce do trabalho é captar dados desde os espaços mais simples, o fim é audacioso. “Isso vai se tornar um livro eletrônico, uma coisa extremamente adiante, high tech”, revela. A apresentação de dados tão caros à organização, será realizada em três momentos. O primeiro será em Puebla, no México durante a V International Convention IWCA, evento que reúne todos os Capítulos da IWCA Global e que acontecerá entre os dias 3,4 e 5 de agosto de 2017; Em seguida os dados serão demonstrados na Semana Internacional do Café – 2017, em Belo Horizonte (MG), e por fim, no Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, promovido pelo Consórcio Pesquisa Café.
Com os resultados em mãos, as entusiastas querem planejar cada um de seus passos na IWCA. “Além de dar visibilidade ao trabalho das mulheres que estão envolvidas no SAC, desde as áreas de produção até as atividades de consumo, passando pelas áreas de pesquisa, acreditamos que esses dados poderão nortear as atividades da Aliança Internacional das Mulheres do Café. Propor políticas públicas, desenvolver programas de treinamento e capacitação para as mulheres dentre outras ações que poderão surgir a partir do momento que conheçamos esse universo”.
Mudanças
Do início da organização até hoje, como uma semente que vingou e deu frutos, muita coisa já evoluiu. “Você não via nenhuma mulher nas mesas em simpósios. Hoje, isso mudou. Nós já vemos mais e ela não é só a esposa do fulano. Ela é membro da IWCA, não está mais sozinha. Se ela vai fazer uma pergunta, ela vai se identificar e é esse poder de associar-se em uma entidade representada e legalmente instituída. Isso empodera as mulheres”, conta Brígida.
A pesquisadora Helga Andrade em campo aplicando questionários com estudantes da Ufla
Mas essas mulheres vislumbram ainda mais no horizonte. “É tudo envolvido em contexto grande. Para trazer mulheres da zona rural, envolvidas na pesquisa. É para realmente se incluir no século XXI, os estudos mostram que é preciso incluir mulheres”. Para chegar a esse ponto é preciso estar atento a exclusões sutis. “Geralmente, os treinamentos são voltados para os homens. Eles dizem que fazem e as mulheres não vão. Mas porque não vão? O horário é adequado? O ambiente é receptível? A mulher rural se sente como se não fosse o local dela, ali não coubesse ela”, esmiúça Josiane.