Um projeto conjunto entre o Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional (CIRAD) e o Café para Melhoramento de Sistemas Agroflorestais (BREEDCAFS) resultou na introdução de uma variedade de híbridos de café F1 arábica no Vietnã para ajudar a combater os efeitos das mudanças climáticas. Este projeto também foi realizado em parceria com o Northern Mountainous Agro-Forestry Science Institute (NOMAFSI), Detech Coffee e a Vietnamese Academy of Agricultural Sciences (VAAS).
Em 2017, o projeto BREEDCAFS foi apresentado pela primeira vez às províncias de Son La e Dien Bien, para ajudar a resolver a falta de diversidade genética encontrada nas fazendas de café vietnamitas. “O objetivo geral é apresentar e testar novos híbridos F1 arábica para ver se eles estão bem adaptados à região e desenvolver práticas agroflorestais que criarão sistemas de café de alto rendimento”, explicou o Dr. Luu Ngoc Quyen, Diretor Adjunto da NOMAFSI. “Eles serão mais adequados às mudanças climáticas e, com sorte, produzirão alta qualidade”, destacou.
De acordo com Quyen, o café arábica vietnamita foi desvalorizado no mercado global, em parte devido à falta de amplo conhecimento sobre boas práticas agrícolas e o clima volátil que fez com que fortes geadas destruíssem 3 mil hectares de cafeeiros em Son La, em 2019.
Em junho de 2018, o CIRAD e a BREEDCAFS importaram mudas de dois híbridos F1 arábica, o Starmaya e o H1-Centroamericano, e as forneceram a 12 agricultores vietnamitas.
Os híbridos F1 são da primeira geração entre duas variedades de plantas distintas que foram propagadas. Segundo Pierre Marraccini, fisiologista molecular do café do CIRAD, esses híbridos F1 arábica foram desenvolvidos pelo CIRAD e pela ECOM Agroindustrial há mais de 20 anos. Essas variedades foram testadas pela primeira vez em vários países da América Central.
Marraccini trabalha no projeto BREEDCAFS no Vietnã desde 2017, com foco no desenvolvimento, qualidade e genética dos grãos de café. Esses 12 agricultores receberam 400 mudas cada, o que equivale a 4.800 sementes no total. Estas foram plantadas inicialmente como “parcelas de demonstração” e geridas pelos próprios agricultores.
As primeiras safras ocorreram de outubro a dezembro de 2020, onde o café verde foi avaliado em laboratórios por parceiros privados, como Phuc Sinh, ECOM e illy. Aqui, as qualidades físicas, químicas e de xícara do grão foram estudadas.
“Os resultados iniciais das parcelas de demonstração mostraram que as novas variedades de café híbrido F1 tiveram um desempenho melhor do que as plantas Catimor locais em termos de rendimento e qualidade”, afirmou Dao The Anh, vice-presidente da VAAS. Esse resultado promoveu respostas positivas de agricultores, parceiros privados e governos locais, resultando na expansão do programa.
No verão de 2020 e 2021, a BREEDCAFS distribuiu mais 35 mil mudas. Hoje, no total, 40 mil dessas duas variedades F1 foram distribuídas aos agricultores locais, com a variedade Catimor sendo usada como controle. “Testes de campo e fenotipagem foram conduzidos em uma variedade de elevações, [então] podemos ver qual variedade é mais adequada para qual condição”, explicou Clément Rigal do CIRAD. O programa também lançou um processo de credenciamento em nível local para estimular a expansão de novas variedades.
No final do projeto, BREEDCAFS disse que todos os parceiros envolvidos continuarão trabalhando juntos, com o apoio local da ECOM Vietnã, para garantir o credenciamento para os híbridos F1 do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MARD).
“Assim que essas variedades forem credenciadas pelo MARD, os agricultores poderão aumentar a produtividade e a qualidade, melhorando assim sua renda. Essas variedades serão então propagadas e disseminadas em grande escala. O governo local em Son La e Dien Bien está planejando regenerar cerca de 2.2239 acres de antigas fábricas de Catimor até 2025”, afirmou Anh.
Espera-se que essa regeneração leve os agricultores vietnamitas a produzir café de melhor qualidade e a cultivar plantas mais resistentes aos efeitos das mudanças climáticas. “Isso significa que, com o tempo, as empresas processadoras nacionais e internacionais prestarão mais atenção à região e comercializarão o café a preços premium. Isso pode, em última análise, beneficiar toda a região, melhorando a renda, sendo mais sustentável e proporcionando empregos mais estáveis”, afirmou o vice-presidente da VAAS.
As informações são do Global Coffee Report / Tradução Juliana Santin