Os produtores de café da Sumatra se veem obrigados a encontrar maneiras de lidar com o tempo cada vez mais imprevisível, problema causado pela mudança climática que atinge as lavouras do país.
Alguns grupos de cafeicultores da ilha da Indonésia, ao norte de Gayo Highlands, dizem ter visto colheitas de café caírem em até 50% devido aos danos nas plantas causados por chuvas inesperadas ou por períodos de seca.
Estas precipitações dificultam os esforços para secar os grãos de café ao sol, enquanto as altas temperaturas resultam em pragas e doenças que anteriormente eram vistas apenas em altitudes mais baixas. Agora, elas ameaçam o café arábica de alta qualidade, que é produzido em locais mais elevados.
Felipe Gombossy/Café Editora
Cooperativas que vendem seus grãos como certificados pela Fairtrade estão usando o dinheiro obtido para investir em medidas para neutralizar os impactos do aumento de temperatura.
Por meio do Fairtrade, os produtores recebem um preço mínimo garantido pelo café e um prêmio adicional, que as comunidades decidem qual é a melhor forma de usar. Em Gayo Highlands, por exemplo, é investido em instalação de eletricidade, construção de bibliotecas, despesas médicas, compra de equipamentos para o trabalho no cafezal e fornecimento de treinamento agrícola.
Com a mudança climática, as cooperativas também estão voltando sua atenção para as lavouras, buscando maneiras de evitar que essas mudanças atinjam a produtividade. Por exemplo, a distribuição de variedades de café novas e mais resistentes que estão sendo desenvolvidas.
Os produtores também estão sendo encorajados a plantar árvores de sombra nos cafezais para proteger as colheitas, prevenir a erosão em encostas inclinadas e fornecer uma renda alternativa, como abacates, laranjas ou madeira, reduzindo a dependência de uma só cultura. As cooperativas enfrentam uma série de desafios, desde a população jovem, que procura empregos alternativos, ao envelhecimento dos cafezais.
Sobre as mudanças climáticas, o presidente da cooperativa Permata Gayo, Armia Ahmad, afirmou que acarretam em grandes alterações no calendário. “A safra normalmente é de outubro a janeiro, mas por conta das mudanças, agora não podemos mais prever isso”. Ele ainda acrescentou: “Este ano, em dezembro, deveria ser a estação seca, mas agora é só chuva”. A cooperativa conta com dois mil membros.
Bruno Lavorato/Café Editora
Além da distribuição de novas mudas e da plantação de árvores de sombreamento, a criação de uma cobertura para as áreas de secagem evita que o café seja danificado por conta da chuva durante o processo.
A gestão de outra cooperativa da região, a KBQB, também relatou mudança na colheita, aumentos nas pragas e doenças encontradas nas regiões de altas altitudes, além de uma queda de 50% na safra deste ano devido ao clima.
Outro problema local é a exploração ilegal de madeira. A cooperativa está implementando medidas ambientais porque segundo a equipe, as mudanças climáticas estão afetando a Indonésia e plantar árvores pode ser algo favorável.
O presidente da KBQB, Rizwan Husin, ainda informou que o plantio de outras espécies é estimulado entre os trabalhadores. “Distribuímos árvores aos produtores para que eles possam plantar em suas fazendas. Nós aconselhamos o cultivo de árvores de sombra e, para produtividade, o cultivo de espécies para retirar madeira e abacate”.
O sistema de reflorestamento administrado pela cooperativa fez com que um grupo de produtores plantassem 24 mil árvores em 32 hectares, com o intuito de criar uma agrosilvicultura sustentável em terras improdutivas. "Eles dizem que em 50 anos pode não haver mais café em Gayo e isso pode ser semelhante na África", comentou o presidente. "Não precisamos apenas de um movimento local, mas de um movimento mundial para o clima", finalizou.
As informações são do Independent / Tradução Juliana Santin