Por Silas Brasileiro
Os desafios serão muitos, já que nós, cafeicultores, estamos inseridos em um mercado especulativo, que está mais atento aos sinais de aumento dos fluxos de comércio do que à realidade do quadro de oferta e demanda do maior produtor mundial de café. A safra brasileira 2018/19 não gerará grandes excedentes para o próximo ciclo, já que o País consumirá e exportará quase o total colhido. Por isso, é equivocado denominá-la “supersafra”.
Precisaremos estar atentos ao cenário externo, principalmente às tendências dos juros dos Estados Unidos e aos desdobramentos das negociações relativas à guerra comercial sino-americana. Esses fatores, aliados ao andamento das reformas estruturantes no governo do presidente Jair Bolsonaro tendem a influenciar o câmbio brasileiro, uma variável fundamental para o planejamento do negócio café.
Diante de tantas incertezas, é fundamental que nós, cafeicultores, calculemos minuciosamente nossos custos de produção e nos aproximemos de nossas cooperativas para fortalecê-las e nos beneficiemos dos múltiplos serviços prestados, entre eles o apoio à gestão dos riscos mercadológicos, via facilitação do acesso a instrumentos de hedge.
No ano que se aproxima, as prioridades de trabalho do CNC continuarão sendo a preservação do Funcafé e a garantia de renda ao setor produtivo.
O fortalecimento do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), com a definição de um calendário de reuniões para o Conselho e seus Comitês Diretores em 2019, assim como a manutenção de uma estrutura adequada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para apoiar seus trabalhos e gerir com eficiência o Funcafé são fundamentais para garantir a sinergia com o setor privado na orientação da política cafeeira.
No tocante à garantia de renda, mudanças na política agrícola serão necessárias e facilitadas por uma gestão estável e duradoura do Mapa, que será capitaneado pela deputada Tereza Cristina.
As reformas aprovadas durante o Governo Temer, que permitiram a redução da taxa Selic para níveis historicamente baixos, criam condições para o protagonismo do setor financeiro privado na oferta do crédito agrícola e ampliação da concorrência entre os agentes financeiros. A menor necessidade de subvenção aos juros dos financiamentos abre espaço para trabalharmos a alocação desses recursos do Tesouro para a implantação de uma política mais abrangente de seguro de produtividade e de receita.
Com essa política agrícola mais ágil e moderna, que dê segurança ao produtor para quitar seus financiamentos e aumente o interesse dos agentes financeiros em ofertar crédito rural, poderemos trabalhar um programa de renovação de cafezais junto ao setor financeiro privado. Essa estratégia visa a ampliar a competitividade e a resiliência das regiões produtoras, garantindo o crescimento paulatino e equilibrado da oferta brasileira de café, de forma a acompanhar a maior demanda dos mercados consumidores, sem a ampliação de área produtiva.
Também em 2019, o CNC será o responsável pela organização do II Fórum Mundial de Produtores de Café no Brasil. Este evento ocorrerá nos dias 10 e 11 de julho, em Campinas (SP), e será uma oportunidade ímpar para mostrarmos ao mundo nossa cafeicultura e discutirmos, junto com outros países produtores e consumidores, questões chaves para a sustentabilidade econômica de nossa atividade. Entre elas, destacamos o aumento do consumo de café como principal estratégia para alcançarmos o equilíbrio entre a oferta e a demanda e, consequentemente, preços mais remuneradores.
Teremos muito trabalho em 2019 e somente conseguiremos aproveitar a janela de oportunidades que se abre para o setor café se estivermos unidos e atuando conjuntamente em prol de objetivos comuns.
Desejo a todos um Natal abençoado, cheio de paz, e um 2019 com muita união, harmonia e realizações em prol de nossa cafeicultura!
**Silas Brasileiro é Presidente Executivo do Conselho Nacional do Café (CNC)