Com uma safra de café abaixo do potencial em 2022, e uma possível melhora nos números de produção em 2023, Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), avalia que o alívio nos estoques apertados só deverá ser sentido a partir de 2024.
Em entrevista à Reuters, ele comentou que a firmeza das exportações e do consumo nacional de café não dá margem aos problemas climáticos, o que explica os preços futuros sustentados da commodity, enquanto o mercado físico não recua, apesar da colheita já avançada no País.
Desde o final de março, época em que os produtores no Brasil começam a se preparar para a colheita, os preços do café arábica subiram cerca de 100 reais por saca, para cerca de R$ 1.350, segundo indicador do Cepea/Esalq. Até o momento, o total colhido está próximo de 50% da produção prevista. “A partir de 2024, é possível que tenhamos oferta maior, mas no horizonte de 18 meses não se vislumbra mudança no cenário de aperto”, disse o presidente da ABIC.
Para justificar sua avaliação, Cardoso citou projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que, em seu último levantamento, reduziu a previsão para a safra nacional de 2022 a 53,4 milhões de sacas, com a colheita de arábica sentindo os efeitos de geadas e seca de 2021. Ele disse, ainda, que o país tem exportado 40 milhões de sacas ao ano, enquanto a demanda brasileira se aproxima de 22 milhões de sacas ao ano, o que resulta na redução de estoques.
As projeções da Conab tradicionalmente ficam abaixo das do mercado. O Rabobank, por exemplo, projeta a safra nacional deste ano em 64,5 milhões de sacas – ainda assim, o saldo é relativamente apertado, considerando exportações e consumo.
O presidente da ABIC avalia que as geadas de 2021 colaboraram para uma inversão de ciclo bianual do arábica em 2022, o que o leva a crer que, em 2023, a produção poderá superar a deste ano. “Mesmo com uma boa oferta em 2023, considerando a safra de 65 milhões de sacas, por exemplo, a exportação de 40 e consumo de 22, dentro deste cenário, se não tiver boas chuvas na florada [para 2023] e se tiver qualquer evento climático negativo, novamente teremos oferta justa na próxima safra”, afirmou.
Desafios
Cardoso, sócio-gestor da torrefadora Sobésa, maior indústria de café da Bahia e uma das maiores do Brasil, disse que o setor ainda não conseguiu repassar todos os custos da matéria-prima, que subiram mais de 150% em 12 meses – desde as geadas –, tendo repassado cerca de um terço disso. Assim, o cenário é de preços sustentados também para os consumidores do Brasil, segundo maior mercado global em consumo de café, atrás apenas dos Estados Unidos.
Ele comentou ainda que uma das diretrizes de sua gestão à frente da ABIC é promover o café torrado e moído brasileiro internacionalmente, cujas exportações giram em torno de apenas dezenas de milhares de sacas ao ano, enquanto os embarques do produto verde somam dezenas de milhões. “Produzimos não só a maior quantidade, mas temos os melhores cafés, e esta qualidade é percebida aqui, mas não é percebida pelo consumidor do mundo”, disse, afirmando que este plano de marketing ainda está sendo elaborado.
As informações são da Reuters (Por Roberto Samora).