A Universidade Federal de Lavras (UFLA), no Sul de Minas, vem pesquisando uma forma de tornar os pés de café resistentes às baixas temperaturas. Cientistas testam a aplicação do selênio – mineral com um alto poder antioxidante – na lavoura. Resultados preliminares indicam que a substância pode evitar que as folhas fiquem queimadas.
No ano passado, geadas castigaram as plantações mineiras. Na época, um levantamento da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) mostrou que 194 municípios foram afetados, sendo um total de 173,6 mil hectares atingidos.
Evitar novas perdas da safra, no entanto, será um projeto de médio a longo prazo. Os estudos envolvendo selênio e café ainda são incipientes, mas há potencial. O projeto da UFLA conta com parceria da Universidade da Califórnia em Davis (UC-Davis). A pesquisa faz parte da tese de doutorado do discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo (PPCS), Gustavo Ferreira de Sousa.
Segundo Gustavo, as plantas precisam de água, luz e temperatura para se desenvolverem. Quando esses fatores ambientais estão em condições extremas, seja pela baixa ou alta quantidade (seca, geadas), ocorre um estresse na planta, reduzindo o desenvolvimento e prejudicando a produtividade.
“Entre as alternativas de combate a essas respostas fisiológicas negativas está a nutrição mineral. Inserimos determinados nutrientes ou elementos benéficos, que vão desempenhar funções específicas dentro da planta”.
O professor da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (Esal), da UFLA, Luiz Roberto Guimarães Guilherme, conta que foi visível a eficiência do selênio na planta: “devido à experiência em outras culturas, já tínhamos a expectativa de que daria certo. Nossos estudos se concentram sobre o frio”.
Guilherme confirma que o selênio melhora o metabolismo, sobretudo aquele ligado ao conteúdo de açúcares na planta. Ele também pode aumentar a concentração de clorofilas, combater radicais livres e ativar enzimas.
“Isso faz com que, ao chegar o frio, essas plantas sofram menos com problemas das geadas, continuando ativas e produzindo. Com esses estudos, vai ser possível levar essa tecnologia ao produtor e reduzir perdas e desperdícios”, destaca.
A primeira etapa da pesquisa foi realizada na UFLA. Em uma câmara com controle de temperatura, umidade e luminosidade, os pesquisadores colocaram as mudas de café com e sem selênio e inseriram condições extremas. Depois, voltaram a temperatura ao normal para observar como a planta reagiria.
“Não adianta sobreviver ao frio se depois não se recuperar, quando volta à sua condição normal. Por isso, nossa intenção também é entender qual é o mecanismo de resposta da planta ao selênio, buscando um entendimento molecular para saber quais são as vias que estão respondendo a esse tratamento”, explica o professor Antônio Chalfun Júnior, do Instituto de Ciências Naturais.
As informações são do Jornal Hoje Em Dia e do Portal Ciência UFLA.