Estudo coordenado por pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA) aponta que o mercado consumidor de cafés especiais no Brasil é composto por pessoas interessadas por novos métodos de preparo, origens e sustentabilidade, cada vez mais dispostas a buscar aprendizado e a ensinar outros consumidores sobre o caminho deste universo particular. A pesquisa aconteceu em 2017, em parceria com estudiosos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Em fase de publicação científica, o estudo traz informações inéditas sobre o mercado nacional de cafés especiais.
Por meio da aplicação de 834 questionários, buscou-se estabelecer o perfil dos consumidores brasileiros de cafés especiais e propor um modelo de segmentação para esse mercado, de forma a melhor atendê-lo e orientar as estratégias de todos os atores dessa cadeia, públicos ou privados.
No mercado brasileiro observam-se diferentes conceitos de café especial, especialmente pelo histórico de desenvolvimento da indústria nacional e pelo ainda restrito (porém crescente) conhecimento do público acerca dos critérios de qualidade do produto. Assim, neste estudo, consideraram-se especiais aqueles cafés com claros atributos de diferenciação na perspectiva do consumidor, seja por características organolépticas da bebida (sabor, aroma, corpo) ou por atributos ligados ao sistema de produção e preparo (certificações, orgânicos, entre outros).
Os principais critérios para identificação e diferenciação dos cafés especiais, na percepção dos respondentes, foram: sabor e aroma da bebida; qualidade superior; torras mais claras e bebida mais suave; disponibilidade de informações sobre a origem, cafeicultores e formas de produção; presença de certificações e outras garantias da adoção de práticas sustentáveis; e maior proximidade dos cafeicultores.
Embora muitos bebam cafés da categoria tradicional, a tendência é reduzir ou mesmo eliminar o consumo desse tipo entre os consumidores de cafés especiais. Eles já fazem parte da rotina diária da maioria dos respondentes – cerca de 60% dos entrevistados. Além disso, 74% dos respondentes declararam intenção de aumentar o consumo de cafés especiais, o que demonstra o grande potencial de crescimento desse mercado no Brasil.
Os principais locais de consumo são o ambiente doméstico e as cafeterias especializadas, especialmente pela qualidade dos produtos e pela disponibilidade de métodos de preparo da bebida. A curiosidade por tais formatos (Chemex, Hario v60, French Press, entre outros) e envolvimento do consumidor com o preparo da bebida são tão grandes que aproximadamente três em cada quatro respondentes declararam ter adquirido algum deles para consumo doméstico. Quanto aos formatos de café adquirido, destacam-se o torrado em grãos, seguido do torrado e moído, das cápsulas e, por fim, dos grãos verdes. Os resultados apontam que a busca pela diferenciação se dá não apenas nos tipos de bebida e origens, mas também nas formas de preparo.
Dentre as principais motivações para consumo dos cafés especiais estão o sabor e aroma da bebida, o prazer em seu consumo, o conhecimento sobre história e origem dos grãos e o apoio a iniciativas ambiental e socialmente responsáveis. A importância da comunicação dessas características ao consumidor final é evidenciada pela disposição de mais de 70% dos respondentes em aumentar seus gastos com cafés especiais, desde que mais informações relacionadas ao produto fossem disponibilizadas. Atualmente, as principais formas de acesso aos dados são a embalagem do produto, via online ou diretamente com um barista ou outro profissional da área. Para os profissionais, a dica é comunicar informações precisas e detalhadas, sempre com fotos e boas histórias.
A comunicação dos diferenciais dos cafés sustentáveis e certificados faz parte desta estratégia, e, de acordo com a pesquisa, mais de 80% dos respondentes consomem estes produtos. Suas principais motivações são a proximidade do cafeicultor e a garantia de preços mais justos, possibilitando melhoria de qualidade de vida, preocupação ambiental (fauna, flora e recursos naturais), rastreabilidade do produto, não utilização de agrotóxicos e maior segurança alimentar, com garantia de condições de trabalho justas e adequadas.
Outro destaque da pesquisa é o grande percentual de respondentes com ligações profissionais ao mercado de café (commodity ou especial), nas áreas de produção, torra, cafeterias/varejo, ensino ou pesquisa. Isso poderia indicar tanto uma abertura maior entre os profissionais do café para experimentação dos cafés especiais, ou a busca por profissionalização neste mercado por consumidores apaixonados.
Com base nessas e outras informações, identificaram-se três segmentos de mercado, diferenciados essencialmente por suas motivações para o consumo de cafés especiais e critérios utilizados na seleção e aquisição do produto. Novas informações serão divulgadas em breve, após publicação do estudo em periódico científico de alto impacto.
Autores: Msc. Elisa Reis Guimarães, Prof. Dr. Paulo Henrique Leme, Prof. Dr. Daniel Carvalho de Rezende, Dr. Sérgio Parreiras Pereira e Prof. Dr. Antônio Carlos dos Santos.