Por Cristiana Couto
Mais de 40 mil pessoas são esperadas na 27ª edição da Expocafé, uma das mais tradicionais e importantes feiras da cafeicultura no Brasil, que acontece até 6 de junho em Três Pontas, Minas Gerais.
Com mais de 140 expositores e em novo lugar – o aeroporto da cidade – a feira, realizada pela Cocatrel (Cooperativa dos Cafeicultores) com organização da UFLA (Universidade Federal de Lavras), prefeitura de Três Pontas e Espresso&CO, trouxe personalidades do setor tanto para palestras, que acontecem ao longo do evento, quanto para a cerimônia de abertura, que aconteceu ontem (3) pela manhã.
A tarde de ontem foi recheada por palestras em torno da mecanização e da falta de trabalhadores rurais nos cafezais, tema da 13ª edição do simpósio. As discussões foram abertas pelo acadêmico Fábio Moreira da Silva, da UFLA, que discutiu "A evolução da mecanização na cafeicultura em 25 anos de Expocafé". ao comentar sobre a falta de mão de obra na cafeicultura, problema que afeta não só o Brasil, mas o mundo produtor (são cerca de 50 países que produzem café no planeta), Silva foi enfático: "Temos colhedoras suficientes, mas não temos operadores para estas máquinas". O diagnóstico, de 2024, também indica que a questão para essa ausência não é salarial. Segundo o especialista, que trata do assunto há quase três décadas, um operador ganha de R$ 3,7 mil a R$ 5 mil mensais. "Mas que jovem hoje quer trabalhar no campo?", desafia ele.
A resposta foi dada pelos colegas que o seguiram. De acordo com Vanusia Nogueira, diretora executiva da OIC (Organização Internacional do Café), a chave é a inovação. "A tecnologia é o atrativo no campo", diz ela.
Em sua palestra, que fechou os trabalhos do dia, Vanusia apresentou estudos feitos pela OIC sobre a mecanização e as novas gerações em outros países produtores, como Índia e países africanos, que apontam a necessidade de inovação – para um mundo globalmente urbanizado – e propósito são essenciais para trazer os jovens filhos de cafeicultores de volta ao campo. O problema é especialmente grave nesses países, em que a média de área cultivada por um produtor gira em torno de 0,4 hectares, uma área pequena se comparada à de pequenos produtores brasileiros (cuja pequena propriedade tem dimensão de até 5 hectares) e que desperta, nos cafeicultores, o "medo" da mecanização. "É preciso entender como incentivá-los a ficar no campo para que o cultivo de café não seja abandonado", analisa ela.
O pertencimento à comunidade pode, segundo Fabrício Teixeira Andrade em sua fala sobre "Estratégias de atratividade das futuras gerações de profissionais da cafeicultura", incentivar a permanência dos jovens nas lavouras. "A pandemia gerou a maior crise de contratação de gente na história", alerta.
Inovação, hoje em dia, também gira em torno da inteligência artificial – uma ferramenta que começa a ser usada com força na cafeicultura. "Pode-se ignorá-la, mas quem o fizer, ficará para trás", garante Anderson Rocha, da Unicamp, em "Inteligência artificial, perspectivas e desafios para o profissional do futuro", outra das palestras do simpósio. A partir dela, a condução de drones e de sensoriamento do solo, por exemplo, podem, sim, trazer as gerações de um mundo virtual para a realidade do campo.
Amanhã, último dia da feira, haverá paineis como o de políticas públicas para mulheres no café e desenvolvimento tecnológico e inovação. Clique aqui para conferir a programação completa do dia.