Por Rodrigo Costa*
O mercado acionário caminhava para um encerramento positivo na semana passada, até os agentes reagirem negativamente às notícias de que a China havia encurtado sua viagem dentro dos Estados Unidos, com o cancelamento da visita de oficiais ligados à agricultura ao estado de Montana.
O FOMC (equivalente ao COPOM brasileiro) diminuiu os juros em 0.25%, dentro do esperado, mas sinalizou uma pausa em novos cortes, salvo algum evento economicamente negativo.
A semana começou com grande volatilidade puxada pela alta de 15% do petróleo após os ataques às refinarias da Arábia Saudita, no domingo, dia 15 de setembro, deixando uma baixa no índice do CRB na segunda-feira que começou a ser preenchido nas sessões seguintes.
O dólar americano se valorizou contra o real brasileiro – dado a diferença dos juros estreitando entre os dois países e com o prognostico de queda maior do custo do dinheiro no Brasil – e, com isto, pressionou as cotações do café em Nova Iorque para baixo de US$ 1.00 por libra peso novamente.
A venda no terminal se mostrou mais agressiva com a expectativa de precipitações já a partir do meio dessa semana. A quebra de níveis de suportes técnicos importantes para o curto-prazo fez com que os especuladores voltassem a vender. Entretanto, não foram os únicos, já que os comerciais aproveitaram as altas recentes para também fixarem café, como mostrou o relatório de comitentes divulgado na sexta-feira.
No COT, a parte vendida dos comerciais, em grande parte representando as vendas das origens, aumentou em 10.001 contratos, ou 2.84 milhões de sacas, entre os dias 11 e 17 de setembro. Os fundos, no mesmo período, recompraram 11.393 lotes, ou 3.23 milhões de sacas, e o mercado caiu US$ 1.25 centavos por libra – leitura negativa e que pode atrair novas vendas hoje (23).
Claro que caso as chuvas não sejam confirmadas e eventualmente não se mostre um quadro mais regular de precipitações – principalmente se abrir floradas – o mercado pode encontrar suporte e voltar a subir, ou seja, o clima continuará sendo monitorado de perto.
Do lado fundamental, a CONAB revisou para baixo a estimativa de produção do Brasil da safra atual, 2019/2020. Segundo a entidade, o total produzido ficou em 48.99 milhões de sacas, sendo 34.47 milhões de arábica e 14.52 de canéfora (conilon).
Sem demérito ao número oficial, é bom notar que a percepção do mercado é de que a safra seja pelo menos 10% maior do que o divulgado, motivo pelo qual os preços da bolsa não alteraram a trajetória negativa.
Um banco respeitado no mercado agrícola disse às agências de notícias que o atual ciclo mundial deve ter um déficit total de 4.1 milhões de sacas, e o anterior, 2018/2019, teve um superávit de 6.9 milhões de sacas. A instituição financeira crê que preços devam ficar em US$ 105 centavos por libra peso.
Os estoques de café nos Estados Unidos subiram 125.134 sacas em agosto, totalizando 7.224.309 sacas, ou o mais alto patamar desde agosto de 2017 e o terceiro maior desde janeiro de 2002.
Com os diferenciais ainda se mantendo caros para embarques nos países produtores, é de se imaginar que no pico do consumo, o outono e o inverno no hemisfério Norte, a utilização de inventários nos destinos aumente – assumindo que as qualidades estocadas nos armazéns sejam comercialmente atrativas.
Um fechamento do contrato de dezembro de 2019 da ICE abaixo de 98.00 centavos deve levar Nova Iorque de volta para a parte baixa do intervalo que temos negociado, US$ 93.40 a 105.00 centavos por libra.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting.