A Organização Inter-Africana do Café (OIAC) uniu forças com a Organização Internacional do Café (OIC) e o Centro para Agricultura e Biociências Internacional (CABI) para elaborar um programa de intervenção de emergência para aliviar o impacto da Covid-19 no setor cafeeiro da África.
A iniciativa, estimada em € 12 milhões (cerca de US $ 14,3 milhões), visa aliviar as perturbações do mercado, alimentação, nutrição e desafios de segurança de renda enfrentados por milhões de pequenos cafeicultores em 11 países, por um período inicial de três anos.
O risco representado pela pandemia no setor agrícola da África continua crítico, dado que o setor é responsável por 23% do Produto Interno Bruto do continente, com exportações agrícolas e de alimentos em média de US$ 35 bilhões a US$ 40 bilhões anuais.
Desse total, incluindo café e alimentos, US$ 8 bilhões fluem por meio do comércio intra-regional a cada ano, de acordo com um relatório da McKinsey, pedindo a necessidade de proteger os sistemas alimentares da África contra a pandemia.
A OIAC afirma que o coronavírus revelou a fragilidade crítica dos sistemas agrícolas africanos e, em particular, a preocupação crescente de sua cadeia de valor do café. A OIC projeta uma perda de exportações avaliadas entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões, afetando, potencialmente, 6,6 milhões de empregos no setor cafeeiro, especialmente na região da África Oriental.
“Esta pandemia foi um grande golpe para a economia cafeeira. Os preços mundiais já eram ruins para os produtores no início do ano anterior à Covid-19. Infelizmente, o surto piorou a tendência de queda no preço do café em desvantagem dos pequenos produtores vulneráveis. É por isso que estamos trabalhando para construir uma resiliência que proteja nossos produtores", disse o Dr. Fred Kawuma, secretário-geral da OIAC.
As atividades ao longo de toda a cadeia de valor em todo o continente foram interrompidas, levando ao armazenamento de café nas fazendas, preço reduzido para os cafeicultores, baixo consumo interno devido ao fechamento de unidades de torrefação de café, interrupção de movimentos e reuniões e fechamento de pontos de distribuição.
Esse projeto em conjunto da OIAC, da OIC e do CABI visa enfrentar esses desafios e contribuir para os esforços em andamento no âmbito do Africa Coffee Facility (ACF), criado para promover o consumo doméstico de café no continente.
O programa contribui para sistemas de apoio e práticas agrícolas que assegurarão a intensificação sustentável dos sistemas de cafeicultura de pequenos produtores, de maneira a garantir a segurança de renda livre de choques de preços nos mercados internacionais, segurança alimentar e nutricional dos sistemas cafeeiros de pequeno porte e promoção da criação de empregos empresariais para além da agricultura, tanto nas áreas rurais como urbanas.
“No prazo imediato, o programa se concentrará na construção de um sistema em que os pequenos produtores de café possam ganhar uma renda vital ao incorporar sistematicamente safras nutritivas de alto valor que proporcionam renda durante as entressafras do café. Consequentemente, garantirá que os países produtores continuem com segurança alimentar em meio à redução das importações de alimentos devido a Covid-19 e mitigará quaisquer interrupções futuras”, contou Denis Seudieu, economista-chefe da OIC.
A médio e longo prazo, a resiliência criada tornará as operadoras elegíveis para pedidos de financiamento de empréstimos e capacidade de consolidação dos seus investimentos, gerando negócios para os bancos.
“Além de garantir renda, segurança alimentar e nutricional, as safras complementares propostas formarão a base para o desenvolvimento de pequenas e médias empresas rurais na agregação, classificação, embalagem e distribuição de café e produtos das safras associadas”, aponta Morris Akiri, Diretor Regional do CABI.
Os custos projetados desta iniciativa estimados em € 9,6 milhões (cerca de US$ 11,4 milhões), serão cobertos por meio de doações de Parceiros de Desenvolvimento com um adicional de € 2,4 milhões (cerca de US$ 2,9 milhões) retirados da contribuição de contrapartida dos países beneficiários.
A proposta de programa apoiada pela Comissão da União Africana foi submetida à consideração da Comissão Europeia. Também foi submetido ao Conselho Internacional do Café para apoio em sua próxima sessão em setembro de 2020.
As informações são do Global Coffee Report / Tradução Juliana Santin