Nove vezes campeão. Nove vezes tendo seu café considerado o melhor em concursos disputados no estado do Espírito Santo. “Eu ‘panho’ a dedo só grãos maduros e depois eles são lavados. Retiro os grãos boias e depois vai para o despolpador. Depois tiro a umidade no terreiro ao ar livre. Finalmente, vai para o terreiro coberto e estufa”. Parece claro e direto para quem lê, mas o produtor João Delpupo sabe os percalços do caminho.
Segundo João, enfrentando os desafios a família ainda conseguiu produzir 47 sacas de café especial
Há sete anos produzindo café conilon, Delpupo é cooperado da Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi) e viu uma das piores secas da história do estado do Espírito Santo em 2016. E conta que sua propriedade não foi exceção. “A seca afetou sim a lavoura. Não tenho água pra irrigação e a nascente secou 80%”, revela. A produção que tinha média de 80 a 85 sacas por safra, no ano passado foi de apenas 58 sacas. Dos 14 mil pés de café plantado, o produtor tem a metade em cafeeiros conilon e espera que já nesse ano a produtividade volte ao normal, com média de 30 sacas por hectare.
O produtor, que já trabalhou na capital, Vitória (ES), hoje cultiva com cuidado seus cafeeiros em Afonso Cláudio. Ainda em 2013, quando venceu os concursos III Prêmio Pio Corteletti – Conilon Descascado – e o II Prêmio Conilon Especial, João lembrou a importância de trabalhar em família. “Minha esposa é uma heroína na roça, ela toma conta da lavoura na minha ausência, os cuidados com a secagem do café eu nem coloco a mão, é tudo com ela”, afirmou à Coopeavi na época.
Para enfrentar a seca
A altitude da propriedade começa em um terreiro a 728 metros e termina em locais com até 845 metros. A característica, no entanto, não poupou a necessidade de novas técnicas para enfrentar a seca. “Eu fiz caixa de contenção nas estradas para aumentar as nascentes”, conta João Delpupo.
O produtor construiu, então, duas caixas que armazenam 20 mil litros cada uma. “Essas caixas são feitas nas estradas, aí recolhe as águas da enxurrada e infiltra na terra e abastece as nascentes. Tem melhorado muitas nascentes por aqui. Toda chuva que cai não vai pra enxurrada, fica retida”, explica.
Segundo João, enfrentando os desafios a família ainda conseguiu produzir 47 sacas de café especial. “Esse ano está muito bom. A chuva chegou cedo aqui na região e agora antecipou a florada para a próxima safra”, explica. Quando perguntamos qual a expectativa a temporada que virá em relação à 2016, a resposta é assertiva: “Com certeza melhor!”.
O segredo
Para além da época da seca, o produtor revela que procura levar à diante suas técnicas para produzir com qualidade. “Comecei a colher em 2009 e já ganhei nove vezes. Nos Concursos, estadual, municipal e Pio Cortelett. Tenho passado as técnicas. Pra muitas pessoas, tenho recebido visitas até de outro pais (México)”, conta Delpupo.
Em 2016, ele seguiu em destaque, conquistando o 4º lugar na categoria Conilon Cereja Descascado do Prêmio Pio Corteletti e vencendo a primeira edição do Concurso de Micro Lotes de cafés especiais, Single Origin. Mas, afinal, quais as dicas que este multicampeão tem passado para outros produtores? “O segredo é a colheita e pós-colheita. Ou seja, cuidar bem antes e depois da produção”.
O café que venceu mais recentemente, por exemplo, foi todo colhido manualmente e com muita paciência, conta o produtor. “Faço minha colheita em até três vezes e só pego grãos maduros”. Ele explica, ainda, que prioriza o tempo certo de cada atividade na lavoura e busca não utilizar produtos que possam ser agressivos ao meio ambiente local. “Não trabalho com veneno. Só na roçadeira e com a poda na hora certa. O mais importante é gostar do que a gente faz. Se fizer com amor o trabalho os resultados vêm”, declara o cafeicultor.
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