A OCEMG - Organização de Cooperativas do Estado de Minas Gerais - no período de 9 a 18 de novembro de 2007 patrocinou viagem ao México e Costa Rica com o objetivo de conhecer as condições de cultivo, de economia e de organização em 2 tipos de cafeicultura, na América Central e América do Norte. Participou desta viagem um grupo de dirigentes de cooperativas de cafeicultores do sul de Minas, no total de 11 pessoas.
O programa de visitas e contatos no México compreendeu a viagem da Cidade do México para a região de Xalapa, no estado de Vera Cruz, sob a coordenação e apoio do Conselho Regulamentação do Café de Vera Cruz. Foram feitas visitas em 3 fazendas de café - Fazendas de Francisco de La Vecchia, Kassandra e Casablanca - e em 3 usinas de preparo do café pós-colheita, em beneficiamentos úmidos e secos - beneficiamentos Pahsa, de José Luiz Rojos Geo e de Animas, Ansa.
Além das regiões de café no estado de Vera Cruz, são importantes na cafeicultura mexicana os estados de Chiapas, Oaxaca e Guerrero. (ver mapa)
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Fonte: site www.losmejoresdestinos.com
A cafeicultura naquele país é feita quase totalmente sob sombra, geralmente muito fechada. As propriedades são pequenas (média 1,5 ha), existindo também grandes propriedades (+ 200 ha), estas já mais tecnificadas. O uso de fertilizantes é pequeno e a produtividade média é baixa, (8-10 sacas/ha).
A produção de café compreende cerca de 300 mil sacas/ano de café robusta e o restante de arábica (3,7 milhões sacas), sendo que, nessa espécie, predominam as variedades Typica, Caturra, Híbrido Garnica (menor quantidade) - igual ao catuaí -, Mundo Novo e Catimores (Costa Rica 95 e Azteca Oro).
O México está procurando introduzir um Typica criollo melhorado, e com interesse no Geisha, com tendência a dar prioridade às variedades com maior potencial para qualidade de bebida.
Os cafezais são sombreados por ingazeiras - árvores nativas - e introdução, nos últimos anos, de Grevillea, Cedro Indiano e combinação com Macadâmia (Fazenda Kassandra). No geral a sombra é excessiva, existindo trabalhos, com sucesso, raleando sombra. A sombra fechada torna a lavoura mais auto-sustentável, exigindo menor uso de adubos, porém reduz a produtividade. Existem bons resultados com recepa baixa, em lotes, acoplada ao repovoamento e redução de sombra.
A reciclagem de folhas e outros resíduos orgânicos, oriundos das árvores de sombra, dos cafeeiros e das das ervas daninhas (por roçadas ou uso de herbicidas de contato), trazem um bom nível de manejo ecológico nos cafezais. Mas a ocorrência pequena de broca, de Koleroga, cercosporiose de Phoma e de ferrugem, já está causando prejuízos em cafeeiros mais carregados. O Costa Rica 95 se mostra bem resistente à ferrugem, mas parece apresentar problemas de má qualidade da sua bebida.
O uso de mudas duplas/triplas (técnica introduzida da Costa Rica) e a falta de desbrota, no geral, traz um número excessivo de hastes por planta. Sendo assim, na pós-recepa, deve-se conduzir menor número de hastes, que assim engrossam, produzem ramos laterais maiores, mais produtivos e o fechamento é retardado. No espaçamento mais indicado e observado nas fazendas tecnificadas, de 2 x1 m, deve-se conduzir 2 hastes por planta.
A colheita é manual, parcelada, em 3-4 vezes/safra. Colhe-se o café maduro, com rendimento entre 40 - 80 Kg de café/pessoa/dia. O número de colhedores necessários é grande, em algumas fazendas maiores (300 ha) se utiliza até 1.500 colhedores.
Preparo de café e usinas
Nas 3 usinas de preparo de café pós-colheita visitadas, verificou-se que todas possuíam estrutura/sistema de preparo por via úmida, tendo como resultado, a maior parte de produção de cafés despolpados. As usinas atendem tanto às fazendas dos proprietários como a dos pequenos produtores, que entregam o café em cereja.
O processo começa pela recepção/inspeção em plataformas ou tanques, a qual, em muitas usinas, separa os cafés de acordo com a origem (baixa, média, alta altitude). Segue-se a flutuação do café em tanques/sifão para separar os bóias/chochos e parte dos brocados, o que dá origem a um café de 2ª, ficando os frutos de café que afundam (mais densos) compondo o café de melhor qualidade, estes podendo, ainda, serem separados em bica separadora (por densidade), seguindo para o despolpador (usual de cilindro horizontal) ou vertical (Penagos-colombiano) mais moderno. O café que flutua e/ou o menos denso pode ser destinado a despolpadores de disco.
Uma vez despolpado o café é colocado em tanques de fermentação (18 - 24 h em regiões mais quentes e até 30 - 36 h em mais frias), sendo lavado, bombeado e pré-secado em aeradores de cascata, sob forte fluxo de ar quente (60ºC). Estes aeradores vem sendo mais recentemente usados (em pequena escala) no Brasil. Dos aeradores, o café vai saindo, através do próprio fluxo de ar abaixo da camada de grãos, indo para os secadores - sendo os mais usados os chamados de Guardiola - ou seja, secadores cilíndricos horizontais rotativos, onde a temperatura do ar é usada no nível de 50-70ºC, sendo a seca completada em 24-30 horas. Em alguns benefícios existe a separação (em bica separadora) do café já despolpado e, também, secadores verticais, grandes, para atender aos guardiolas menores.
Não se utiliza qualquer secagem em terreiros, diferentemente do Brasil.
O combustível usado varia, sendo comum a casca do pergaminho, óleo combustível, gás ou lenha, sempre em combinação, para reduzir custos. No benefício chamado de seco, existe o maquinário de descasque, este um sistema cilíndrico, tipo brunidor, seguindo-se a classificação em conjunto de peneiras, depois separação em float-air e finalmente em eletrônicas. O padrão final dos cafés é bom, sem defeitos e, normalmente, de bebida suave.
No final, o preparo/beneficiamento resulta em 3-4 tipos de café: 1 de bóias (flotantes) e 2 a 3 de densidades maiores, nos despolpados. Além disso, em outra região do México (Guerrero) se produz um pouco de café natural (sem despolpar).
Consumo e comercialização
O consumo de café no México é de cerca de 1,2 - 1,5 milhões de sacas/ano, pouco mais de 1 Kg/pessoa/ano. Pode ser considerado um valor muito baixo em relação ao Brasil (4-5 kg/pessoa/ano). No entanto, o aumento do consumo no país é objeto da política do governo. O baixo consumo nas residências, segundo mostrou uma pesquisa, é razão da falta de cafeteiras nos lares, as quais facilitariam o preparo da bebida.
As usinas de grandes compradores (como a ANSA - Esteve Irmãos) se localizam em vários estados e chegam a comercializar 30% do café do México. Elas vem buscando mercados diferenciais de qualidade (semi ou lavado), com atendimento a várias certificadoras e denominação de origem. Elas também possuem departamentos de apoio aos produtores, visando melhoria de qualidade. Possuem, também, fazendas de café (Xalapa, Chiapas e Puebla), com área de 2.500 ha de café. Os equipamentos de preparo são oriundos da Costa Rica/Colômbia e pouco do Brasil (Pinhalense). Para eles, é preciso mudar a tradição para produzir o que o mercado está pedindo.
As exportações do café do México ocorrem, em média, 40% para os EUA e 50% - 60% para a Europa (sendo o frete para a Europa mais barato, pelo retorno de containers vazios). Parte do café para os EUA é exportado via terrestre, sendo pequena parcela de cafés já industrializados (solúvel, descafeinado e torrado/moído).
O conselho regulador de Vera Cruz e a certificação de cafés
O Conselho Regulador de Café de Vera Cruz é uma organização civil, que congrega produtores e usinas, contando com cerca de 2.000 cafeicultores e 40 usinas. Possui 1 conselho diretor e uma direção geral. Sua função principal tem sido a certificação do café por região de origem como "Café de Vera Cruz" - o que já foi conseguido legalmente a partir de 2004 - e que agora tem sido implementado por meio de seus técnicos e com apoio no laboratório de avaliação de qualidade.
As bases para caracterizar a região de origem foram:
- Clima temperado úmido;
- Altitude favorável (750-1500 m);
- Solos vulcânicos;
- Uso de sombra;
- Bom preparo;
- Boa tradição.
Esses fatores em conjunto levam a grãos grandes, de cor verde-azulada, aroma intenso, acidez pronunciada, sabores característicos/especiais - frutas e achocolatados -, bom aspecto de torração e, no final, o objetivo de uma bebida (taça) limpa.
A certificação é feita por meio de 2 setores do Conselho: A UV (Unidade de Verificação) e o OC (Organismo de Certificação). São considerados o meio geográfico, com seus fatores naturais e humanos.
A certificação ocorre tanto para o café beneficiado (verde), como no café torrado (de indústrias), custando US$ 1,50/saca. Compreende 74 municípios, em 9 regiões. Na certificação são considerados o meio físico natural, a conservação de recursos naturais e a condição adequada do trabalho.
O processo de certificação, começa pela inscrição do produtor, a distribuição do manual de boas práticas agrícolas (com as regras). Depois vem as amostragens e visitas de acompanhamento. No laboratório de qualidade são efetuadas avaliações físicas e sensoriais, abrangendo a porcentagem de mocas, cor, rendimentos, umidade, tamanho e forma de grãos, presença de defeitos, grau de torração, perfil de moagem. No sensorial avalia-se aroma, acidez, corpo, maus sabores e aceitação geral.
Considerações finais
1. O café no México, como no Brasil, exige melhor renda para o produtor, para a melhoria nos tratos e maior tecnificação nas lavouras, visando aumentar a produtividade e a qualidade;
2. Os pontos positivos são: a maior sustentabilidade no manejo e na preservação do ambiente, na cafeicultura do México em relação à brasileira, pelos melhores solos e pelo sistema sombreado;
3. O sistema de preparo e a qualidade do café no México, em geral, embora mais custosos, resultam em padrões de cafés melhores que os do Brasil, devendo-se prestar mais atenção às exigências do mercado. A estrutura de certificação é boa e deve ser ampliada no Brasil, devendo ser dirigida a micro-regiões ou grupos (como no México) e não somente voltada para cafeicultores em particular.
4. A cafeicultura familiar, de pequenos produtores, em regiões declivosas, comporta maior uso de mão-de-obra, condição problemática tanto no México como no Brasil. A mecanização das lavouras é a saída em muitas áreas no Brasil, condição que não é possível no México.
5. A organização dos pequenos produtores é deficiente no México. No Brasil as cooperativas têm sido uma boa solução, visando não deixar os produtores diretamente nas mãos dos comerciantes.
6. A cafeicultura do México tem potencial para melhoria tecnológica nos cafezais, através de variedades, sistemas de cultivo e de tratos adequados. A boa produtividade é a base para o menor custo e também para a qualidade do café.
Artigo elaborado a partir das informações do relatório da viagem, enviado ao CaféPoint por José Braz Matiello.