Segundo Laleska Moda, analista de Café da Hedgepoint Global Markets, a avaliação do comportamento dos spreads entre os contatos futuros das variedades evidencia que os mais valorizados são os primeiros vencimentos, demonstrando uma maior preocupação com a cobertura no curto prazo.
Outros fatores técnicos do mercado também apontam para essa tendência. Na sexta-feira (27), ainda que os fundos especulativos do arábica e do robusta liquidaram parte das posições longas, eles ainda seguem comprados, indicando que esses agentes também seguem precificando a alta no mercado, tanto os fundos quanto os spreads.
“O mercado segue sustentado pelo clima no Brasil”, explica a analista. “Apesar de chuvas pontuais em setembro, as precipitações estão abaixo das médias históricas no mês, enquanto os níveis de umidade do solo seguem abaixo dos mínimos históricos, reflexo desta seca severa em 2024”, completa.
Para Laleska, o volume de chuva dos últimos dias foi suficiente para a indução de uma nova florada em diversas regiões, mas as previsões ainda apontam para tempo firme e quente nos próximos dias, elevando os riscos de efeito negativo em 25/26. “As expectativas são de que as chuvas retornem de forma mais significativa no final de primeira quinzena de outubro, o que deve trazer algum alívio, mas pode não ser suficiente para o abortamento de parte das floradas já ocorridas”, observa a analista.
Vale lembrar que o clima adverso dos últimos meses já impactou a temporada 24/25 brasileira, levando à revisão dos números de agosto para baixo – 63 M de sacas. Além disso, a seca e as altas temperaturas no Vietnã no primeiro semestre do ano também mantém as expectativas de uma safra menor no país em 24/25 – a colheita será feita nas próximas semanas. “Assim, em 24/25 projetamos um novo déficit global de café, sendo o 4º ano seguido de balanço negativo”, destaca.
Esse cenário também deve ter reflexos na continuidade dos estoques limitados do grão, tanto nas origens quanto nos destinos. “Em análise anterior, já apontamos nossa expectativa de estoques limitados”, pontua.
Vale apontar que em setembro, os estoques certificados da ICE também voltaram a recuar, após breve recuperação em agosto. No caso do robusta, os estoques certificados, inclusive, recuaram das mínimas históricas atingidas no último ano, provavelmente como reflexo da demanda pela variedade ainda aquecida em meio a estoques baixos no Sudeste Asiático.
“Ainda que as exportações de conilon do Brasil estejam crescendo em meio a esse cenário, os embarques do país podem não ser suficientes para suprir o espaço deixado especialmente pelo Vietnã, mantendo o mercado sensível à oferta”, conclui a analista.
Em resumo, o mercado cafeeiro segue em sua tendência de alta, à medida que as perspectivas ainda trazem preocupações com a oferta no curto a médio prazo, o que também tem se refletido na estrutura do mercado futuro.
As adversidades climáticas de 2023 e 2024 levaram não apenas a uma safra brasileira inferior, mas, também, podem impactar a safra a ser colhida no Vietnã neste ano, levando não somente a estoques inferiores como, também, à possibilidade de mais um déficit global de café.
Agora no segundo semestre de 2024, o clima seco e quente pode ainda trazer impactos negativos para a temporada 25/26 no Brasil, mantendo a alta volatilidade no mercado, uma vez que qualquer impacto na próxima temporada pode adicionar risco à oferta, dando suporte aos preços e aumentando a incerteza para produtores e compradores.
Fonte: Hedgepoint Global Markets