Durante a Semana Internacional do Café, que aconteceu em Belo Horizonte no início de novembro, jovens que estão ativos na produção do café no Brasil debateram sobre o trabalho na área. Apesar da pouca idade, mostram que tem muito conhecimento e disposição. São filhos, netos, bisnetos de cafeicultores ou simplesmente apaixonados pelo café que unem conhecimento tecnológico a experiência de quem nasceu no ambiente.
Gabriel Nunes, 29 anos, da Nunes Coffee, formou-se em agronomia em 2013 e voltou a Patrocínio (MG) para tocar as três fazendas do pai. Tinha 23 anos quando decidiu testar processos de fermentação. O resultado superou as expectativas. Após vencer o concurso internacional Cup of Excellence em 2017, um lote da Nunes Coffee bateu o recorde mundial no leilão de vencedores. Em seis anos aumentou em quatro vezes a área de produção das fazendas. Antes de sua entrada, a produção era na média de cinco mil sacas por ano. Hoje chega a 20 mil. “Meu pai sempre me apoiou e eu, a ele. Somamos nossas ideias e projetos”, comenta Gabriel.
Impulsionado pela atmosfera irresistível do café, Fante Neto, 27 anos, não é descendente de produtores nem de fazendeiros, mas tem amigos no mercado e uma vontade enorme de viver a vida no campo. “Sempre gostei desse estilo de vida”, revela. Tudo isso fez com que se tornasse um Q Grader - Avaliador Q (Q de “Qualidade”), uma certificação mundial dada a profissionais de classificação e degustação de cafés. Mas seu trabalho vai muito além da prova da bebida. Fante descobre pequenos produtores com potencial e os ajuda na conexão com grandes possíveis compradores.
Da esquerda para a direita: Fante Neto, Gabriel Nunes e Felipe Croce
Felipe Croce, 31 anos, é bisneto de cafeicultores e nunca tinha se interessado pelo mundo do café até ser contratado por uma empresa americana de torra em 2007. Formado em administração e relações internacionais, resolveu utilizar a antiga fazenda de sua família como um imenso laboratório para dar forma a essa nova ocupação. Sua fazenda, a FAF - Fazenda Ambiental Fortaleza (em Mococa/SP) conta com a parceria de cerca de 80 microprodutores que o auxiliam na obtenção dos grãos especiais. Ele visitou cada parceiro dando nova vida a cada detalhe. O resultado foi o aumento da produção: o local que costumava produzir 15 mil sacas de café, hoje é um avançado centro de estudo de torra. Eles chegam a exportar cerca de 70 containers por ano, uma média de 23 mil sacas.
Camila Franco de Souza, 23 anos, também não é descendente de produtores. Filha de dois engenheiros, herdou da mãe o gosto pela bebida. Assim nasceu a cafeteria Lucca Cafés Especiais, em Curitiba, a primeira no País a oferecer cafés especiais. Camila conhece pessoalmente praticamente todos os produtores de quem compra café. Visita a propriedade, conversa muito sobre as dificuldades do setor, qualidade e mercado interno, sonhos e aspirações. “É uma troca de experiência fascinante, sem barreiras culturais. Quanto mais o consumidor entender o que está adquirindo, sempre com transparência, mais vai consumir”, finaliza.