Com a produção brasileira de grãos arábica de alta qualidade prevista para cair 13% no ano-safra de 2017/2018, o indicador-chave do estoque disponível para consumo deverá cair para um mínimo de oito anos, de acordo com o Rabobank.
A "relação estoque-uso" para 2017/2018 deverá ser de 30%, o menor nível desde 2009/2010, de acordo com o financiador holandês. Os estoques mais baixos significarão que "qualquer problema climático que tenhamos terá um impacto de preço exacerbado", alertou Carlos Mera, analista de café do Rabobank.
O Brasil é o maior produtor mundial de café, com algumas das plantações mais eficientes. No entanto, os produtores têm sido afetados por alguns motivos como secas nos últimos anos, saída de arábica afetada em 2014 e as principais áreas de produção de robusta passando por uma seca severa.
Após a queda da produção de arábica do país, se seguiu uma safra excelente de 42 milhões de sacas 60kg no ano anterior. Os cafezais do Brasil alternam entre anos de alta produção, produzindo uma safra excelente e anos de baixa produção, quando as plantas se recuperam do estresse da grande produção do ano anterior.
Prevê-se que a queda da produção tenha sido exacerbada pela poda agressiva das plantas pelos produtores, e o banco espera que a colheita de arábica caia 36,7 milhões de sacas.
A demanda nos últimos anos tem sido alta, levando a um acúmulo de estoques em países não produtores de café. No entanto, com a produção em declínio, os compradores estarão se voltando para seus estoques. "Acreditamos que muito deste café vai ser necessário nos próximos 15 meses", disse Carlos Mera.
Alguns analistas questionaram se a queda acentuada dos suprimentos de arábica, que leva à escassez mundial de suprimentos para seu quarto ano, foi totalmente refletida nos preços no mercado de café.
O mercado de arábica está negociando a US$ 1,422 uma libra, que é 10% mais elevado do que no começo de 2016, mas bem menos que no último ano. Em 2016, o mercado subiu para quase US$ 1,80 devido à escassez no mercado do robusta.
"O preço é um reflexo justo das condições atuais e passadas", disse James Hearn, co-chefe de agricultura no corretor de commodities, Marex Spectron. No entanto, ele disse que o mercado de arábica subestimou as estimativas de escassez deste ano. "É um déficit material; todos podem ver que há um problema vindo.”
Uma questão que poderia afetar o mercado é a falta de ações do governo brasileiro após o leilão bem sucedido de seus estoques este mês.
O café de arábica de grau inferior tem sido usado como substituto para o grão robusta no Brasil, onde as principais regiões de cultivo de robusta foram atingidas pelo calor escaldante e falta de chuva.
"O fato de o governo ter conseguido vender suas ações sem que ninguém se queixasse mostra o quão apertado o mercado está", disse Hearn.
A compra do governo brasileiro tem apoiado os agricultores durante épocas de colheitas e preços baixos, mas pela primeira vez em 10 anos reduziu seus estoques para zero e o mercado está sem o amortecedor, disseram os analistas.
As informações são do The Financial Times / Tradução por Juliana Santin