De acordo com o relatório Safras & Mercado do último dia 5, a colheita do café brasileiro na safra 2024/25 já atingiu 58%, superando a média de 54%, nos últimos cinco anos, para a primeira semana de julho. Até semana passada, a colheita de arábica já havia atingido 50% (contra 45% em média no mesmo período, e dos canéforas, 76% (contra 73%).
À medida que a colheita avança, porém, os preços internos sobem, o que não é tão comum, pois geralmente há, a essa altura, uma pressão de venda. Para Laleska Moda, analista de Café da Hedgepoint Global Markets, companhia especializada em commodities agrícolas, as condições de clima seco em todas as regiões cafeeiras brasileiras favorecem o ritmo da colheita e do processamento dos grãos. “Diante desse cenário atual, seria de se esperar que os preços cedessem ao esperado aumento de café no mercado”, analisa ela. “No entanto, isso não está refletido totalmente no mercado”, completa.
Enquanto os contratos futuros em Nova York e Londres tiveram uma correção em relação ao pico de abril, os preços internos no Brasil atingem novos recordes. Segundo o Indicador Cepea/Esalq, a média mensal de junho do canéfora atingiu R$ 1.214,24/saca, um novo recorde, assim como o arábica, que atingiu novo patamar desde fevereiro de 2022, a R$ 1.349,21/saca – em julho, o indicador do robusta atingiu o maior valor da história de preços do Cepea, fechando dia 9 a R$ 1.288,50/saca.
A incerteza da oferta em 2024/25, especialmente de canéforas, é a principal causa da elevação dos preços. A expectativa de outra temporada de oferta apertada também está levando produtores a segurarem seus grãos, impulsionando os preços domésticos.
A principal razão pela qual os preços permanecem sustentados, apesar do avanço da colheita no Brasil, continua sendo a incerteza global sobre a temporada 24/25, especialmente em relação à safra de canéforas. Em relatório anterior, a companhia já previa que, no Vietnã, não haveria garantias de regresso das chuvas a partir de maio que compensasse o tempo seco e quente do início do ano, levando a mais uma temporada de déficit dos robustas. segundo a analista, isso também levou a um aumento na demanda pelo canéfora brasileiro,.
Outros relatórios e análises recentes, porém, apontam problemas de peneira e preocupações com os rendimentos da safra 2024/25 (tanto para o arábica como para o canéfora), embora muitas regiões tenham registrado melhora desde o início da colheita, o que alimenta perspectivas de parte do mercado de uma safra menor. “Por enquanto, nossas expectativas ainda são de uma produção próxima aos níveis de 2023/24 no Brasil, com o volume de arábica em torno de 45 milhões de sacas e o de canéfora perto de 22 milhões”, prevê Laleska. “Mas se o cenário atual não melhorar nas próximas semanas, podemos rever nossos números”, pondera.
Outro ponto de atenção, nos próximos meses, é o desenvolvimento da safra 2024/25 na América Central e no México. Muitos países da região sofreram um período de seca desde 2023, que pode afetar a produção atual. O mais afetado foi o México, mesmo com o regresso das chuvas em maio. A temporada de furacões na região começou cedo este ano, e seu potencial de impacto nas áreas produtoras do grão deve ser monitorada.
Por outro lado, é bom lembrar que qualquer alteração desta visão sobre a safra 24/25 pode afetar os preços a curto prazo, já que as posições especulativas permanecem elevadas e uma perspectiva mais positiva pode desencadear vendas.
Fonte: Hedgepoint Global Markets