Os cafeicultores brasileiros estão inadimplentes nos contratos pelo segundo ano consecutivo, de acordo com traders e advogados que representam o setor, deixando de cumprir vendas pré-acordadas e expondo as casas comerciais a perdas.
A inadimplência, embora menos disseminada do que no ano passado, abalou o mercado de café, deixando os traders relutantes em concordar com antecipação das vendas para a safra do próximo ano ou a seguinte. A inadimplência começou a subir no ano passado após uma série de choques de preços causados por fortes geadas que arruinaram a colheita.
A colheita deste ano foi menor do que o esperado. Alguns analistas reduziram suas estimativas iniciais em quase 4 milhões de sacas, já que os pés demoraram mais para se recuperar das geadas e da seca de 2021. Os preços do café, em agosto e setembro, foram negociados entre 2,17 e 2,21 dólares por libra-peso, mais de 70% acima do nível de dois anos atrás.
O aumento nos preços deu aos agricultores brasileiros uma abertura para “default” nos contratos para que pudessem vender o grão no mercado à vista, obtendo um preço mais alto que supera qualquer responsabilidade pelo descumprimento do negócio.
Vários grandes exportadores, como Sucafina, Olam, Louis Dreyfus e Cofco, bem como cooperativas, incluindo a Cooxupé, estão lutando legalmente com agricultores por compensação por inadimplência de contratos, de acordo com documentos judiciais vistos pela Reuters. Sucafina, Olam, Dreyfus e Cofco não responderam aos pedidos de comentários. A Cooxupé não quis comentar.
“Disseram-nos para ter menos exposição (a agricultores brasileiros). Vai levar um ou dois anos até que os traders esqueçam” e comecem a comprar a prazo novamente, disse um trader de uma grande trading internacional de commodities, pedindo para não ser identificado.
Impacto mais amplo da inadimplência
A venda a prazo por agricultores e exportadores do Brasil, maior exportador mundial de café, é uma característica importante do mercado. As vendas antecipadas ajudam a reduzir as flutuações do mercado porque permitem que eles vendam durante todo o ano, não apenas durante a colheita.
O advogado Cristiano Zauli, do escritório de advocacia Cristiano Zauli Advogados, que auxilia traders em casos contra agricultores brasileiros, disse que abriu cerca de 50 ações este ano contra cerca de 100 no ano passado, buscando indenização de produtores de café que não realizaram entregas.
Ele disse que obteve ordens judiciais para apreender café nas fazendas, semelhante ao ano passado, quando geadas fortes prejudicaram cerca de 15% da safra de café do Brasil e levaram os preços a máximas de vários anos.
Traders disseram que a onda de inadimplência deste ano levou o preço dos futuros da ICE a aumentar no final de setembro antes do vencimento do contrato do próximo mês, e isso pode ocorrer novamente antes do vencimento do contrato de dezembro, em 19 de dezembro.
Os traders que compram café com um ou dois anos de antecedência geralmente fazem hedge de compras assumindo posições vendidas de futuros. Quando os futuros sobem, eles perdem nessa posição, mas podem compensá-la com uma alta semelhante nos preços físicos do café.
No entanto, quando os agricultores entram em inadimplência, os comerciantes não têm o café físico para vender para compensar o mercado futuro. Em vez disso, os traders cobrem posições vendidas comprando mais futuros, ampliando as fortes oscilações no mercado.
Foi o que aconteceu em setembro, quando os futuros do café arábica subiram de cerca de 2,16 centavos por libra-peso para 2,32 centavos no final do mês, um aumento de 7%.
Um advogado que trabalha para um dos cinco maiores exportadores de café do Brasil disse que as inadimplências dizem respeito a menos de 10% do total de contratos de vendas antecipadas no Brasil. Isso ainda seria uma quantidade significativa, já que o Brasil produz cerca de 35% do café do mundo.
As informações são do IstoÉ Dinheiro (Por Maytaal Angel e Marcelo Teixeira).