A cafeicultura nacional passa a contar com um novo porta-enxerto multirresistente a nematoides desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC-APTA), de Campinas (SP), por meio de tecnologia inédita. O porta-enxerto IAC Herculândia é resultado da recombinação de cinco cultivares clonais de Coffea canephora denominadas IAC WG, IAC FEBS, IAC PM, IAC LCCBF e IAC ARM.
O porta-enxerto IAC Herculândia apresenta resistência simultânea aos nematoides Meloidogyne exigua, M. incognita e M. paranaensis. O lançamento aconteceu na quinta-feira (16), na sede do IAC, em Campinas, quando foram homenageadas pessoas relevantes que contribuíram para o desenvolvimento da cafeicultura no Brasil.
“A tecnologia adotada envolve a recombinação desses cinco clones que, plantados juntos, se cruzam gerando sementes do porta-enxerto da cultivar porta-enxerto. É a primeira vez que esse método de seleção é utilizado no Brasil, em cafeicultura”, afirma Oliveiro Guerreiro Filho, pesquisador do IAC, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
De acordo com Guerreiro, como o porta-enxerto IAC Herculândia é multirresistente às três espécies de nematoides, qualquer cultivar suscetível de café arábica pode ser utilizada como copa no cultivo em solos infestados por esses parasitos.
O objetivo da pesquisa, iniciada há cerca de 35 anos, foi reunir em um único porta-enxerto uma alta frequência de plantas simultaneamente resistentes às três espécies de nematoides. Isso porque esses três tipos podem ocorrer com frequência, de forma simultânea. Então, a cafeicultura carece de um material que resista a essa condição. Em média, a presença de nematoides nas lavouras cafeeiras causa perdas de 20% no Brasil.
“Nós usamos cinco clones porque consideramos que seria a estratégia mais adequada por aumentar as chances de o florescimento das plantas ocorrer simultaneamente, condição indispensável para a formação de sementes”, explica.
Segundo o cientista, usar porta-enxerto resistente é a forma mais adequada para o controle de nematoides. Quem não adota esta tecnologia, mais cedo ou mais tarde terá que recorrer a produtos químicos ou biológicos, que em geral apresentam eficiência limitada no controle de nematoides.
A espécie Meloidogyne exigua forma galhas nas raízes, reduzindo a capacidade de absorção de nutrientes. Esta espécie é menos agressiva e, por esta razão, na maior parte das vezes, o diagnóstico é realizado tardiamente. É também a mais disseminada no país, sendo encontrada praticamente na maior parte das regiões produtoras.
As outras espécies são bem mais agressivas e podem destruir o sistema radicular das plantas. Nestes casos, os danos são bem mais elevados. Muitas vezes, as lavouras precisam ser erradicadas.
As espécies M. incognita e M. paranaensis estão presentes há muito tempo no norte do Paraná e em São Paulo, na Alta Paulista e na região de Garça e Marília. “Atualmente, estas espécies vêm causando também sérios problemas na Mogiana, em São Paulo, assim como em várias regiões produtoras de café Arábica, em Minas Gerais, especialmente no Cerrado Mineiro”, diz o pesquisador do IAC.
“Polinizamos mais de 100 mil flores para avaliar a compatibilidade entre clones”
Oliveiro Guerreiro Filho conta como foram as três décadas e meia de estudos para chegar a esse produto inédito no Brasil e no mundo. As equipes fizeram seleção em plantas multirresistentes com o objetivo de agregar características agronômicas como produção, vigor e tamanho de frutos, além da resistência.
“Avaliamos mais de 3,5 mil plantas para chegar a estes 5 clones genitores do porta-enxerto IAC Herculândia, uma cultivar de Coffea canephora”, resume.
Homenagens
O nome de cada cultivar clonal é composto pela sigla IAC, que inicia o nome das cultivares desenvolvidas pelo Instituto Agronômico, e os acrônimos usando a primeira letra de cada nome dos profissionais homenageados, respectivamente: Wallace Gonçalves (IAC WG), Francisco Eduardo Bernal Simões (IAC FEBS), Paulo Makimoto (IAC PM), Luiz Carlos Camargo Barbosa Ferraz (IAC LCCBF) e Ailton Rocha Monteiro (IAC ARM).