A Nestlé pagou um valor alto para ter uma participação maioritária na cadeia de café Blue Bottle, da Califórnia, demonstrando a forma como as grandes empresas estão buscando exposição a marcas premium, de crescimento rápido. Especialistas da indústria estão prevendo que mais negócios serão feitos neste segmento de mercado, que fornece margens de lucro maiores do que os alimentos e bebidas convencionais.


                                   Foto: Lucas Albin/Agência Ophelia

Desde 2015 a JAB Holding Co realizou nove negócios de café pertencentes à família bilionária Reimann, da Europa. Com marcas como Douwe Egberts e Tassimo ao lado do rival da Blue Bottle, Intelligentsia, a JAB agora possui o segundo maior negócio de café embalado depois da Nestlé, proprietária da Nescafé e da Nespresso.

"Certamente haverá compras adicionais em todos os níveis de preços", disse o analista de bebidas da Euromonitor International, Matthew Barry, acrescentando que qualquer empresa que não está fazendo aquisições corre o risco de ficar para trás.

No início deste mês, o italiano Massimo Zanetti comprou uma participação majoritária na torrefadora da Indonésia Caswell’s e, em agosto, a italiana Lavazza comprou uma participação no Espresso Service Proximite da França, sua terceira aquisição em menos de dois anos. Em maio, o diretor executivo da Lavazza disse que a empresa poderia juntar mais de 1,5 bilhões de euros (US $ 1,8 bilhão) para aquisições.

Terceira onda

A Nestlé, da Suíça, anunciou seu acordo com Blue Bottle semana passada. Suas poucas dúzias de bares de café fazem parte do chamado movimento de café da terceira onda nos Estados Unidos, que enfatiza os grãos de qualidade e as bebidas feitas por especialistas. Os analistas consideram o acordo como uma evidência de que uma Nestlé dinâmica, sob seu novo executivo-chefe, está tomando medidas para se reconectar com os consumidores, particularmente os jovens.

"Isso enfatiza o desejo de trabalhar ativamente no portfólio e construir em áreas de crescimento atraentes", disse o analista do Zutcher Kantonalbank,  Patrik Schwendimann,

O acordo dá à Nestlé a entrada a estabelecimentos modernos. Enquanto nicho, esses pontos de venda são vistos como laboratórios de testes para novas tendências que eventualmente podem ser incorporadas, como café frio, grão de origem única e café nitro.

Redes de rua como Starbucks e Costa já estão se movendo nessa direção e um assento na primeira fila pode ajudar a Nestlé a inovar mais rapidamente. A Nespresso já tem uma rede de lojas, mas o analista da Liberum, Robert Waldschmidt, vê o acordo com a Blue Bottle como sendo menos sobre o varejo e mais sobre a Nestlé, obtendo uma marca premium que pode vender de forma embalada.

"Eu não acho que eles estão tentando se reinventar como um varejista", disse Waldschmidt. "Eles podem estar buscando uma abordagem pouco mais multimarcas, dado que o JAB é o epítome da multimarca".

Ainda não se sabe se há demanda suficiente de bebidas exóticas fora dos principais mercados urbanos, ou se a expansão prejudicará o cachet da marca Blue Bottle. Por enquanto, a Nestlé disse que a Blue Bottle continuaria como uma entidade autônoma.

"A nível nacional, não há evidências de uma mudança para café independente", disse a analista de Bernstein, Sara Senatore, em um recente relatório sobre o café da terceira onda. "Os independentes são, em grande parte, limitados aos maiores mercados urbanos, que embora importantes para ambas as cadeias (Starbucks e Costa), contribuem com uma parcela bastante pequena de receitas ou lucros".

Ela estimou que os principais participantes da terceira onda - que incluem o Stumptown e Intelligentsia, da JAB, Philz, Counter Culture, Blue Bottle e La Colombe Coffee Roasters - juntos geram apenas US$ 126 milhões em receitas em 123 lojas. Em contraste, a Starbucks gerou US$ 21,3 bilhões na receita no ano passado de 25.085 lojas em todo o mundo.

A Nestlé é líder em um mercado global de alimentos e bebidas embalados que tem crescido lentamente devido ao resfriamento dos mercados emergentes, ao aumento da concorrência das marcas novas e à mudança dos gostos dos consumidores que estão evitando os alimentos processados.

A empresa, que está sob pressão para melhorar os retornos do investidor ativista Third Point, identificou o café como uma das principais prioridades para o investimento.

As informações são da Reuters / Tradução Juliana Santini.