Por Gabriela Kaneto
Por conta da geada no começo do mês de julho que atingiu principalmente cafezais dos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, muitos produtores têm afirmado que a produção da próxima safra estará comprometida.
Em Minas Gerais, maior produtor de arábica do Brasil, há lavouras que perderam cerca de um terço dos pés, como é o caso do cafeicultor Mauro César Gato. “Eu tenho uma área em São Roque de Minas que afetou bastante. De 28 hectares, perdi três. Em Juruaia também afetou. De 15 hectares, perdi cinco”, conta.
Ele relata que na propriedade de São Roque de Minas as mudas haviam sido plantadas este ano, enquanto que na área de Juruaia a produção iria acontecer ano que vem. “Eu ando na região e quando dizem que a geada não estragou nada, eu fico bobo de ver. Só quem não anda é que não vê”.
Foto enviada pelo produtor Alexandre Maroti
A cidade de Ibiraci (MG) também foi afetada. A produtora Paula Vilhena relatou que perdeu cerca de 30% da produção para a próxima safra por conta da geada de capote. Agora, ela está fazendo o monitoramento para ver se vai precisar fazer o replantio dos cafeeiros afetados.
O cafeicultor João Onofre, de São Pedro da União (MG), também teve 30% da sua lavoura atingida. Ele lamenta que a geada que alcançou sua região tenha interferido na produção da próxima safra, que será de bienalidade positiva.
Em Bom Jesus da Penha (MG), o produtor Alexandre Maroti teve cerca de 70% da sua próxima safra afetada. “Triste, sem lavoura, sem café e sem preço. É a realidade difícil de muitos produtores”, comenta. Ele relata que a colheita deste ano foi bem baixa, dando menos fruto do que o esperado.
Segundo ele, alguns produtores da região pretendem mudar de cultura. “Vai ser um ano complicado, porque se tivesse pelo menos um preço melhor, ajudava um pouco nas despesas. Formar uma lavoura, fazer um investimento e perder da noite para o dia, não fica barato. E tem que cuidar dela tudo de novo e vão dois anos até voltar a produzir. Isso se a lavoura ficar boa, porque corre o risco dela não ficar boa. É muito gasto pelo preço que está o café. Desanima mesmo”.
Foto enviada pelo produtor Alexandre Maroti
Como prosseguir após a geada?
De acordo com Mário Ferraz, gerente de desenvolvimento técnico da Cooxupé, os cafeicultores que tiveram suas plantações atingidas devem aguardar para avaliar os reais danos da planta. “O cafeicultor não deve fazer absolutamente nada. A planta ainda não mostrou exatamente qual o dano que ela sentiu. Então, se ele tomar alguma decisão precipitada, ele pode incutir muitos erros. Nós não podemos correr o risco de eliminar reservas que a planta ainda pode usar na recuperação dela”, recomenda.
Sobre a geada de capote, que mais foi relatada pelos produtores, ele avisa: “normalmente não precisa que nada seja feito na planta do cafeeiro, porque o ramo foi queimado até um determinado ponto. Dali para trás o ramo vai brotar e a planta vai se recuperar. Se a gente tira parte daquele ramo que era sadio, a planta vai ser prejudicada”.
Os cafeicultores que tiverem lavouras recém-plantadas atingidas também devem esperar para ver a avaliação. “O cafeicultor deve esperar. Deve pegar um canivete, descascar algumas mudas e ver se o caule foi atingido. Se foi atingido, provavelmente no final do ano vai ter que fazer a replanta”, explica Mário.
Em uma artigo publicado no CaféPoint sobre o fenômeno, José Braz Matiello, agrônomo da Fundação Procafé, também indica que os produtores façam a observação do cafezal. “Deve-se esperar a retomada do calor e das chuvas para ver onde brotam as plantas, e então poderá ser analisada a situação das lavouras”. Veja na íntegra aqui.
Como se prevenir?
Segundo o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e o Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), a recomendação para os plantios novos de café, com até seis meses de campo, é enterrar as mudas.
Os viveiros devem ser protegidos com aquecimento ou várias camadas de cobertura plástica, com a opção de adotar as duas práticas simultaneamente. Tanto nas lavouras novas quanto nos viveiros, a proteção deve ser retirada logo que a massa de ar frio se afastar e cessar o risco de geada.
Nas lavouras com idade entre seis meses e dois anos, a recomendação aos produtores é amontoar terra no tronco das plantas até o primeiro par de folhas. Essa proteção deve ser mantida até meados de setembro e depois retirada com as mãos.