Por Rodrigo Costa*
O Banco Central Europeu (BCE) cortou os juros de 0.10% para -0.50% (isto mesmo, negativo) e anunciou a retomada de compras de títulos por um período indeterminado, o que fez Donald Trump renovar suas críticas ao FED estar lento na diminuição do custo do dinheiro americano.
O presidente dos Estados Unidos postergou o aumento de tarifas sobre US$ 250 bilhões de importações chinesas de 1º de outubro para o dia 15 do mesmo mês, após os dois países marcarem uma nova reunião para tentar chegar a algum acordo sobre a guerra comercial.
As bolsas de ações reagiram positivamente à nova rodada de estímulos, e com mais dinheiro sendo despejado nas principais economias do planeta, o índice de commodities CRB também apreciou.
Dentre os componentes do índice, o café em Nova Iorque liderou, encerrando os últimos cinco dias com 6% de alta, seguido pelo trigo, o gás natural e o algodão – os últimos ganhando entre 4.94% e 5.54%.
O canéfora (robusta) tentou seguir o movimento do arábica, mas não ganhou tração, parcialmente porque o primeiro rompeu níveis técnicos que atraíram a cobertura parcial da posição vendida dos fundos e também foi favorecido pelo noticiário, apontando o tempo seco no Brasil como motivo, retraindo o apetite vendedor dos baixistas.
Fotos de floradas seguidas de um prognóstico de chuvas apenas para outubro geraram preocupações entre os participantes, já que há algum tempo já se comenta e se espera uma safra recorde para o ciclo de 2020/2021.
Os modelos matemáticos já incorporaram uma probabilidade razoável de uma colheita recorde para o próximo ano (ainda que possa ser questionada). Entretanto, ajustes são constantemente feitos, ou seja, caso haja perdas potenciais com o tempo seco, o atraso das chuvas, ou perdas acima do normal de floradas, é de se esperar cotações melhores.
Da mesma forma, se o clima andar dentro do esperado e próximo da normalidade, os modelos serão alimentados com uma maior probabilidade de uma produção grande, atraindo novas vendas.
Um fato que em teoria poderia corroborar com o nervosismo relacionado às precipitações seria um recuo da venda na principal origem, ou seja, os produtores retraindo suas ofertas. Entretanto, no mercado internacional não foi sentido isto, tanto pelos relatórios indicando o volume muito bom negociado internamente, como pelas ofertas de diferenciais mais alargados (mais baratos).
As exportações brasileiras em agosto totalizaram 3.208.282 sacas, abaixo apenas do recorde para o mês – 3.5 milhões de sacas, há um ano. Dada a produção mais baixa deste ano, em breve estes embarques devem começar a diminuir.
Para as demais origens do arábica, os agentes estão de olho no tempo seco na Colômbia e aguardando o início da colheita dos outros produtores de cafés “suaves”.
Os diferenciais pouco mudaram em uma semana, ou seja, continuam caros, podendo prover algum suporte para a bolsa. Por outro lado, o real brasileiro parece estar sem força para firmar contra o dólar americano (DXY), que na sexta-feira afundou e mesmo assim o dólar voltou acima de R$ 4.08.
Tecnicamente, o contrato “C” pode atrair uma nova onda de vendas, caso rompa US$ 99.90 centavos/libra, provavelmente voltando para o mesmo intervalo chato de anteriormente.
Se alguém andou comprando o mercado, em função dos institutos meteorológicos não terem apontado chuva este mês, uma mudança no prognóstico poderá causar uma pressão vendedora.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting