Por Gabriela Kaneto
O começo de 2024 está marcado pelas crescentes tensões no Mar Vermelho, que impactam diretamente as exportações globais de café, especialmente de países como Vietnã, Indonésia e Índia. De acordo com o Índice Mundial de Contêineres, os conflitos fizeram com que as taxas globais de contêineres disparassem 61% nas duas últimas semanas, chegando a US$ 2.670 por contêiner de 40 pés.
Segundo dados divulgados pela consultoria hEDGEpoint Global, ataques a embarcações na região fizeram com que os navios seguissem rotas alternativas mais longas, surtindo efeito nos percursos que ligam a Ásia à Europa e à Costa Leste dos Estados Unidos. “Isso absorveu a capacidade excedente no mercado, levando a taxas mais altas, especialmente as taxas de Xangai para Roterdã e Gênova, que aumentaram em aproximadamente 115%”, escreveu Natália Gandolphi, analista de café da hEDGEpoint, em relatório. Porém, o fenômeno é temporário, e espera-se que as taxas voltem a cair quando diminuírem as hostilidades na região e houver menos desequilíbrio entre oferta e demanda.
A volatilidade da taxa spot (taxa de câmbio utilizada para transações imediatas de compra ou venda) também tem efeito cascata nos mercados de commodities e afeta ferrovias, caminhoneiros, despachantes de carga e agentes de marketing intermodal. No caso do café, o impacto acontece, principalmente, nas origens da Ásia e do Sudeste Asiático, sendo os três principais exportadores da região -- Vietnã, Indonésia e Índia -- responsáveis por cerca de 11 milhões de sacas (de uma média de 30,5 milhões exportadas no primeiro trimestre de cada ano). Ou seja, levando-se em consideração apenas esses países, aproximadamente 36% das exportações globais do primeiro trimestre podem ser atrasadas.
A escalada pode, ainda, tornar os preços do canéfora mais instáveis e estimular, no mesmo período, volumes maiores de exportação de países que também produzem a espécie, como Brasil e Uganda, apoiadas pela disponibilidade brasileira no ciclo 2023/2024 e pela colheita secundária na Uganda.
Sobre os ataques
De acordo com a BBC, as tensões começaram após o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro. Os houthis – grupo rebelde que controla parte do Iêmen – declararam apoio ao Hamas e afirmaram que iriam atacar navios que tivessem como destino Israel. Desde então, navios comerciais foram abordados com drones e mísseis balísticos.
Entre novembro e dezembro, os ataques ao Mar Vermelho aumentaram 500%. Por conta da ameaça, as companhias de navegação deixaram de transitar na região e, desde o início de dezembro, os custos dos seguros cresceram dez vezes. Entre as preocupações estão o possível aumento dos preços dos combustíveis e o impacto negativo nas cadeias de abastecimento.