Por Daniela Quitanilha e Mariana Proença, de São Paulo
O Brasil não explora internacionalmente a sua marca no mercado de café solúvel. Para criar uma identidade dessa categoria de café, estabelecer a origem nacional e consolidá-la mundo afora foi assinado nesta segunda-feira (26) um convênio entre a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
O convênio de implantação do projeto setorial “Brazilian Instant Coffee” potencializa a promoção internacional do café solúvel do Brasil. As exportações chegam a cerca de 120 países e proporcionam divisas anuais de aproximadamente US$ 650 milhões. “O projeto já nasce ambicioso. Queremos dobrar o número de exportações nos próximos 10 anos”, disse o presidente da Abics, Pedro Guimarães.
Pedro explica que a ideia não é alcançar um número maior de países, mas sim aumentar o volume do produto para os países já importadores. “Os países do sudeste asiático, por exemplo, são os que mais crescem, mas a nossa participação ainda é tímida. No mundo, o consumo cresce 3%. Nesses países, está crescendo o dobro”, afirma Pedro.
Há 40 anos o Brasil é líder mundial na produção de café solúvel, com representatividade de 37% do mercado global, e na exportação, com market share de 28%, mas, atualmente, o setor vê essas posições ameaçadas devido ao acirramento da concorrência e ao protecionismo dos principais mercados.
O projeto reforça a histórica parceria da Apex-Brasil com o setor cafeeiro, uma relação iniciada, em 2002, com o Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo (Sindicafé-SP) e, em 2009, com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).
Em entrevista exclusiva ao CaféPoint, o presidente da Apex-Brasil, Roberto Jaguaribe, enfatizou que o café é um produto de grande importância econômica e social, pois é um relevante empregador.
“Estamos extremamente satisfeitos com essa parceria. É um setor importante e tem potencial para crescer muito mais, compatível com a dimensão que o Brasil tem no universo do café. Falta uma marca forte nossa lá fora”, disse Jaguaribe.
O Brasil tem sete indústrias de café solúvel em operação. Em 2016, elas produziram o equivalente a 4,93 milhões de sacas de 60 kg, representando 11,3% da produção total de café no País. As exportações do setor somaram 3,83 milhões de sacas (11,2% do total), gerando uma receita de US$ 634 milhões. O consumo interno do produto totalizou 1,1 milhão de sacas, respondendo por 5% da quantidade consumida no Brasil.
Importação de café verde
Com esse crescimento esperado para o setor, uma das questões primordiais é o abastecimento de café para atender ao consumo externo e interno. “No momento não vemos a menor necessidade de importar café, as previsões de safra no Brasil são mais do que suficientes para atender solúvel, torrado e moído e exportação”, avalia Pedro Guimarães e completa: “se faz necessária a importação em situações bastante pontuais para a sobrevivência e a manutenção dos contratos com o exterior. A credibilidade com um cliente externo é algo de inestimável valor e uma vez perdida esta capacidade de fornecer, perdeu-se a confiança, que se demora décadas para recuperar”.
Para o presidente da Apex-Brasil, Jaguaribe: “O que não pode acontecer é na situação de necessidade de importação não ser possível fazê-la para atender as demandas do mercado externo. Isso é uma limitação que é o chamado tiro do pé. Não há necessidade disso no momento, mas não pode haver impedimento”.
A assinatura do convênio foi realizada em São Paulo, na sede da Apex-Brasil, com a presença das principais lideranças da indústria de café do Brasil.