Especialistas apontam preocupação com o volume de grãos de café no mundo. Com a menor oferta de café nos Estados Unidos, por exemplo, e preços no atacado em alta, o mercado se prepara para mais problemas com a escassez global de contêineres que afeta o comércio de alimentos.
Os estoques de café caíram para o menor nível em seis anos no país. E, apesar da safra recorde do Brasil de 2020/2021, o clima seco deve levar a uma grande queda da produção neste ano, causando um déficit global nos próximos meses, justo quando a demanda tende a se recuperar.
“Todo mundo está sentindo o aperto”, explicou Christian Wolthers, presidente da Wolthers Douque, importadora em Fort Lauderdale, Flórida, segundo a qual os custos dos embarques da América Latina mais do que dobraram. “Esses gargalos estão se transformando em um pesadelo de contêineres”, afirmou.
Embora rupturas no fluxo de cargas tenham causado caos no comércio global de alimentos, os desafios no mercado de café mostram que a inflação desses produtos já em aceleração pode ser alta com a reabertura das economias. Por enquanto, torrefadoras podem recorrer aos estoques em vez de aumentar os preços, mas com as reservas em queda e expectativa de safra menor no Brasil, as restrições devem persistir.
Os futuros do café arábica negociados em Nova York subiram cerca de 24% desde o final de outubro em meio ao impacto do clima na produção brasileira. Em fevereiro, os estoques de grãos verdes não torrados nos EUA caíram 8,3% em relação ao ano anterior, para o menor nível desde 2015.
Neste mês, a Marex Spectron aumentou a estimativa de déficit global de café para 10,7 milhões de sacas em 2021/2022, em comparação com a projeção anterior de 8 milhões de sacas, citando a menor produção de arábica do Brasil devido ao impacto do clima adverso na safra. O Goldman Sachs disse, em relatório, que se a produção na América Central não melhorar nos próximos anos, o mercado deve entrar em déficit estrutural em meio à recuperação da demanda.
“A logística tem sido uma dor de cabeça devido à falta de espaço e contêineres”, disse Marco Figueiredo, operador e sócio da Ally Coffee, na Flórida, trading de cafés especiais que importa grãos de países como Colômbia, Guatemala e Brasil. “Estamos monitorando a situação e conversando com os clientes, alertando-os sobre o aumento dos custos”, explicou.
Por enquanto, muitas empresas buscam evitar aumentos de preços enquanto tentam atrair clientes de volta para cafeterias e restaurantes. Há um crescimento constante da demanda por café, embora o segmento fora de casa possa levar de dois a três anos para retornar aos níveis anteriores à Covid-19, de acordo com David Rennie, responsável pelas marcas de café da Nestlé.
Stefano Martin, gerente de vendas e exportação de marketing da rede italiana de cafeterias Diemme, disse que o negócio ainda não sente todo o impacto porque opera com contratos feitos antes dos problemas logísticos. Segundo ele, isso pode mudar à medida que esses contratos forem renovados. A empresa tem 26 restaurantes e cafeterias e, normalmente, importa 30 mil sacas em cerca de 90 contêineres do Brasil, Colômbia, El Salvador, Honduras, Tanzânia e Índia. “Não há impacto do nosso lado ainda, pois fechamos todos os contratos antes do aumento dos preços. Mas, provavelmente no próximo lote de contratos, isso será cobrado”, disse.
Em relação à exportação do grão brasileiro, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) aponta que, em fevereiro, os Estados Unidos importaram 1,3 milhão de sacas, dado que representa 19,4% do volume exportado no período. A Alemanha, segundo maior consumidor, importou 1,2 milhão, equivalente a 17,8% de participação nos embarques. Na sequência, os países que mais importaram o produto foram: Bélgica, com 561,8 mil sacas (8,2%); Itália, com 514,2 mil (7,5%); Japão, com 350 mil (5,1%); Colômbia, com 240 mil (3,5%); Federação Russa, com 192,2 mil (2,8%); França, com 167,7 mil (2,4); Turquia, com 155,1 mil (2,3%); e Canadá, com 130,6 mil (1,9%).
Já os grãos especiais foram exportados com um milhão de sacas, entre janeiro e fevereiro, volume que representa 14,9% das exportações totais de café no período. A receita cambial gerada pelos embarques da modalidade atingiu US$ 173,7 milhões, correspondendo a 19,5% do valor total gerado no bimestre. Já o preço médio da saca de cafés diferenciados foi de US$ 169,31.
Os Estados Unidos seguem sendo o país que mais recebe grãos especiais brasileiros, com 260 mil sacas exportadas (equivalente a 25,3% de participação nas exportações da modalidade), seguido pela Bélgica, com 130,8 mil sacas (12,8%), e Alemanha, com 127,6 mil (12,4%). Na sequência estão: Japão, com 81,2 mil sacas (7,9%); Itália, com 70,6 mil (6,9%); Turquia, com 38,3 mil (3,7%); Reino Unido, com 34,3 mil (3,3%); Canadá, com 30,8 mil (3%); Suécia, com 29,5 mil (2,9%); e Países Baixos, com 22,3 mil (2,2%).
As informações são da Bloomberg/Money Times.