Segundo especialistas, o ano de 2021 é considerado de bienalidade negativa: já que a produção passada foi de alta, essa automaticamente se torna de baixa. Segundo o engenheiro agrônomo José Braz Matiello, a bienalidade de produção em cafeeiros é um fenômeno muito marcante na cafeicultura brasileira. Ela resulta em diferenciais expressivos na produção de frutos e nas safras colhidas. A bienalidade, ou diferencial produtivo, a cada ano pode ocorrer entre talhões de lavouras, entre plantas da mesma lavoura e, ainda, dentro da própria planta, uma parte produzindo bem num ano e a outra no ano seguinte.
Portanto, o cafeeiro deve produzir 20% a menos em relação ao ano anterior que teve safra cheia. A seca duradoura em 2020 atrapalhou a florada e o posterior enchimento dos grãos. Estes fatores podem ajudar o preço da saca a se manter acima dos R$ 600.
Segundo especialistas, não é só a diminuição da safra que pode impactar na boa remuneração da saca. Outros fatores como a pandemia, a valorização ou desvalorização do dólar e a melhoria da qualidade da lavoura também influenciam na hora do preço ser dado pelo mercado.
Mas, pela lógica da economia, uma diminuição de oferta sem mudança no mercado levaria os preços a subirem. “Em relação aos preços, existe uma tendência do café se valorizar porque existe a expectativa de uma safra em 2021 bastante baixa, com quedas significativas. Mas ainda é muito difícil afirmar alguma coisa”, afirmou Archimedes Coli Neto, presidente do Centro de Comércio de Café do Estado de Minas Gerais (CCCMG), em entrevista ao G1 Sul de Minas.
Para o especialista em marketing e mercado de café, Paulo Henrique Leme, que também é professor na Universidade Federal de Lavras (Ufla), a produção e o consumo de café têm andado muito justos nos últimos anos. “Isso influência para que o preço de café continue sendo remunerador para o produtor”, afirmou.
Pandemia e dólar
A pandemia ainda tem provocado fechamentos no comércio da Europa. Archimedes explica que ações desse tipo podem influenciar a demanda externa de café. “Esse impacto da Covid-19 em 2020 e 2021 ainda deve influenciar um pouquinho na demanda, nos estoques. Mas se voltar o consumo fora de casa, podemos ter um déficit grande na balança do produto”, aposta.
Outro fator que influenciou o bom preço das commodities em geral foi o aumento do dólar. Segundo Archimedes, esse quadro pode mudar caso o real fique mais valorizado frente à moeda norte-americana. “Caso tenha mais dólares no mercado, com a vitória do Biden, por exemplo, pode ocorrer uma valorização do real frente a uma desvalorização do dólar. Isso pode levar a um ajuste no valor das commodities”, contou.
Nova safra
Para Paulo Henrique, a quebra de safra deve variar entre 25 e 40%. Mas tudo vai depender do enchimento dos grãos durante as chuvas de janeiro. “De forma geral, o que estamos esperando para 2021 é uma boa queda de safra. A seca no ano passado atrapalhou muito a florada. Também vamos ter uma La Niña esse ano que vai atrapalhar muito com chuvas abaixo da média”, observou o professor.
“A expectativa no mercado é que a quebra do café arábica seja significativa pela grande produção de 2020. E ainda tivemos uma seca que atrapalhou bastante a floração. E entre as lavouras que floraram houve muito abortamento. As chuvas realmente atrasaram bastante e isso prejudicou ainda mais a produção de 2021”, avaliou Archimedes.
Paulo Henrique destacou outro fator que pode interferir na produção: os investimentos. “Muitos produtores aproveitaram o momento e fizeram investimentos em lavoura e maquinário. A expectativa, portanto, é de aumento na qualidade global do café, aumento na produtividade. O produtor que conseguiu aproveitar esse momento de preço para se capitalizar e fazer investimentos na lavoura, deve colher os frutos nos próximos três a quatro anos já”, acredita.
Chuvas
Os especialistas garantem que o essencial ainda para 2021 será o enchimento dos grãos no início do ano. “Por isso, é preciso que as chuvas sejam abundantes em janeiro e fevereiro. Somente a partir disso, a safra 2021 poderá ser pensada de fato”, disse Paulo Henrique.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informou que no dia 21 de janeiro será divulgado o primeiro levantamento sobre a safra de café de 2021.
As informações são do G1 Sul de Minas (Por Jonatam Marinho).