Os crescentes preços dos fertilizantes preocupam os produtores. Após diversos problemas, como as questões climáticas do La Niña na América Latina, a China vem restringindo as exportações de fosfato para proteger sua própria indústria agrícola. A pandemia global impactando o transporte marítimo e as sanções da União Europeia, após a invasão russa da Ucrânia, também prejudicam a compra.
A questão é que os cafeicultores precisam pagar preços acima da média, sustentados pelas exportações de fertilizantes, para criar um solo rico em nutrientes e otimizar a produção de grãos. O resultado? Cafeicultores com dificuldades financeiras, especialmente os de pequena escala.
De acordo com o especialista em café da corretora de commodities StoneX, Albert Scalla, os picos de preços de fertilizantes “afetaram definitivamente” as quantidades e proporções usadas nas fazendas, especialmente durante o primeiro semestre de 2022, quando os preços subiram. “Os custos reduziram sua lucratividade, mesmo com a forte alta do preço do café. Várias origens relatam a redução do uso de fertilizantes pelos cafeicultores, o que inevitavelmente se refletirá no futuro em termos de rendimento e produtividade agrícola”, pontua.
Para ele, os produtores brasileiros de café precisam buscar formas de minimizar os custos associados aos picos de preços dos fertilizantes, estando mais atentos às necessidades exatas das fazendas. Isso significa realizar “análises mais extensas do solo, aplicando apenas as doses mínimas necessárias de nutrientes e procurando substitutos como mais matéria orgânica”.
Embora o Ministério da Agricultura tenha tomado grandes medidas para garantir mais fertilizantes em 2021/2022 do que nos anos anteriores, já que as preocupações com o conflito iminente na Ucrânia exacerbaram os preços globais de fertilizantes durante os meses iniciais da guerra, Scalla diz que ainda é um momento difícil para os cafeicultores ao redor do mundo.
A razão é que muitos agricultores nos países em desenvolvimento não têm fundos para fixar os preços e estocar suprimentos de fertilizantes para se proteger contra futuros aumentos de preços. “Infelizmente, o hedge de preços de fertilizantes ainda é uma novidade na comunidade cafeeira. Quando os preços atingiram mínimos de US$ 267 por tonelada – alguns dos níveis mais baixos após a pandemia – nem produtores, cooperativas ou entidades governamentais aproveitaram para travar os preços, mesmo com nossos vários avisos e relatórios da StoneX enviados. Desde então, os preços atingiram US$ 1.200 a US$ 1.400 por tonelada, antes de cair para o valor atual de US$ 650 por tonelada (em 10 de dezembro de 2022), mas isso ainda é mais que o dobro dos mínimos”, destaca o especialista.
Não há uma solução rápida para o aumento do preço dos fertilizantes à vista enquanto a guerra se arrasta, o que não é o ideal, já que a Rússia é um dos principais produtores e exportadores mundiais de fertilizantes. O relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação observa que, em 2021, a Rússia foi classificada como o maior exportador mundial de fertilizantes nitrogenados, o segundo maior fornecedor de fertilizantes potássicos e o terceiro maior exportador de fertilizantes fosfatados.
Josh Linville, vice-presidente da StoneX, explicou ao The Washington Post, em agosto de 2022, que o conflito Rússia-Ucrânia é outro problema. “Quando as empresas começaram a sair da Rússia em resposta à invasão, temia-se que as exportações consideráveis de fertilizantes desaparecessem. No entanto, como a Rússia fez política com suas exportações de fertilizantes, os fluxos continuaram e ajudaram a reduzir as ideias de preço”, disse.
Sobre o quão desafiador é o acesso a fertilizantes para o café no momento, ele diz que a situação não é tão terrível quanto no quarto trimestre de 2021 e no primeiro trimestre de 2022, mas os temores continuam. Os problemas europeus de produção de nitrogênio continuam hoje, e as exportações chinesas/russas são questionáveis daqui para frente. O mercado tem estado mais estável, mas está longe do normal.
“Felizmente, os valores de fosfato e potássio caíram constantemente desde o final de março/início de abril, com fosfato abaixo de aproximadamente um terço e o potássio abaixo de 40%. Os valores do nitrogênio sofreram pressão de preço recentemente, com o preço do Oriente Médio caindo aproximadamente 25% desde o início de setembro”, explicou Josh Linville.
João Moraes, Diretor de Contas Globais na Yara Internacional, reconhece que o conflito europeu e as sanções resultantes lançaram uma longa sombra. “A guerra na Ucrânia impactou negativamente negócios e indústrias em todo o mundo. O preço do gás disparou, o que tem um impacto direto na indústria europeia de fertilizantes. Como resultado, a Yara e outros produtores de amônia tiveram que reduzir parte da produção na Europa”, pontua.
Embora a Yara tenha sido capaz de responder à guerra contando com seu sistema de produção global, importando amônia para a produção de fertilizantes a fim de permitir que atenda clientes em todo o mundo, Moraes admite que não há dúvida de que a guerra está aumentando a ameaça à segurança alimentar global: “Precisamos de investimentos urgentes e maciços em energias renováveis para reduzir a dependência da Rússia e descarbonizar a indústria de fertilizantes e torná-la mais resiliente no futuro”.
As informações são do Global Coffee Report / Tradução Juliana Santin