Especialista em commodities avalia que safra de café no Brasil será ainda menor do que o esperado

A safra de café do Brasil, que ainda está sendo colhida, parece ser ainda menor do que as avaliações apontaram no início do ano, devido ao impacto de uma severa seca nos cafezais. Há também as preocupações com a próxima temporada, devido aos problemas no desenvolvimento das lavouras, como disse a especialista em soft commodities, Judith Ganes.

Após passar os últimos dias em lavouras nas principais regiões produtoras de arábica, como Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Mogiana, Ganes está se deslocando para o Espírito Santo, maior produtor de grãos canéfora (conilon).

Essa é a terceira viagem da especialista ao Brasil para verificar a safra atual, que ela considerou ter sido "devastada" pela seca e altas temperaturas. Anteriormente, esteve no País em dezembro e fevereiro.

Ela afirmou acreditar que a safra brasileira ficará entre 5% a 10% menor do que considerou em fevereiro, ressaltando que antes acreditava que frutos poderiam se desenvolver e ficar um pouco maiores. "Isso me faz crer que a safra será menor do que eu pensava em fevereiro", declarou a norte-americana, ressaltando que produtores têm reportado a necessidade de um número maior de grãos para formar uma saca de café.

Após passar por cidades mineiras como Varginha, Três Pontas, Alfenas, Patrocínio e Monte Carmelo, ela disse ter dúvidas se a produção brasileira de arábica poderia alcançar 30 milhões de saca de 60 kg, o que, se fosse o caso, ainda representaria uma queda de 20 milhões de sacas na comparação com a temporada passada, que foi "enorme".

Com a colheita da safra avançando para cerca de metade da produção estimada, a especialista ressaltou que os movimentos nos armazéns de Minas Gerais e São Paulo parecem fracos. "Tem café chegando, mas é lento, muito lento", afirmou.

Temporada 2022

A mesma seca prolongada que afetou a temporada 2021 deverá carregar adversidades para 2022, uma vez que os pés de café têm apresentado problemas no desenvolvimento e muitos parecem escolher soltar folhas em vez de frutos. "É muito prematuro, é algo para acompanhar... Elas podem escolher, em vez de florar, soltar folhas... É um sinal de que as árvores estão em modo sobrevivência e não vão produzir frutos, estão escolhendo sobreviver", disse ela.

Segundo a especialista, a colheita de 2022 vai ser maior que a deste ano, período de baixa no ciclo bienal do arábica, mas não vai ser uma grande safra. "Algumas pessoas afirmam que a safra 2022 vai ser maior do que 2020 (último ano do ciclo de alta), absolutamente não", destacou.

Sobre as geadas da última semana, a especialista disse ter visto algumas áreas queimadas pelo frio, mas mais em baixadas, onde o fenômeno costuma ser mais intenso. Ela não espera danos significativos, algo em torno de até 300 mil sacas.

Para Armando Mattiello, presidente da Associação dos Cafeicultores do Brasil (Sincal), que acompanha a especialista na expedição técnica, as regiões mais atingidas pelas geadas foram na Alta Mogiana, conforme reportaram produtores à Reuters.

"Geou um pouco no sul de Minas, pegou lavouras novas, algo não tão significativo, mas pegou. Vemos que 1% a 2% da safra do ano que vem deve quebrar (pela geada)", disse Mattiello, observando que o frio intenso em uma lavoura comprometida pela seca indica problemas adicionais.

As informações são da Reuters.