Produtores de café estão preocupados com a redução na safra, que pode ser pior do que em outros anos de bienalidade negativa. Na cultura do café, especialmente o da espécie arábica, é normal uma colheita maior em um ano, seguida de outra menos produtiva, pela própria característica da planta. Mas as condições climáticas adversas, com muito calor e falta de chuvas na época da florada em outubro passado, já apresentavam o alerta de que desta vez as perdas seriam maiores.
Depois de quinze dias seguidos sem chuvas, em pleno janeiro, quando ocorre o enchimento dos grãos, a preocupação cresceu ainda mais, principalmente no Sul de Minas, a maior região produtora do arábica. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa é de quebra de 43% na safra de café no estado, que detém cerca de metade da produção nacional.
De acordo com o gerente regional da Emater de Minas em Guaxupé, Willem de Araújo Além, os grãos que não caíram devido à falta de água ainda deverão ter um desenvolvimento menor, com impacto direto na qualidade final da bebida. “O déficit hídrico no ano passado causou abortamento das flores e, em janeiro, na fase de enchimento dos frutos, os poucos que tinham vingado caíram, porque tivemos 15 dias sem chuva. E seria justamente o período em que os frutos precisariam de água para crescer”, explica.
Além da expectativa de rendimento bem menor nas lavouras, os cafeicultores enfrentam outra questão. Nos últimos meses, com as cotações em alta, o número de contratos futuros aumentou muito, ou seja, os produtores já negociaram o café que ainda nem se desenvolveu. Agora, com os problemas do clima, vão precisar encontrar estratégias para entregar o produto aos compradores.
“Vai ficar difícil para o produtor honrar os compromissos. Vai ter um volume menor e os grãos também não estarão num bom padrão. Então, para compensar, teriam que entregar uma quantidade maior. Vai ser um ano muito complicado para cafeicultura”, comenta Willem.
Ele conta que os técnicos da empresa estão em constante contato com os produtores, para orientar nas medidas de enfrentamento desta crise. Willem cita como uma das alternativas o chamado “crédito consciente”, com utilização bem planejada dos recursos.
“Estamos discutindo com os cafeicultores, para buscar alguma alternativa de financiamento, para comercializar numa época melhor. Quem puder ter seguro também é bom investir nisso. E, como sempre alertamos, é preciso atenção para a qualidade do produto, porque pode alcançar um preço melhor no mercado e compensar o volume menor de produção”, aconselha o gerente da Emater-MG.
Para amenizar a situação dos cafeicultores, o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé) aumentou, em novembro de 2020, de R$ 10 milhões para R$ 160 milhões os recursos disponíveis para recuperação de lavouras afetadas por seca e chuvas de granizo, que atingiram algumas regiões em 2020.
As informações são da Emater.