O diretor geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, conversou com a redação sobre as exportações do café brasileiro, o clima e a sustentabilidade.
Marcos Matos, diretor geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé)
Nos dias 25 e 26 de maio ocorrerá o Coffee & Dinner Summit. Com o tema “Crescimento da produção: seus desafios e oportunidades em tempos de ESG”, o evento contará com a participação e contribuições de importantes atores do setor cafeeiro nacional e internacional – vindos principalmente de Europa, América do Norte e Ásia –, que debaterão sobre os desafios que a cafeicultura global vive ao longo dos últimos anos, como economia e tendências de mercado, questões climáticas, sustentabilidade, logística e as novas regulamentações voltadas a um mercado consumidor mais verde.
Marcos destaca que o Cecafé está envolvido em diversas ações para debater sobre a imagem do Brasil, programas de ESG, questões relacionadas ao desmatamento, limite máximo de resíduos, para, assim, apresentar as capacitações que são feitas, as boas práticas e todo trabalho primoroso do produtor brasileiro. “O evento vem para reconhecer os produtores e todos componentes da cadeia produtiva. No segundo dia teremos painéis de debates no qual discutiremos a economia e o consumo mundial, tendências, juros, inflação, além de conversas sobre a nova regra global do desmatamento, que é aplicada na União Europeia e replicada em países como os Estados Unidos’’, explica.
A União Europeia aprovou, em dezembro do ano passado, as novas diretrizes para impedir a compra de produtos ligados às áreas de desmatamento global e dificultar a degradação florestal. As novas regras de importação podem afetar as compras de soja, café, carne bovina, cacau, madeira e óleo de palma. Produtos derivados e manufaturados como chocolate, papel impresso e móveis também deverão ser incluídos.
O evento também abordará as tendências do balanço de carbono. “O Cecafé, ao lado de associados, desenvolveu um trabalho de balanço de carbono em Minas Gerais e agora estamos estudando o Espírito Santo. Já identificamos, por exemplo, que o café arábica é carbono negativo. O balanço de carbono nada mais é que o índice para mostrar a agricultura regenerativa no ambiente tropical e vamos ver em breve o balanço de carbono no canéfora (conilon), para fazer com que seja reconhecido internacionalmente e, assim, criar uma plataforma de crédito de carbono das plataformas brasileiras”, comenta. Infelizmente os ingressos do evento já estão esgotados.
Já sobre as exportações, o diretor geral aponta que, no primeiro trimestre, o Brasil exportou 8,4 milhões de sacas, uma queda de 23%, e as receitas cambiais foram de 1,8 bilhão de dólares, uma queda de 27,5%. “Esse padrão já vem sendo noticiado pelo Cecafé nesses meses de 2023 por conta da dinâmica do mercado. O Brasil está em uma entressafra e, não apenas de uma, estamos vindo de duas safras mais baixas. Desde a safra recorde em 2020, em que tivemos grandes volumes de produção, de exportação, de qualidade, de sustentabilidade, o Brasil passou por inúmeras anomalias climáticas, geadas, secas, o que resultou tanto na safra 2021, quanto na de 2022. Agora estamos na entressafra após essas duas baixas, então o café remanescente é cada vez menor e isso impõe desafios. É claro que no mês específico de março exportamos cerca de 3,1 milhões de sacas, um avanço em relação a fevereiro, quando exportamos 2,4 milhões de sacas, e ligeiramente superior ao mês de janeiro, no qual exportamos 3 milhões de sacas. Então esse patamar e essa dinâmica tem que ser observada em abril, lembrando sempre que a safra nova se aproxima e, obviamente, em períodos que temos menores exportações de canéfora e pela concorrência com a indústria interna, já que ele tem sido usado cada vez mais nos blends’’.
Nos últimos tempos, muito tem se falado sobre o clima e os desafios para o cafeicultor. Marcos aponta que o café é sensível às anomalias climáticas, água, energia, temperatura, tudo isso impacta na formação, enchimento, expansão e maturação dos frutos.
“A partir da safra 2020, tivemos um período que o Brasil teve recorde de produção, maiores números de exportação, cafés sustentáveis, de qualidade, e tivemos todas as variáveis fortemente alinhadas naquele ano. Após isso tivemos altas temperaturas ainda no final de 2020, períodos secos, depois no final de 2021 tivemos as geadas. Então, tudo isso nos resultou em duas safras seguidas baixas, porque o café é uma cultura perene. Questões climáticas muito sérias afetam mais de um ano de produção, isso não é novo. Entre 2014, 2015 e 2016, tivemos o café arábica sendo afetado por seca, de 2015 até 2019, o café conilon do Espírito Santo também foi afetado por períodos extremos de seca e levamos de 3 a 4 sacas para recuperar e, hoje, já temos plena expansão dos grãos da região. Então, para essa safra, especificamente, tivemos um verão chuvoso. O IBGE e a Conab estimaram safras recordes de grãos, e aqui entra soja, milho, algodão, ampla produção estimada. No caso do café, por ser uma fisiologia muito específica, estamos com uma safra boa. Tudo indica que teremos um ciclo mais equilibrado de dados climáticos. Temos que aguardar semana a semana, dia a dia. O clima é muito difícil de prever. Se o Brasil tiver dados climáticos adequados, vamos ter boas notícias na de 2023/2024 que vamos colher e, principalmente, a 2024/2025, que, aí sim, pode ser uma safra recorde. Temos que acompanhar as questões de perto. Sempre é difícil ter uma previsão do clima, mas o Brasil depende disso para ampliar sua produção e bater o recorde de 2020. Por isso, o seguro rural é tão importante para o produtor. Liquidez na comercialização como contratos futuros, gestão correta de riscos, gestão do custo de produção é importante’’, finaliza.