Há poucas semanas um despolpador de café sem consumo de água foi lançado no Brasil e gerou interesse de muitos cafeicultores. Agora, outro modelo que começou a ser projetado no início de 2015 é assunto na comunidade cafeeira. É o descascador horizontal cereja, desenvolvido pelo Instituto Federal do Sul de Minas - campus de Machado. “Já viemos trabalhando nele há quase um ano e meio. É fruto de um projeto que foi submetido ao CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e envolveu quatro alunos do curso do Instituto”, explicou o coordenador da pesquisa, professor Dr. Carlos Henrique Rodrigues Reinato.
O desenvolvimento foi realizado inteiramente no campus do IFSuldeMinas. “Com café daqui, fizemos diversos testes de eficiência, comparando com máquinas que utilizavam pouca água”, explicou o coordenador. O objetivo era fazer uma máquina que utilizasse zero de água durante o descascamento, e avaliar a equiparidade entre a nova máquina e as que já estavam em uso. Entre as características avaliadas estão:
- Teste de condutividade elétrica – potássio;
- Umidade/teste de secagem;
- Rendimento/produtividade;
- Qualidade do café processado – análise sensorial.
Os testes seguem para alcançar o máximo de precisão possível, mas de acordo com Rodrigues, na safra 2015 a equipe já havia identificado o melhor processo até chegar ao protótipo atual. Na época o IFSuldeMinas efetivou o chamado depósito de patente para assegurar a propriedade da tecnologia. Toda pesquisa foi realizada em parceria público-privada com a empresa Pinhal Máquinas e o lançamento oficial ocorreu durante a Feira Internacional de Cafés Especiais de Norte Pioneiro do Paraná (Ficafé), em 2015.
De acordo com a empresa, a máquina é comercializada em dois tamanhos: 3mil litros e 6mil litros. Com essa venda, o IFSuldeMinas recebe em royalties por ter gerado a tecnologia.
Sustentabilidade
A busca por um maquinário que não utilizasse água durante o processamento se justifica por dois pilares: a sustentabilidade e a redução de custos. Os dois andam lado a lado na resolução encontrada pelo Instituto. “A economiza é feita justamente no custo que seria gerado no processo do CD. O descascador comum utiliza quantidade muito grande de água o que traz a necessidade de fazer tratamento de água e onera o beneficiamento”.
Já o ganho em sustentabilidade ocorre justamente por promover a eliminação dessa água residuária, possibilitando a produção de CD sem dano ambiental. “Isso também vai de encontro a todos os processos de certificação, o que era muito cobrado dos produtores. Já na parte social, outro eixo da sustentabilidade, acreditamos que essa máquina pode proporcionar a utilização para pequenos produtores e agricultura familiar. Assim, socializamos a questão do descascamento de cereja e promovemos uma melhoria da qualidade do café nessa região”, destaca o Dr. Carlos Henrique Rodrigues Reinato.
Separador de verdes
Para chegar ao processo foi preciso modificar diversos processos. “Quando iniciamos os estudos já havia alguns modelos, mas sempre com utilização mínima, e não essa proposta de economia total. O sistema transformou alguns processos que aconteciam no descascador normal em novas maneiras de retirada da casca. O principal foi a mudança no layout do equipamento, para que não precise de água para conduzir o equipamento”, explica o coordenador.
No equipamento, os grãos que saem do lavador entram no equipamento e são separados entre verdes e maduros, os cerejas. Esse processo proporciona que apenas o café de melhor qualidade seja processado dali por diante e, como a máquina em questão possui apenas o descascador, origina o café cereja descascado. O professor explica que após esse processo o produtor pode optar por secar o grão de diversas maneiras, resultando em beneficiamentos diferentes, como por exemplo, secando em tanques de fermentação obter oferecer o cereja despolpado.