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Costa Rica: bom nível tecnológico na produção de cafés

POR RODRIGO CASCALLES

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 23/01/2008

11 MIN DE LEITURA

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A cafeicultura na Costa Rica

A área de café na Costa Rica, atualmente em cerca de 96.000 ha, vem apresentando uma redução - antes com 113 mil ha - devido a ocupação para o turismo e outras culturas. A produção, igualmente, sofreu redução, de 3,0 milhões de fanegas (46 Kg) - 2,3 milhões de sacas de 60kg - para 2,7 milhões de fanegas (2,07 milhões de sacas), com diminuição da produtividade de 30 - 34 fanegas/ha (23-26 sacas/ha) para 26 fanegas/ha (19,93sc/ha).

Nos dias 15 e 16 de novembro de 2007 um grupo composto por dirigentes brasileiros participou do programa de visitas à Costa Rica - organizado pelo ICAFE (Instituto de Café da Costa Rica) -, tendo como objetivo conhecer as condições de cultivo, de economia e de organização na cafeicultura daquele país. O engenheiro agrônomo Victor Arias Chaves foi indicado pelo ICAFE para acompanhar o grupo brasileiro.

O ICAFE é o organismo do Governo responsável pelo apoio técnico à cafeicultura (Pesquisa e Assistência Técnica) e pela regulação do mercado (exportação, preços de liquidação etc.). Para isso conta com uma taxa retirada na exportação dos cafés.

Foram visitadas duas fazendas de café na região de Naranjo (Fazenda "Miramonte" e "Espiritu Santu"), as instalações administrativas da Cooperativa de Cafeicultores de Naranjo (Coopronaranjo) e sua usina de preparo do café.

Na região de Turrialba, foram visitadas as oficinas do ICAFE , um campo experimental (ensaio de combinação agro-florestal no cafezal), a coleção de variedades e o laboratório de biotecnologia do IICA (Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas, da OEA - Organización de los Estados Americanos).

As regiões mais importantes de cultivo estão situadas na Meseta Central, em "Ajaluela", "Heredia", "Naranjo", sendo introduzidas recentemente novas áreas, como a "De los Santos". A altitude varia desde 500 até 1.600 m, sendo a melhor área entre 1.000 - 1.600 m.

Na Costa Rica, a maioria dos produtores tem até 10 ha, com uma média de 5-6 ha de café/propriedade. Propriedades acima de 100 ha representam apenas 3%, porém respondem por cerca de 30% da produção. Os solos usados para café são férteis - origem vulcânica -, porém atualmente estão sendo usados, em novas áreas, solos menos férteis (oxisolos). Nas áreas de café a topografia é predominantemente montanhosa, porém existem, em menor escala, áreas planas. As chuvas, no geral, são abundantes - mais de 240 dias no ano -, na faixa de 2.000-2.200 mm por ano, de maio a novembro. Em Turrialba, por exemplo, chove cerca de 3.000 mm.

Outras culturas têm maior importância na agricultura costarriquense, como a banana e o abacaxi. O café, que está em 3º lugar, tem bastante relevância no emprego de mão de obra.

O consumo interno de café chega a 3,74 kg/pessoa/ano. No total são consumidas cerca de 270 mil sacas/ano, considerando uma população de 4,327 milhões de pessoas. No Brasil essa relação é de 5,52 kg/pessoa/ano (2006).

Região de Naranjo

A zona visitada, em Naranjo, possui cerca de 23.000 ha de cafezais, com 8.000 - 9.000 produtores. O café é sombreado em cerca de 50% da área. A outra metade é cultivada sem ou com pouca sombra. Os produtores tecnificados vinham adotando a redução de sombra, mas tendem a voltar com sombra rala devido a certificação que vêm obtendo. Já os produtores pequenos usam sombra mais fechada.

As variedades mais plantadas e aceitas são o Caturra e o Catuaí. As variedades novas, como Catimores UFV 5179 e seu sucessor, Costa Rica 95, não têm sido aceitos apesar da boa produtividade e resistência à ferrugem, pois dizem possuir má qualidade de bebida. Além disso, são mais susceptíveis à doença "Ojo de Gallo", que em 2007 vinham causando sérios prejuízos, já que a umidade e o calor estão maiores.

A colheita do café é realizada entre novembro e março. Os produtores entregam o café cereja para o preparo/beneficiamento em usinas de cooperativas (35%) ou particulares. Existem cerca de 100 usinas de preparo no país. Ultimamente estão sendo implantadas pequenas unidades de preparo nas próprias fazendas.

Fazenda Miramonte

A Fazenda Miramonte tem uma tradição de 50 anos em cafeicultura, possui 4 propriedades, num total de 320 ha de cafezais. Sua produtividade média é de 38 fanegas/ha (29,13 sc/ha).

Os plantios são feitos com pouca sombra. Predomina a associação com árvore Eritrina (Porró). Já os eucaliptos são usados em poucas áreas. Dentre as várias variedades usadas, o Catuaí vermelho e o amarelo (pouco), vêm mostrando bom vigor e produtividade. São plantadas, ainda, o Caturra e o Costa Rica 95. O espaçamento básico gira em torno de 1,70 - 2,00 x 1,0 m, com plantio de mudas duplas (2 sementes por sacola).

Existe um sistema bastante tecnificado de poda - por talhão ou por ciclos -, podando 1/3 a 1/5 por ano, com ou sem perdão (não podar em determinado ano). Com esse sistema, a produtividade nas áreas é bastante alta e se mantém todos os anos. No sistema de poda por fileira é apontada como desvantagem a maturação desigual dos frutos de café entre as mesmas. Um fato interessante é que após recepa ocorre o plantio intercalar de tomate, com tomateiros plantados em camaleões (leiras) junto às linhas de cafeeiros.

A principal doença do cafeeiro, relatada pelo especialista do ICAFE, é a Cercosporiose. Com menor importância vem a ferrugem e o "Ojo de Gallo". Nas áreas úmidas e quentes ocorre em grau severo o mal de Hilachas ou Koleroga. O controle químico do "Ojo de Gallo" é difícil. O mais eficiente é a mistura de ciproconazole mais antibiótico. A ferrugem e a cercosporiose são controladas de forma protetiva (2 a 4 aplicações de cúpricos) e muito eventualmente com complementações foliares de triazóis.

A fazenda utiliza irrigação, principalmente para facilitar a adubação e a uniformização da florada. O gerente técnico do local indicou que o uso de hidróxido de cálcio em irrigação diminuiu as doenças nos cafeeiros.

Dentre as pragas, destaca-se a broca do café, já instalada em mais de 90% da área cafeeira. Normalmente, ataca de 1-2% nos frutos da região fria e de 6-10% nas mais quentes. Em Turrialba - área marginal com 24°C de temperatura média - existem ataques em mais de 40% dos frutos. O controle da broca é por armadilhas (etanol + metanol) colocadas no campo, no pico do vôo dos insetos, resultando em boa captura. São indicadas 20 armadilhas/ha e com uso de 200-300 mg do líquido/armadilha/dia. É usada ainda formulação de B. bassiana (formulada em arroz) e introduzidos parasitóides (C. stephanoderis). O controle químico é usado (Lorsban e Endossulfan) apenas quando a infestação é maior que 5%.

Quanto aos nematóides, são importantes o M. arabicidae e o M. exigua. Existem, ainda, o M. incognita e Pratilenchus.

Fazenda Espiritu Santu

Na fazenda Espiritu Santu, pertencente à Cooperativa de Naranjo, a área de café é de 180 ha. Ela foi certificada em 2006/07 e vende para a Starbucks com prêmio. Ocorre um abatimento de 40% no imposto da terra devido às práticas de manejo adotadas para a preservação do selo.

A certificação tem como essencial a existência de sombreamento ralo. Usa-se a Eritrina. A produtividade tem sido entre 40-60 fanegas/ha (30 - 46 sc/ha) e o material cortado nas podas - 33% das fileiras, sem perdão - é picado e mantido como adubo.

A poda - já conhecida como uma prática bem utilizada na Costa Rica - complementa o manejo das lavouras adensadas. No caso dos produtores pequenos é mais adotada a poda por planta. Nos produtores mais adiantados se utiliza poda por talhão ou por rua (linha). A maioria da poda é por recepa. Observa-se na região de Turrialba a poda de desponte, conhecida na Costa Rica como poda de ramos (bandolas). O máximo de tempo que os cafezais ficam sem poda é 5-6 anos, efetuando ciclos de 3, 4 ou 5 anos (este em áreas mais frias).

A mão de obra representa 64% do custo de produção do café, que gira em torno de US$ 11,00/dia. A colheita vem sendo paga a US$ 1,30/medida de 12,5 litros. Os colhedores vem, em sua maioria, da Nicarágua e na época de colheita tiram US$ 15 - US$ 25,00/dia.

Cooperativa de Naranjo

Na Cooperativa de Naranjo (Coopronaranjo) estão 1.500 produtores associados, sendo a mesma fundada em 1968. Ela vem estimulando a qualidade por meio de diferencial no preço do café. O café na exportação está em US$ 140,00/quintal (US$ 182,60/saca de 60 kg). Na média de todos os cafés o valor é de US$ 115,00/ quintal (US$ 150,00/sc). Na Costa Rica, cerca de 70% dos cafeicultores são associados, em 30 cooperativas.

A usina de preparo de café da Coopronaranjo compreende benefício úmido e o beneficiamento final, chegando até o armazenamento e comercialização. O produtor entrega o café cereja e recebe um adiantamento - que pode ter um desconto ou redução de preço, após de avaliada a qualidade de bóias e brocas. Ele vai receber o preço final de acordo com o preço de venda, pela cooperativa, no mercado.

O café recebido vai para o separador em água e em bica, para tirar pedras. Segue para um despolpador/separador de verdes - nesse equipamento a casca é separada no peneirão -, isso no inicio da safra. O café bem maduro vai para os despolpadores tipo robô (Penagos).

A fermentação na usina pode ser feita em tanque (bem azulejado) ou, na maioria, o café despolpado é desmuscilado mecanicamente. A fermentação é boa para a qualidade, porém é prejudicada pelos grãos brocados, que fermentam, e levam a perdas de 2% no peso.

A secagem é feita em pré-secadores (tipo aeradores), em seguida os grãos vão para os secadores padiola (horizontais rotativos) e também para pré-secadores verticais grandes (igual a 6 guardiolas). O tempo de secagem dura 24 - 30 horas, com temperatura no ar de 60ºC. A vantagem do aerador é evitar que os grãos colem na parede do secador, o que resulta no defeito "crinkler" (ardido). O café seco é depositado em silos metálicos, estes com fundo de chapa perfurada e com injeção de ar e mexedor em parafuso sem fim.

O beneficiamento do café em pergaminho é feito em máquina com cilindro, à razão de 110 scs/hora. O café bom (de primeira) tem densidade acima de 70%, tendo a cooperativa conseguido média de 74%.

A Coopronaranjo possui um viveiro de mudas de café que, diferentemente de outros onde as mudas são produzidas em canteiros, formam as mesmas em sacolas grandes de plástico, arrumadas duas a duas nas linhas. As mudas são plantadas maiores, com 1 ano. São usadas 2 mudas (2 sementes ou palitos) por sacola.

Região de Turrialba

A região cafeeira em Turrialba é situada em altitudes mais baixas (500 - 1.100m), mais chuvosa e, assim, os cafeeiros dão até 12 floradas no ano, distribuídas em 5 meses. A região possui 9 - 10.000 ha de cafezais. Pela maior temperatura, ocorre intenso ataque da broca, ferrugem e Koleroga. O manejo de broca compreende colheita sanitária de frutos, uso de pulverizações com B. bassiana, introdução de parasitóides e colheita de sobra de frutos (até do chão).

Além disso, os preços são menores e tem tido falta de mão de obra. A produtividade é mais baixa também, 20 fanegas/ha (15,3 sc/ha).

No IICA foi observado um ensaio de consórcio de árvores de sombra x nível de manejo dos cafeeiros. Em relação ao pleno sol são ensaiadas 3 espécies (Eritina = Porró, Cachá e Freijó).

Até o momento (6 safras) não foram observadas diferenças significativas na produção média, havendo ligeira vantagem na produtividade para o pleno sol e para o Porró (Eritrina). A melhor combinação parece ser café com Porró e Cachá, ambas espécies de árvores leguminosas.

Uma das finalidades das árvores é a reciclagem de nutrientes. As folhas, galhos e outros resíduos da Eritrina podem fornecer anualmente 300 kg de N/ha, 250 kg de K2O e 120 kg P2O5/ha. As folhas de Eritrina tem 4 - 6% de N.

Variedades de café

O campo de "Coleção de Variedades" (espécies de café) do IICA possui 300-400 introduções de materiais de arábica silvestres, variedades de arábica comerciais, de C. canephora, de C. liberica, C. salvatrix e outros. O potencial da coleção para melhoramento genético é grande, especialmente devido às mudanças climáticas, previstas pelo aquecimento global.

Os itens destacados da coleção foram o Geisha e o Villa Lobos (porte baixo, boa produtividade, boa qualidade e maturação tardia), pelo interesse na qualidade de frutos; seleções de robusta e de C. liberica e os híbridos silvestres, oriundos da Etiópia e Sudão que, por cruzamentos com variedades comerciais de arábica, deram origem, na F1, a plantas com boas características como: vigor, alta produtividade, resistência à ferrugem, tolerância a nematóides e boa qualidade de bebida.

Foram observados 2 materiais silvestres (ET45 e ET35), que deram origem a 20 híbridos, os quais, após reprodução vegetativa (embriogênese somática) foram ensaiados em várias regiões, mostrando boas características produtivas. As plantas silvestres pertencem a 4 grupos ou famílias, de constituição genética semelhante aos Bourbons. Esses híbridos estão sendo, por meio de contrato entre o ICAFÉ e IICA, multiplicados em maior escala para atender aos cafeicultores.

Conclusões e recomendações sobre a visita à Costa Rica

1.A cafeicultura na Costa Rica possui um bom nível tecnológico, no manejo das lavouras e na produção de qualidade superior de cafés. Dentre os destaques, estão o plantio adensado, as podas bem definidas, a evolução nas variedades, a conservação de solo, as práticas de arborização e manutenção ecológica das regiões cafeeiras.

2.A evolução tecnológica tem sido impulsionada pela continuidade da pesquisa e difusão de tecnologia, integrada em um organismo especializado (ICAFÉ). Como resultado, a cafeicultura da Costa Rica, apesar dos problemas de mão de obra e de renda, tem mantido grandes produtividades em seus cafezais.

3.O sistema de preparo do café centralizado favorece a padronização da qualidade e, provavelmente, reduz o custo do preparo.

4.A estrutura cooperativista está favorecendo o apoio técnico-econômico ao pequeno produtor.

5.Muitas práticas, atualmente usadas no manejo de cafezais na Costa Rica, podem ser adaptadas às regiões cafeeiras montanhosas no Brasil e vice-versa. As práticas que podem ser indicadas para adaptação são: a arborização, as podas (visando facilitar a colheita), a conservação dos solos e o preparo do café por via úmida.

Artigo elaborado a partir das informações do relatório da viagem, enviado ao CaféPoint por José Braz Matiello, da Fundação Prócafé/Mapa.

RODRIGO CASCALLES

Eng. Agrônomo (ESALQ/USP) e Executive Coach (Sociedade Brasileira de Coaching). Tem por objetivo contribuir no aumento da sustentabilidade e dos resultados positivos na agricultura.

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ANGÉLICA SILVESTRE LOUBACK

LAJINHA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/02/2008

Este tipo de observação à respeito das tecnologias usadas na cafeicultura da Costa Rica são super válidas para que ocorram trocas de experiências entre nós e nossos vizinhos.Que bom que o Sr. José Braz Matiello estava presente, ninguém melhor do que ele para fazer inovações.
Angélica.

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